imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

BLOG COM MEUS POEMAS:

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/



segunda-feira, 31 de maio de 2010

EM NOME DA ROSA...

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AQUI E NA MINHA VIDA só posso apontar para uma Causa Comum A TODAS AS MULHERES, que não é subjetiva, nem pessoal, mas O Amor da Deusa-Mãe e da Mulher ancestral...da Mulher inteira e liberta, um SER TOTAL, independentemente de quem ama ou como ama à flor da pele...

A minha causa é a da Deusa-Mãe-Mulher ou da deusa em cada mulher...
Mãe, amante, filha, irmã, velha, nova, criança, negra ou branca...

É ao Feminino por excelência, ao Eterno, que eu apelo, como quem apela à Grande Mãe, a mesma dos cultos pagãos ou a da adoração à Virgem Santa e Rainha Mãe dos católicos...
Com toda a ternura humana, digo-lhe que amo as mulheres do meu pais e do Mundo!
Sem sombra de pecado ou preconceito, sem rivalidade!

Para mim não existem diferenças de pele como não existem diferenças de sexo...
Para mim, não há pretos nem brancos, ricos ou pobres, nem gays nem lésbicas...

Há só uma raça ao cimo da terra, há só uma sexualidade, como só há um ar que respiramos...e é desse ar, éter ou prana que se trata...da essência. Do Amor sem equívocos, do Amor que nos transcende à causas ou crenças!

As diferenças humanas são irrelevantes face à Maturidade ou a Consciência. Quando um ser humano for um SER HUMANO, não haverá lugar para lutas de diferenças; a meu ver teríamos de lutar para sermos apenas todos SERES HUMANOS, ainda que primeiro tenhamos de elevar a Mulher à sua condição REAL e de paridade com o homem.

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“A esquerda e a direita” - um mesmo corpo...ou um mesmo povo.
Uma mão que esconde a outra...a que dá e a que recebe.

As duas Portas de uma mesma casa em que os extremos se tocam...
A velha luta entre o Pai todo poderoso e a Mãe repudiada...
O masculino dominador e o feminino ultrajado!

Os irmãos que se abraçam entre o amor e o ódio...
A extrema direita e a extrema esquerda uma contra outra,
entre a repulsa e a raiva que se digladiam e matam...

No Coração Humano, ao centro, a ROSA SECRETA, chora.
Salva-nos o Símbolo hermético, humilhado pelos séculos...




http://rosaleonor.blogspot.com/2005_02_01_archive.html

Imagens:
* My Beautiful Peony, Sami Edelstein
* Rosa, google imagens

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O MUNDO SEM A MULHER!!!

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O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê?
O sujeito quer ficar famoso pra quê?
O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?

A verdade é que é a mulher o objetivo do homem.
Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função da mulher.Vivem e pensam em mulher o dia inteiro, a vida inteira.
Se a mulher não existisse, o mundo não teria ido pra frente.
Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro homem, para conquistar sujeito igual a ele, de bigode e tudo.
Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.
Já dizia a velha frase que 'atrás de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher'.
O dito está envelhecido. Hoje eu diria que 'na frente de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher'.
É você, mulher, quem impulsiona o mundo..
É você quem tem o poder, e não o homem
É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das férias.
Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem-sucedida, ficou na frente de todos os homens.

E, se você que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma mulher.
Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua. Só homens.
Já pensou?
Um casamento sem noiva?
Um mundo sem sogras?
Enfim, um mundo sem metas.

Arnaldo Jabor



http://clafilhasdalua.blogspot.com/2010/05/o-mundo-sem-mulheres.html

Imagens:
Ana Luisa Kaminski:"Azul Musical" e "Paraiso Azul"

quinta-feira, 27 de maio de 2010

BOUDICCA - A RAINHA GUERREIRA

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Esposa, mãe, rainha e líder de uma das mais violentas rebeliões
levadas a cabo contra o domínio romano na história de Britania.
Este espaço revela-nos o que se conhece sobre Boudica, a rainha dos Icenos.
A sua história e a da sua tribo foi recolhida pelos historiadores romanos,
estudada a fundo pelos peritos e examinada pelos arqueólogos
que continuam em busca de pistas sobre esta guerreira,
cujo exército fez tremer os Romanos.
Quando morreu o rei Prasutagus, a tribo icena,
que convivia pacificamente com Roma naquela época, foi brutalmente atacada:
Golpearam a rainha Boudica e violaram as suas filhas.
Em busca de vingança, o exército de Boudica atacou as localizações romanas,
incluído Londres, florescente centro de comércio romano da época, que foi destruído.
Neste artigo é desvendada a extraordinária história de Boudica,
a sua luta para libertar as tribos da Britania dominada pelos Romanos
quando estava em jogo tanto a sua liberdade e a sua independência,
como a sua singular cultura celta.


Falar de Boudicca é falar da conquista da Britânia (região que hoje corresponde a Inglaterra e a Escócia), pelos romanos e para entender seu o papel na História, faz-se necessário explicar a situação dessa Província em sua época.
Em 43 d.C. o Imperador Cláudio conquistou o território de reduto celta conhecido como Britânia. Essa não fora a primeira incursão romana pois quase um século antes, Júlio César já havia aportado na ilha após a conquista da Gália, conseguindo obter bons resultados levando algumas tribos celtas a tornarem-se reinos clientes. Entre essas tribos encontrava-se a Iceni.
Quando Cláudio expandiu a conquista do território subrepujando as tribos celtas rebeldes, os Iceni gozavam de certas regalias devido a sua posição pró-Roma, o que incluía a continuar a cunhar suas próprias moedas, ficando acordado que pagariam tributos e forneceriam suprimentos para os soldados romanos.

