imagem: Jia Lu, Illuminated

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(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A MÍDIA DIANTE DA CRISE




...Na manhã desta segunda-feira, Ignacio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, Sandra Russo, do jornal argentino Página 12, Marcos Dantas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Pascual Serrano, do site Rebelión, Bernardo Kucinski, professor da Universidade de São Paulo (USP), Joaquím Constanzo, da agência de notícias IPS, Altamiro Borges, do site Vermelho, Luis Hernández Navarro, do jornal mexicano La Jornada, e Joaquim Palhares, diretor da Carta Maior, debateram o comportamento da mídia na recente crise financeira internacional durante a mesa “A Mídia e a Crise”.

Para Ignacio Ramonet, a recente crise financeira internacional destroçou o que ainda restava do neoliberalismo e arrastou consigo boa parte da credibilidade e do poder dos grupos midiáticos, particularmente da imprensa escrita, em função da estreita aliança entre mídia e poder econômico. O tratamento dado pela mídia à crise não teria sido mais do que o reflexo de seu próprio desespero, pois toda crise capitalista tende a se refletir como uma crise nos meios de comunicação. Particularmente em relação à América Latina, destacou que o contexto político não é mais o mesmo, o que tem influído no tratamento dispensado à mídia hegemônica e fortalecido as mídias ditas livres, ou alternativas.

Sandra Russo identificou a existência de um claro movimento de ampliação da cidadania em curso na América Latina, o que tem gerado resistências em setores da classe média e, sobretudo, na elite econômica. Mídias livres devem aproveitar esse momento histórico para influir política e culturalmente nesse novo contexto. Segundo Russo, a mídia tradicional não comunicou adequadamente a realidade da crise financeira internacional por viver fechada sobre si mesma.

Já o professor Marcos Dantas expressou temor de que a institucionalização do termo “mídia” apague responsabilidades. Para o professor carioca, a mídia é feita por profissionais que diariamente fazem escolhas conscientes, e não por um ente abstrato que comanda suas ações. O mundo é visto pelos olhos de quem faz tais escolhas, donde a necessidade de se denunciar essa estrutura. Em função de sua natureza essencialmente antidemocrática, é preciso se buscar novos caminhos e espaços a fim de com ela disputar a agenda do debate público. Um desses caminhos seria a definição de políticas públicas capazes de financiar a multiplicação de vozes representadas pelo movimento de Mídia Livre.

As insatisfatórias explicações sobre a crise
Para Pascual Serrano, a mídia é um dos responsáveis pela recente crise internacional porque faz parte da estrutura financeira do modo de produção capitalista. A sociedade civil organizada sempre defendeu meios de controle sobre a economia, mas teria sido solenemente ignorada pela mídia tradicional, que estranhamente não ofereceu explicações satisfatórias diante da crise, muito embora seus “especialistas” tenham estado sempre de prontidão quando o caso era legitimar a economia capitalista. A estratégia escolhida pela mídia diante da crise, afirmou Serrano, foi a de “vitimização”, como se não existisse responsável algum pela bancarrota capitalista, mas somente vítimas.

Para Serrano, a crise financeira internacional também desvelou a crise do modelo de comunicação vigente: uma “crise de autoridade”, diante da falência da dita objetividade jornalística, e uma “crise de informação”, manifestada sobretudo pela superficialidade com a qual determinados temas são tratados. A Mídia Livre, finalizou Serrano, é o legítimo representante da sociedade civil.

Bernando Kucinski afirmou que a grande imprensa, em um primeiro momento, tentou naturalizar a recente crise internacional através de um discurso genérico, que não distribuiu responsabilidades. Depois, essa mesma imprensa teria tentado alimentar a crise através de um discurso sensacionalista e catastrófico, fato que, especialmente no Brasil, expôs com clareza os objetivos políticos de tal estratégia. Em grande parte isso se deve, continua o professor, à estratégia de “financeirização” do jornalismo econômico brasileiro, patrocinada pelo capital financeiro e pelos grandes bancos, que teria domesticado os setores da imprensa encarregados das notícias sobre economia. Por mais contraditório que possa parecer, finalizou o professor, o melhor tratamento jornalístico dado à crise foi o da imprensa dos Estados Unidos, que vinculou sua origem ao neoliberalismo.

Para Joaquím Constanzo, ao diminuir responsabilidades, a grande mídia tentou ocultar o fato de que a recente crise financeira internacional significou o fracasso do modelo neoliberal. Segundo Constanzo, a Mídia Livre precisa propor novas pautas no debate público latino-americano, mas a disputa pela hegemonia só será possível se esse enfrentamento for profissionalizado.

A responsabilidade das corporações midiáticas perante a crise também foi destacado por Altamiro Borges. Odiscurso de desmonte do papel do Estado patrocinado pelo neoliberalismo foi abraçado por quase todas elas, lembrou. Ele observou ainda que já é possível se perceber um certo clima de pânico no tratamento dispensado pela mídia à recente crise, discurso que legitimaria prováveis “medidas de ajuste” capitalistas como, por exemplo, a conhecida estratégia das demissões em massa. O combate a essas estratégias, acrescentou, passa necessariamente pelo fortalecimento do movimento de Mídia Livre, que não pode se contentar em ser pequeno. É preciso organizar os fóruns regionais de mídia livre, uma das decisões do encontro nacional de midialivristas ocorrido em junho do ano passado no Rio de Janeiro, e se organizar a disputa pelas verbas publicitárias oficiais, em função de seu caráter público.

Para Luis Hernández Navarro, a crise financeira internacional afetou a lógica de funcionamento da mídia tradicional, que antes disso já vivia sua crise particular, cujos principais sintomas seriam a crescente diminuição das vendas de jornais impressos, a monopolização do mercado, a informação tratada como mercadoria, e não como bem público, a incapacidade de lidar com as mudanças profundas que atualmente afetam a comunicação e a perda de prestígio da profissão. Os meios alternativos de comunicação, segundo Navarro, devem almejar a disputa da agenda do debate público com a mídia tradicional e não abrir mão de lutar pela definição de políticas públicas capazes de manter a informação como um bem público.

Os desafios políticos do movimento de Mídia Livre
Joaquim Palhares, diretor da Carta Maior, observou que o atual cenário político internacional parecia inimaginável há oito anos, quando o primeiro Fórum Social Mundial foi realizado sob o peso da então inquestionável hegemonia neoliberal. Na América Latina, particularmente, a mídia hegemônica sempre foi o sustentáculo de tal discurso, em função de sua inegável aliança com o capital financeiro internacional. Porém, destacou Palhares, o mundo mudou, e a internet teria cumprido um papel fundamental nesse processo, que fez de um negro o presidente dos Estados Unidos e de um metalúrgico o presidente do Brasil.

O Fórum de Mídia Livre, acrescentou, precisa construir e fortalecer espaços, sem jamais esquecer o fato de que o enfrentamento com a mídia hegemônica possui um caráter político. Daí a necessidade da articulação de iniciativas concretas de mídia livre tanto na América Latina quanto em nível mundial.

O Fórum Mundial de Mídia Livre é uma conseqüência do I Fórum de Mídia Livre, realizado no Rio de Janeiro em junho de 2008. Reunindo mais de 500 ativistas, jornalistas, professores, estudantes e empresários, o evento significou uma inédita união política entre os principais veículos independentes de mídia brasileiros, sistematizando formas conjuntas de atuação.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15515

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