Porém, em 59 ou 60 d.C. o rei Iceni Prasutargo morre, e como não tinha filhos homens, deixa o reino sobre a autoridade de sua esposa Boudicca e sua herança as suas duas filhas, tendo o cuidado de separar o valor correspondente aos tributos romanos do restante dos bens deixados, provavelmente pensando nos dotes para os futuros esposos destas.
Como Roma não reconhecia a linha de sucessão dinástica através das mulheres, a morte de Prasutargo é entendida como o fim do tratado e o Imperador Nero ordena que o território seja anexado ao restante da Província.
As terras conquistadas foram divididas, e como a lei romana considerava ilegal dar bens pessoais para outros sem o consentimento do Imperador, esposa e filhas perdem todos os seus recursos.
Sem ter como pagar os tributos em sua regência, Boudicca e suas filhas são pegas para servir de exemplo de como o Império tratava os seus subordinados.
Antes de adentrar nos acontecimentos que levaram Boudicca a liderar um levante contra a ocupação romana, faz-se necessário descrever alguns fatos pertinentes que foram propícios para toda a situação posterior.

A Britânia como reduto celta era formada por diversas tribos e é fato que não eram coesas, havendo desde antes da chegada dos romanos, disputas territoriais.
Após Júlio César obter aliança com algumas tribos como já dito acima, o Imperador Cláudio em sua conquista obteve segundo inscrições em seu Arco do Triunfo a rendição voluntária de onze tribos que tornaram-se reinos clientes. Todavia, a conquista romana não foi homogênea havendo tribos que nunca se renderam à Roma e conseguinte mantinham pequenas rebeliões.

Em paralelo aos acontecimentos em território Iceni o governador da Província, Suetônio Paulino estava em batalha por ordens de Nero contra o que era considerado até então o último reduto Druida na ilha de Mona (atual Anglesey).
Em Camulodunum (atual Colchester), a maior cidade da Britânia e capital da tribo dos Trinovantes, pequenas rebeliões ocorriam devido ao fato de estarem descontentes com os maus tratos, taxas muito altas e as confiscações de terras. Em resumo, a Britânia seguindo o exemplo da Gália no tempo de Júlio César (a resistência gaulesa liderada por Vercingetorix) estava em ebulição e seguindo a tradição romana de pegar bodes expiatórios para dar o exemplo do que acontecia aos que ousavam desafiar o poder do Império, encontraram na situação de Boudicca a oportunidade de demonstrar o tratamento destinado aos opositores.
Os Icenos, uma tribo de druidas e caçadores, era um povo bravo e apaixonado dirigidos pelo seu esposo, o corajoso rei Prasutagus, que embora subjugados à força do império romano, conseguiu dos invasores que taxações e requisições em excesso não se aplicassem ao seu povo
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A HISTÓRIA

O ano é 61 CE, Nero é o Cesar em Roma, os romanos controlam a Bretanha.
Além de arrecadarem impostos pesados, no décimo quarto ano da invasão, tentaram escravizar os povos celtas.
O novo governador de Bretanha era Gaius Suetonius Paulinus.
Suetônio Paulino estava em batalha por ordens de Nero contra o que era considerado até então o último reduto Druida na ilha de Mona (atual Anglesey).
Em Camulodunum (atual Colchester), a maior cidade da Britânia e capital da tribo dos Trinovantes, pequenas rebeliões ocorriam devido ao fato de estarem descontentes com os maus tratos, taxas muito altas e as confiscações de terras.
Então Nero designou Suetonius para adotar uma postura de agressiva frente aos bretões e mantê-los na submissão. Nero tinha dado carta branca a ele.
A primeira ação de Suetonius foi queimar os Bosques Sagrados dos bretões bárbaros. Isto contrariava os métodos de ocupação romanos habituais. Normalmente eles deixavam que as regras do lugar permanecessem e estabeleciam um tratado de reis-vassalo. O costume era deixar as religiões intatas, colocando Cesar que como o último suplemento à lista local de Deuses e Deusas.
A queima dos Bosques Sagrados foi somente uma intolerância dos Romanos. O marido de Boudica, o rei Prasutagus, foi quem assinou um tratado que paz com o herdeiro de Nero.
Quando o rei Prasutagus morreu, o procurador Decianus Catus recusou-se a transferir o poder a sua esposa ou filhas.
Porém com sua morte os excessos do Império contra os bretões reacenderam-se e a rainha passou a chefiar sua tribo nem um pouco disposta a ceder ao domínio romano.
Em 60 ou 61 d. C., soldados romanos estacionados próximos a tribo Iceni invadem o território, assassinam nobres.
Ao tentar resistir, Boudicca foi capturada e torturada, açoitada, e muitos deles estupram suas filhas na sua frente.
Tácito, o historiador romano, ainda complementa escrevendo nos seus Anais: "a sua tribo e a casa foram pilhadas como os prêmios da guerra....a sua viúva Boudicca foi fustigada e suas filhas violadas. Os chefes Icenos foram privados das suas propriedades hereditárias como se tivessem dado aos Romanos o país inteiro. Os próprios parentes do Rei foram tratados como escravos."
Assim, durante o governo de Nero (37-68), a Bretanha Romana viu explodir uma revolta que tomou grandes proporções, teve enormes conseqüências e se tornou a ameaça mais perigosa de Roma em seus domínios do norte: a Revolta de Boudica (60-62). Estava enfim sacramentado o fato histórico que ficou conhecido como A Revolta de Boudicca.

Convencida que Roma ordenara a destruição de todos os Icenos, fugiu dos domínios do inimigo com suas filhas e jurando vingança e passou a incentivar seus habitantes a rebelar-se contra as forças de ocupação romanas.
Com a valentia de uma mulher de espírito celta humilhada vingativa, assumiu não só o controle dos Icenos, mas também da tribo vizinha, os Trinobantes (ocasionalmente inimigos) no sul, e Boudicca conduziu uma linha que marchou de Norwich, a Colchester (Comolodum). Tomaram Albans e atacaram Londres.
Em sua ira essa grande rainha conseguiu o que apenas Vercingetorix na Gália havia conseguido quase um século antes; unir tribos celtas.
Sob suas ordens os celtas caíram sobre os romanos e a todos que fossem pró-Roma. Acredita-se que o exército de Boudicca era composto por mais de 100.000 pessoas e Tácito afirma que mais de 70.000 pereceram nas mãos dos rebeldes. Esse levante resultou na destruição total de três cidades.
Juntos, destruíram as maiores cidades bretãs da época dos romanos na Grã Bretanha, Camulodunum, atual Colchester, e Londiniun, atual Londres, ) e de Verulamium (atual St. Alban) deixando-as incendiadas, todas queimadas sem restar uma casa em pé. Queimaram acampamentos romanos e ate sua própria gente, colaboradores
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Foi após a conquista desta última, que houve um confronto entre as forças de Boudicca e as legiões romanas sob o comando de Suetônio.
O imperador enviou um dos seus mais competentes comandantes militares, o general Suetonius Paulinus, para destruir os revoltosos.
Suetonius que estava no norte da Inglaterra em luta contra várias outras tribos célticas, escutando o que Boudica fizera, marchou para Londres com as suas legiões que excediam em número os exércitos dos celtas.


Os romanos só conseguiram vencer os destemidos guerreiros e guerreiras celtas após muitas batalhas sangrentas.
A batalha de Watling Street (provável local, segundo muitos historiadores) foi derradeira para abafar o movimento contrário a Roma.
Apesar de seu contingente numeroso, o exército de Boudicca desconhecia totalmente as táticas de guerra dos romanos e não resistiu perante a estratégia de Suetônio.
As legiões romanas dizimaram em torno de 80.000 bretões entre homens, mulheres e crianças e até mesmo animais, o que era uma prática habitual ao esmagar uma rebelião.
A grande rainha é descrita usando sua tartan (tecido xadrez típico) e completamente armada, segundo Tácito, “numa aparência quase aterrorizante”.
Quem assistiu o filme Coração Valente, que conta a história do escocês William Wallace, vai recordar que na batalha final, ele, assim como seus homens pintam o rosto e o corpo de azul, isso deve-se a tradição celta que era mais comum entre os Pictos da Escócia.
Na última batalha de Boudicca, seu exército seguiu a tradição pintando seus corpos de azul, muitos deles nus, portanto lanças e espadas enquanto brandiam e gritavam ao som de tambores e cornetas.
A tradição diz que Boudicca sobreviveu a batalha para retornar a sua casa e, junto com suas filhas, se envenenaram, pois seguramente se fossem capturadas jamais teriam clemencia por parte do Imperador e certamente seriam ainda mais barbarizadas até serem executadas.


A história empurrou para seus calabouços a imagem dessa Grande Mulher que fez valer seu poder e que foi tão respeitada pelos seus.
Sua memória foi resgatada no século XVI pela rainha Elizabeth I que interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre, transformou Boudicca em ícone histórico.
Abaixo encontra-se o discurso de Boudicca ao seu exército antes da última batalha; o texto é de autoria do historiador romano Tácito em sua obra Annales.
Lembrando que o autor pertencia ao lado conquistador e portanto sua visão não é de forma alguma imparcial. As palavras, supostamente proferidas por Boudicca, refletem principalmente a idéia de romanização e conseguinte separando bretões e romanos na divisão étnica do “Nós” e o “Eles”.


Essa não é a primeira vez em que os Bretões foram liderados por uma mulher. Porém agora ela não veio gabar o orgulho de uma longa linhagem de ancestralidade, nem mesmo para recuperar seu reino e a riqueza saqueada de sua família. Ela tomou o campo, como os miseráveis entre eles, para fazer valer a causa da liberdade pública, e para buscar vingança por seu corpo costurado por vergonhosas faixas, e suas duas filhas abominavelmente arrebatadas.

"Para o orgulho e arrogância dos romanos nada é sagrado; tudo é sujeito à violação; os velhos suportam o açoite, e as virgens são defloradas. Mas os deuses vingadores estão agora à mão. Uma legião romana atreveu-se a encarar os bretões guerreiros: com suas vidas eles pagaram por sua impetuosidade; aqueles que sobreviveram à matança daquele dia adoeceram escondidos atrás de suas trincheiras, meditando em nada além de como se salvarem em vergonhosa fuga.

Da zoeira da preparação, e dos gritos do exército bretão, os romanos, mesmo agora, encolhem-se aterrorizados. Qual será o caso deles quando o ataque começar? Olhem ao seu redor e vejam seu contingente. Contemplem o magnífico espetáculo dos espíritos da guerra, e levem em consideração as razões pelas quais nós erguemos a espada da vingança. Neste local nós devemos também conquistar, ou morrer com glória. Não há alternativa. Embora uma mulher, meu propósito está fixo; os homens, se agradá-los, poderão sobreviver com infâmia, ou viver em escravidão.”


Houve muitas lendas do que foi dito e feito, ao final os Iceni foram derrotados, e os romanos não mostraram nenhuma clemência, destruindo a todos.
Boudica sabia o que os Romanos fariam com líderes militares presos, mandando-os a Roma para ser arrastados pelas ruas, postos a exibição pública, escravizados e vivendo o resto dos seus dias em cativeiro e desonra. Ela tomou veneno para não encontrar este fim.
A história registra que a preferiu a morte ao domínio romano envenenando-se, mas sua tenacidade e persistência a colocaram entre as grandes guerreiras da história.
Sabe-se muito pouco sobre ela e o pouco que se sabe foi tirado de escavações arqueológicas e do historiador romano Dio Cassius, que a descreveu como sendo de estatura muito alta, de aparência muito assustadora, extremamente feroz em seu olhar, com voz áspera e uma grande massa de cabelo ruivo forte que caía até seus quadris.
A Rainha Guerreira desapareceu da história durante a Idade Média, mas foi redescoberta no século XVI pela rainha Elizabeth I, interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre e foi transformada em ícone histórico.
Hoje ela é o símbolo romântico de revolta e vitória à vista da adversidade.
Há uma estatua dela,em bronze, com longos cabelos e um perfil desafiador. Esta em frente a Casa do Parlamento
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Da Rainha da tribo dos Icenos, uma das mulheres que mais se destacou na história, líder de uma das mais violentas rebeliões que enfrentou o Império Romano e cuja história tem sido estudada por historiadores e arqueólogos através dos anos, ainda hoje continuam sendo descobertas coisas sobre seu passado.



http://caminhocelta.blogspot.com/2009/09/boudicca-historia.html

terça-feira, 25 de maio de 2010

A SERPENTE CÓSMICA

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Como acompanhantes de todas as grandes deusas, encontramos os animais, que se postavam ao lado da Grande Mãe de forma tão proeminente que são tidos como sua epifania: a simples presença do animal evoca a presença da deusa.

Estes animais, longe de serem totens ou divindades individuais de crenças politeísticas, corporificam a própria divindade, definindo sua personalidade e exemplificando seu poder.

Por seu movimento e renovação cíclica, a serpente foi o animal mais freqüentemente associado com o fluir do sangue menstrual. Pelo hábito de recolher-se nas reentrâncias da terra para hibernar, bem como se desfazer anualmente de sua pele, como um recém-nascido se desfaz da placenta, a serpente é considerada símbolo de continuidade da vida e da conexão com o mundo profundo.

Um símbolo universal altamente complexo, encontramos a serpente na origem de muitas mitologias. Como emblema das divindades auto-criadas, representa a fonte de todas as potencialidade, tanto materiais quanto espirituais. E neste sentido também representa a primordial natureza instintiva humana, a força de vida potencial e animadora que surge das profundezas do ser.

Como uma das muitas epifanias da deusa, quer represente o sol ou a lua, a vida ou a morte, a sabedoria ou a paixão cega, o reino espiritual ou o reino físico, nos relatos cosmogônicos este animal primordial e misterioso habita o oceano primordial, do qual tudo emerge, ao qual tudo retorna.

Como uroboros, a serpente que morde seu rabo, simboliza o caráter cíclico de todo ser, o fim que se une ao começo. Neste sentido, ainda faz parte de uma visão integrada da vida humana. Sua associação com vida, fertilidade, rejuvenescimento e regeneração faz dela um símbolo de imortalidade, razão pela qual é sempre encontrada junto à Árvore da Vida, possibilitando o acesso a ela.

Nas diferentes partes da África, a força primordial da criação é concebida como a "serpente cósmica", uma das criaturas mais amplamente encontradas nas diversas mitologias. No começo, o poder serpentino se enrolou em torno da terra disforme, mantendo-a coesa, e ainda tem essa função. Ela se move constantemente, seu fluxo espiral pondo os corpos celestes em movimento. Seu poder criativo está intimamente associado com às águas e o arco-íris.

Na cosmologia andina, as serpentes representam o mundo profundo (ukupacha). Entre os incas do Peru, todas as coisas retornam ao útero da Mãe Terra para serem transformadas. Entre os astecas, a mãe das divindades era Coatlicue, que dá a vida e a toma na morte. Nos mais antigos dias dos povos do México, a mãe Coatlicue escondia-se no nebuloso topo da montanha no país de Aztlan, enquanto seus servos-serpente viviam dentro das cavernas da montanha. Desta casa secreta ela deu nascimento à luz, ao sol e a todas as estrelas no céu

Representando bem mais do que fertilidade sexual, as serpentes hibernam no inverno e reaparecem na primavera. Por isso, eram consideradas pelos egípcios como a vida da terra. Nos livros dos mortos egípcios, é dito que ela oscila entre amar e odiar os deuses. Por este seu aspecto duplo, era usada para representar poderes sagrados benéficos e hostis. Quando benéfica, estava protetoramente ereta, como na fronte dos faraós. Quando hostil, era a serpente Apófis, que diariamente ameaçava o sol em sua trajetória noturna.

As divindades-cobra eram sempre femininas. De registros do antigo Egito, sabemos que a imagem da cobra era o sinal hieroglífico para a palavra "deusa" e que a cobra era conhecida como "o Olho", uzait, um símbolo de insight místico e sabedoria.

Na tradição aborígine australiana, o poder do sangue menstrual é designado e identificado mitologicamente como uma grande serpente. Esta força semelhante ao arco-íris, de cor vermelho-sangue, é entendida como característicamente maternal.

Na mitologia da terra de Arnhem, no centro-norte da Austrália, "tornar-se um arco-íris" é um encanto menstrual. A serpente representa, simbolicamente, o poder criador universal manifestado pelo sangrar da mulher. Descrita como amante da água, detectora de odores, envolvendo as mulheres e, acima de tudo, amante de sangue, a serpente "não é outra coisa que o poder simbólico da ‘inundação’ ou do ‘fluxo’ das mulheres".


(Texto extraído do livro Rubra Força – Fluxos do poder feminino – de Monika von Koss)

http://clafilhasdalua.blogspot.com/2008/11/serpente-csmica.html

domingo, 23 de maio de 2010

O CAMINHO DA INDIVIDUAÇÃO



Para Carl Gustav Jung a individuação é o grande sentido da vida.

O filme Matrix nos ensina, ou, apenas esclarece o que já aconteceu para alguns de nós. A mudança de padrões e valores e a importância do Amor Compartilhado.

Trilhar o caminho da individuação significa deixar-se conduzir por uma sabedoria maior que Jung denominou Self (o si-mesmo), o centro ordenador e ao mesmo tempo a totalidade de cada um de nós. Aquele que se individua se diferencia da multidão inconsciente e adquire autonomia, tornando-se uma totalidade psicológica, autoconsciente, sem divisões internas: um “in-divíduo”. Para Jung, um futuro melhor para a humanidade dependerá de quantos conseguirem se individuar, integrando o Consciente com o Subconsciente e como Supraconsciente.

Vivemos na Matrix, um mundo onde todos estão vivendo uma programação coletiva, imersos na massa inconsciente, feito uma boiada onde a individualidade é suplantada pelo coletivo, ou seja, pelos programas mentais desenvolvidos pelos diferentes Sistemas Organizados de modo Arbitrário, políticos, sociais e religiosos. Um dia uma pessoa começa a desconfiar de que talvez exista algo mais e passa a procurar respostas às suas dúvidas. Passa a viver uma realidade pessoal que difere da realidade coletiva e, por essa razão passa a ser considerado diferente, rebelde, ou, herege.

A individualidade nascente sente-se dividida pois ao mesmo tempo que a nova percepção e o novo nível de consciência o fascina e atrai, o velho mundo acena com suas velhas e "seguras certezas" coletivas, através dos Sistemas Organizados de modo arbitrário. Está estabelecido o conflito. Mais uma vez A Consciência pode sentir medo de prosseguir, tais as dificuldades que os demais estabelecem.

Os personagens que representam o novo estado de consciência têm de ser mais enérgicos e o obrigam a “desrastrear-se”, a isolar-se. Depois, no auge de seu sofrimento psíquico, ao lhe ser exposta a verdadeira realidade em que vivia, reluta uma última vez em aceitar a mudança. Mas já é tarde. Estava definitivamente transposta uma fronteira decisiva de sua transformação pessoal.

Não é fácil o processo de individuação. Conhecer e realizar toda a potencialidade de si mesmo requer coragem, perseverança e honestidade. São muitos os obstáculos que surgirão durante a jornada.

A maioria dos que são instigados a mergulhar em si mesmos termina desistindo ante os primeiros desafios e retorna depressa às velhas seguranças das certezas conquistadas: o velho mundo, mesmo limitado e com todos os seus problemas, é mais facil de viver que um mundo novo e desconhecido.

Mudar requer sempre disposição para reconhecer os próprios defeitos e isso dói. Dói despregar-se daquilo em que sempre acreditamos, principalmente em relação a nós mesmos. Dói perceber que na verdade não somos perfeitos, que temos falhas e que, para prosseguir, temos de nos livrar delas. Autoconhecimento traz muitas dores mas é a única estrada que pode nos libertar e levar à realização pessoal mais verdadeira, onde concretizamos toda nossa potencialidade adormecida.

A nova Consciência está insatisfeito com sua vida e vê surgir a grande oportunidade que sonhava. Vê que sua intuição lhe falava a verdade e que a realidade é bem maior. Conhece novas pessoas e idéias que a princípio parecem absurdas. O processo é difícil e ele várias vezes pensa em desistir mas aos poucos habitua-se à sua nova auto-imagem. Com o tempo vê aflorarem novas forças e habilidades e se sente cada vez mais confiante. No entanto, crer que é o Predestinado de que fala a profecia já é demais, não cabe.

Só mudamos se estamos insatisfeitos. Se não, por que mudar? Quando nossos valores ficam obsoletos e as verdades em que críamos já não servem, a vida nos impõe a transformação.

Intuímos que há algo errado em nossa vida mas não sabemos precisar o que seja. Aos poucos certos indícios se apresentam e já não temos como esconder de nós mesmos: o caminho está à frente e ele nos pede uma confirmação. A vida nos fará passar por inúmeros testes, nos apresentará pílulas azuis e vermelhas. Precisamos estar atentos para seguir a intuição. Ela sabe o caminho.

É nesses momentos decisivos que surgem os autoboicotes, tão comuns. Fingimos não ver. Fugimos de um exame de consciência e refugiamo-nos em velhas e cômodas "verdades". Várias vezes viveremos o dilema: o novo se apresentará e, os velhos hábitos nos chamarão de volta, esticando-nos incomodamente entre dois pólos que nos querem a todo custo. É sempre um instante delicado pois se continuamos nos recusando a enfrentar a verdade, a vida chegará a um impasse insuportável e seu curso natural será barrado. Vêm daí as doenças e fracassos como mecanismos da psique auto-reguladora para nos obrigar a uma interiorização, para repensar e retomar o rumo.

Velhos aspectos da personalidade, que já não nos servem mais, terão de dar espaço a novas forças.

As transformações são acentuadas, sim, mas somente enquanto as olhamos deste lado de cá, do lado do velho mundo. Depois que largamos o medo de ser o que na verdade sempre fomos, a transformação revela-se um nascimento onde vemos a vida através de verdades mais úteis e abrangentes. Continuamos os mesmos mas diferentes: sabemos exatamente quem somos. É esse detalhe que nos distinguirá da massa inconsciente de si mesma.

Olharemos para trás e perceberemos que todas as quedas e traições que sofremos foram necessárias, nada foi em vão. Veremos que todos tiveram seu valor em nossa jornada, os que creram em nós e até os que nos traíram, cada um em seu papel, e que tudo sempre esteve interligado. É como se uma força poderosa e invisível estivesse o tempo todo na condução dos fatos, confiando em nós.



Chamam essa força pelo nome de algum deus, Tao, mente cósmica, destino, Self (Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo). Chame como quiser. Essa força existe e aguarda apenas que cada um de nós, predestinados que somos, decida despertar de vez e, sair da mesmice coletiva...


http://www.imagick.org.br/apres/ArtigoTextos/Dias/Matrix-NeoIndividuação.html

quinta-feira, 20 de maio de 2010

RECOLHIMENTO SAGRADO FEMININO

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Observando os ciclos de nosso corpo, entramos em sintonia com o corpo maior e organismo vivo e pulsante que é a Mãe Terra. Nós, mulheres, carregamos em nosso corpo todas as Luas, todos os ciclos, o poder do renascimento e da morte. Aprendemos com nossas ancestrais que temos nosso tempo de contemplação interior quando, como a Lua Nova, nos recolhemos em busca de nossos sonhos e sentimentos mais profundos. As emoções, o corpo, a natureza são alterados conforme a Lua.

Nas tradições antigas, o Tempo da Lua era o momento em que a mulher não estava apta a conceber, era um período de descanço, onde se recolhiam de seus afazeres cotidianos para poderem se renovar. "É o tempo sagrado da mulher", o período menstrual, conforme nos conta Jamie Sams, "durante o qual ela é honrada como sendo a Mãe da Energia Criativa". O ciclo feminino é como a teia da vida e seu sangue está para seu corpo assim como a água está para a Terra. A mulher, através dos tempos, é o símbolo da abundância, fertilidade e nutrição. Ela é a tecelã, é a sonhadora.

Nas tradições nativas norte-americanas há as "Tendas Negras", ou "Tendas da Lua", momento em que as mulheres da tribo recolhem-se em seu período menstrual. É o momento do recolhimento sagrado de comtemplação onde honram os dons recebidos, compartem visões, sonhos, sentimentos, conectam-se com suas ancestrais e sábias da tribo. São elas que sonham por toda a tribo, devido ao poder visionário despertado nesse período. O negro é a cor relacionada à mulher na Roda da Cura. Também são recebidas nas tendas as meninas em seu primeiro ciclo menstrual para que conheçam o significado de ser mulher.
Esse recolhimento não é observado somente entre as nativas norte-americanas, mas também entre várias outras culturas.

Diversos ritos de passagem marcam a vida de meninas nativas no seu primeiro ciclo menstrual. Entre os Juruna, quando a Lua Nova aponta no céu, é momento de as meninas se recolherem para suas casas. As meninas kanamari, do Amazonas, também ficam reclusas enquanto dura seu primeiro sangramento, sendo alimentadas somente pela mãe. Assim ocorrem com as meninas tukúna que nesse período de reclusão aprendem os afazeres e a essência do que é ser uma mulher adulta. Observa-se, em alguns casos, como parte do rito, cortar o cabelo e pintar o corpo de negro.
São ritos de honra à mulher, e não o afastamento das mesmas pela impureza, como foi mal-interpretado por muitas outras culturas, principalmente a nossa ocidental extremamente influenciada pelos valores cristãos.

Nossos corpos mudam nesse período, fluem nossas emoções e estamos mais abertas a compartilhar com outras mulheres, como uma conexão fraternal. Ao observarmos nossos ciclos em relação à Lua, veremos que a maioria das mulheres que não adotam métodos artificiais de contracepção e que fluem integradas ao ciclo lunar, têm seu Tempo de Lua durante a Lua Nova. É importante observarmos como fluímos com a energia da Lua e seus ciclos, e em que período do ciclo lunar menstruamos. A menstruação é um chamado do nosso corpo ao recolhimento, assim como a Lua Nova é um período de introspecção, propício ao retiro e à reflexão. A Lua Cheia proporciona expansão e, se nossos corpos estão em sintonia com as energias naturais, é o período em que estaremos férteis.

Quantas mulheres atualmente deixaram de observar os ciclos do próprio corpo? Quantas deixaram de conectar-se com as forças da natureza, deixaram de lado a riqueza desse período de introspecção, recolhimento e contemplação de si mesmas? No nosso Tempo de Lua sonhamos mais, estamos mais abertas à sabedoria que carregamos de nossas ancestrais. Aproveite esse período para conhecer e explorar seu interior, agradecendo os dons e habilidades que possui. Compartilhe com outras mulheres esses momentos sagrados de respeito e fraternidade. Ouse sonhar e exercer seu lado visionária. Note que ao estar em conexão com todas as mulheres e com a própria Mãe Terra, muitos sintomas tidos como incômodos vão desaparecendo. Muitos destes sintomas são a rejeição desse período. Com a competição resultante dos valores da sociedade moderna, muitas de nós esqueceram de ouvir a si mesmas, de sentir a necessidade de seus próprios corpos e corações.

Para finalizar, segue um trecho sobre a Tenda da Lua, de Jamie Sams, falando-nos sobre a importância desse ciclo de religação com a Terra e a Lua:

"O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido em nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados aos órgãos sexuais, poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser respectivamente a Terra e a Lua. As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes e oráculos de suas tribos há séculos. As mulheres precisam aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade".



Tatiana Menkaiká - 02/02/2005


http://www.terramistica.com.br/index.php?add=Artigos&file=article&sid=24&ch=6

Imagens:
* Rassouli
* Kagaya

MENSAGEM

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"Não me importa o que você faz para sobreviver. Quero saber qual a sua dor e se você tem coragem de encontrar o que o seu coração anseia. Não me importa saber a sua idade. Quero saber se você se arriscaria parecer com um louco por amor, pelos seus sonhos, pela aventura de estar vivo.



Não me importa saber quais planetas estão quadrando sua lua. Quero saber se você tocou o âmago de sua tristeza, se as traições da vida lhe ensinaram, ou se omitiu por medo de sofrer. Quero saber se você consegue sentar-se com as dores, minhas ou suas, sem se mexer para escondê-las, diluí-las ou fixá-las.



Quero saber se você pode conviver com alegria, se pode dançar com selvageria e deixar o êxtase preenchê-lo até o limite sem lembrar de suas limitações de ser humano. Não me importa se a estória que você me conta é verdadeira. Quero saber se você é capaz de desapontar o outro para ser verdadeiro para si mesmo, se pode suportar a acusação da traição e não trair sua própria alma. Quero saber se você pode ser fiel e consequentemente fidedigno. Quero saber se você pode enxergar a beleza mesmo que não seja bonitos todos os dias, e se pode perceber na sua vida a presença de Deus. Quero saber se você pode viver com as falhas, suas e minhas, e ainda estar de pé na beira do lago e gritar para o prateado da lua cheia... "Sim"!



Não me importa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se você pode levantar depois de uma noite de pesar e desespero, exausto, e fazer o que tem de fazer para as crianças. Não me importa saber quem você é, ou como veio parar aqui. Quero saber se você estará ao meu lado no centro do fogo sem recuar. Não me importa saber onde, o que, ou com quem você estudou. Quero saber o que sustenta o seu interior quando todo o resto desaba. Quero saber se você pode estar só consigo mesmo e se verdadeiramente gosta da companhia que carrega em seus momentos vazios.

Oriah Mountain Dreamer




http://rosaleonor.blogspot.com/2010/05/quero-saber-se-voce-tocou-o-amago-da.html

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terça-feira, 18 de maio de 2010

GESTAÇÃO E PARTO COMO SÍMBOLOS

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"Somente a vida simbólica pode expressar a necessidade da alma - a necessidade diária da alma... E porque as pessoas não têm tais coisas, elas nunca saem desse moinho - esta vida banal, terrível, opressiva, na qual não são "nada mais que". No ritual, elas estão próximas a Deus; elas são divinas".

C. G. Jung (1939)

O simbólico é o que transcende a estreiteza da consciência pessoal. Perceber a gravidez e o nascimento como símbolos enriquece e promove crescimento, abrindo o feminino para uma religação com sua base feminina vital mais profunda.

Assim como a água sempre corre para o fundo, a grávida é levada para mais baixo e para mais dentro, em maior proximidade e intimidade com os processos inconscientes. É um deixar fluir, entregar-se e se reposicionar sobre a base de sustentação, o apoio de seu substrato natural, ligado à Mãe-Terra.

Na era religiosa matriarcal, a grande-deusa-mãe como mãe-lua, mãe-terra ou mãe-natureza, era o poder generativo, seu útero e seios eram venerados. Era a deusa criadora, mãe de tudo o que existe. O universo era visto como uma mulher dando à luz a todas as formas de vida. Na imagem da deusa-mãe, mulheres de tempos antigos encontravam o reflexo de sua natureza mais profunda.

A experiência de que a mulher grávida é também a representação da grande mãe telúrica, que deu origem a vários costumes. Por exemplo, o parto no chão. Existem estátuas de deusas do nascimento, de joelhos na posição de uma mulher dando à luz. Em textos egípcios, a expressão "sentar no chão" é igual a "dar à luz" ou "nascer".

O significado religioso deste costume, segundo Mircea Eliade, historiador de religiões, é: "Nascimento e parto são versões micro-cósmicas de um ato exemplar executado pela terra; mães humanas imitam e repetem o ato primordial que fez a vida aparecer sobre o seio da terra; conseqüentemente, cada mãe tem de fazer contato com a Grande Generatrix e ser guiada por ela para realizar completamente o mistério que é o nascimento de uma vida, como também dela receber energias benéficas e encontrar sua proteção materna."

A capacidade natural da mulher de gerar um filho, uma vida no seu corpo é a oportunidade dela vivenciar uma iniciação, regida pelo princípio lunar. Um mistério feminino que implica em submeter-se a um processo de amadurecimento, no qual há uma aquisição de conhecimento que engloba o receptivo, recebendo a semente e nutrindo as raízes em silêncio; é uma doação paciente, tolerante, um entregar-se, agüentando a transformação.

Neste sentido, a gravidez e o nascimento podem tornar-se uma aventura psicológica profunda, por meio dela a mulher sente sua unidade com a mãe criativa, sua identidade com ela. É um percurso a ser percorrido sozinha, gestando a nova vida em si. A mulher grávida foi venerada desde a antiguidade como representando "algo em si mesma", "algo individual", e a gravidez pode propiciar essa experiência de se tornar completa em si mesma, independente do masculino.

As deusas lunares eram virgens. Não no sentido da castidade, mas no sentido de não-casadas, aquelas que pertencem a si próprias. A deusa virgem é "uma-em-si-mesma", não estava relacionada como contraparte feminina ou esposa a nenhum deus, nada de externo a elas determinava suas qualidades ou regulava sua conduta, sendo sua própria soberana.

Esse se entregar a si mesma ou à deusa em si, não é uma aceitação passiva, mas uma resposta aberta a um momento afirmativo da vida que demanda coragem e fé, isto é, entrega ativa. Uma posição que não interfere, mas colabora com o processo natural. Na hora de dar à luz, ao desistir de si, para ser somente um canal, um meio de escoamento para a nova vida, aceitar a dilatação, a dor da contração, entender uma dinâmica nova, onde as quantidades de esforço e não-esforço só podem ser penetradas por uma visão de conjunto.

No parto a mulher experimenta uma descida às profundezas e, como suas ancestrais, independentemente das características próprias de sua personalidade, grau social ou raça, é a criatura fêmea engajada em sua tarefa mais fundamental. Ela está a serviço de trazer à luz o segredo das profundezas, da interpenetração dos elementos formadores da vida humana.




Adelise Noal Monteiro
é médica pediatra,
atende partos domiciliares
e reside em Porto Alegre (RS).
Fonte:
http://www.amigasdoparto.org.br/ .

http://www.imagick.org.br/zbolemail/Bol05x10/BE10x4.html

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domingo, 16 de maio de 2010

"VIVE, AMA, COMPREENDE, SORRI E SEGUE..."

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Há coisas que as palavras não dizem.
Há sentimentos que voam na noite, como setas de fogo...
De coração a coração, iluminando os céus.
De espírito a espírito, por entre os planos da vida e além da mente.

Há coisas que os sentidos não percebem.
Algumas delas, muito boas. Outras, nem tanto.
As boas iluminam a consciência e abrem caminhos...
As outras tapam o discernimento e escurecem o coração.

Há coisas que os homens fazem a si mesmos, sem noção do perigo.
Como deixar o próprio espírito entorpecido e o coração seco.
Como viajar pela vida sem pensar e sem sentir, perdido em suas dores.
Como "viver sem viver", automaticamente, sem vitalidade na jornada.

Há coisas que ninguém diz, mas todos sentem, de alguma maneira.
Faixas escuras que apertam o coração incauto e angustiado.
Pensamentos intrusos que invadem a mente com idéias negativas.
E energias estranhas que chegam, sorrateiramente, e roubam o bom humor.

Há coisas obscuras rondando a aura dos homens, e muitos sofrem com isso.
No entanto, há aqueles que vêem e sentem o invisível diretamente.
E se escoram na Luz, para iluminar a consciência e abrir os caminhos...
Ligam-se ao Alto, em espírito e verdade, para seguir em frente...

Há coisas que a mente não entende, pois transcendem o seu limite.
Mas alguns sabem voar nas asas da prece, para além das estrelas.
Sabem unir seu pequeno coração ao Grande Coração do Eterno.
Sabem que viver não é só viver, é muito mais do que isso.

Há coisas que ninguém explica, mas muitos sentem.
Como caminhar com um grande amor num pequeno coração.
Como valorizar a vida, rir de uma piada e ver o Eterno nisso.
Como se sentir gente, mesmo sendo espírito.

Há coisas que são consideradas do "Além", mas que estão por aqui mesmo.
Elas falam, não com palavras, mas com a força da vida, que jamais acaba na morte.
E há coisas daqui, que, muitas vezes, viajam ao "Além", fora do corpo...
Viagens espirituais, que poucos conhecem, mas muitos fazem, mesmo sem lembrar.

Há coisas que bloqueiam a felicidade e chamam a dor e o vazio.
Como o ódio e o desejo de vingança, que permitem às faixas escuras apertar o coração.
Como perder a própria canção no imenso concerto da vida universal.
Como entorpecer o espírito com fortes doses de arrogância.

Há coisas que são simples, mas de grande efeito no céu do coração.
Como orar e vigiar, ligado ao Alto, preenchendo a aura de luz, pela força da vontade.
Como meditar nas palavras de Jesus, profundo conhecedor do coração dos homens:
"De que adianta a uma pessoa ganhar o mundo, se ela perder sua alma?"

Há coisas luminosas que chegam de mansinho, no centro do coração espiritual.
Presenças sutis e amorosas, que falam das coisas do céu aos homens de boa vontade.
Que falam de outros planos e estimulam as ações sadias e a valorização da vida.
Elas falam de um Grande Amor que está em tudo!

Há coisas que as palavras não dizem.
Setas de fogo varam a escuridão da noite, por entre os planos da vida...
E os corações se encontram, aqui e além, no Grande Coração do Ancião dos Dias.
Não há morte. A chama da vida está em todos os planos. E o Todo está em tudo!

Há coisas tão grandiosas na Luz, que não há palavras que as descrevam com justiça.
Quem escuta a canção do Eterno em seu próprio coração, sabe disso.
O espírito reconhece o espírito. Assim como o Amor reconhece o Amor, e chama a Luz.
Mas, como muitos já sabem, isso não se explica, só se sente, só se sente, só se sente...

P.S.:
Às vezes, o Céu fala aos homens por meio de outros homens.
Em outras, diretamente ao coração. Ou ainda, pela música , ou pelos sonhos, durante o sono.
E, para muitos, pelas meditações, ou pelas viagens espirituais para fora do corpo físico .
De todo modo, a mensagem é sempre a mesma, para todos:
"VIVE, AMA, COMPREENDE, SORRI E SEGUE..."


(Essas linhas são dedicadas a todos aqueles que se atrevem a viver carregando um Grande Amor em seus pequenos corações, e que jamais se perdem espiritualmente, pois escutam a canção do Eterno, mesmo em meio aos percalços e ruídos do mundo. A todos esses, de todas as linhas e lugares, que se atrevem a falar das coisas da Luz, mesmo em meio às diversas pressões e incompreensões, tudo de bom, em nome do Grande Arquiteto Do Universo).

Paz e Luz.

- Wagner Borges

http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=09853

Imagem:Josephine Wall

sábado, 15 de maio de 2010

O CULTO DA MATRIOCHKA

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Todos os que visitam a União Soviética trazem de lembrança uma pequena boneca de madeira que contém outras bonequinhas menores em seu interior: é a Matriochka, uma das mais antigas tradições russas, cuja origem desafia há séculos a curiosidade dos pesquisadores.
Quem construiu a primeira Matriochka? E por que ela tem essa forma curiosa? O estudo mais completo sobre o assunto foi publicado por Lev Teplov, que reuniu suas descobertas no livro A Deusa Dourada da Sibéria. Teplov está convencido de que a estátua original existe até hoje, sendo há mais de oito séculos o centro de uma estranha seita religiosa matriarcal, que sobrevive nas florestas siberianas apesar dos esforços do antigo governo comunista soviético para descobrir seus praticantes e encontrar o lugar exato do santuário.

Pesquisando as origens dessa religião misteriosa Teplov reuniu antigos testemunhos de viajantes que tentaram encontrar a sede do culto da deusa dourada. A primeira pista era a cidadezinha de Viatka, nos Urais, onde até hoje são feitas as pequenas Matriochka de madeira. Antigamente toda aquela região fazia parte do distrito de Ugra, que se estendia dos dois lados dos Urais até a ilha de Yamal, ao norte. Seus habitantes descendem de dois grupos originais, os khantis e os mansis, que foram os primeiros habitantes dos pântanos gelados do curso inferior do rio Ob.

No século 5, khantis e mansis participaram da expedição militar organizada por Alarico para saquear Roma e voltaram carregados de tesouros.

As crônicas russas da época fazem referência a uma grande estátua de mulher, fundida com o ouro trazido de Roma, segundo Teplov, a deusa dourada original, a lumala, à qual se ofereciam objetos de valor e até sacrifícios humanos.
Os ugrianos não tinham escrita, e preservavam seus costumes e tradições em segredo, evitando o contato com os russos de outras raças que habitavam regiões vizinhas. Mas desde o século 10 já se falava em toda Europa de uma grande deusa dourada, adorada nos pântanos siberianos.

Logo surgiram aventureiros atraidos pelas riquezas do estranho culto. Um deles o viking sueco Thorir, o Canalha, descobriu em 1023 o santuário secreto de lumala.

A lenda conta que Thorir descobriu o santuário com a ajuda de uma jovem ugriana que ele havia seduzido: numa clareira escura da floresta brilhava a grande estátua de ouro maciço, colocada sobre um altar rústico e rodeada pelos inumeráveis tesouros trazidos de Roma. O que aconteceu depois é fácil de imaginar. O roubo, o saque, a fuga precipitada pela floresta, a luta entre os saqueadores, cada um deles querendo ficar com todo o botim. Thorir foi perseguido e morto. E a deusa lumala voltou ao altar profanado.

Naquela época a estatua estava escondida às margens de um pequeno afluente do Divna setentrional. Mas depois do saque os ugrianos a levaram para além dos Urais, construindo um novo santuário na confluência dos rios Ob e lrtrych.

Foi mais ou menos nesta época que começaram a surgir dúvidas sobre a aparência de lumala. Alguns diziam que a estátua representava uma mulher sentada, com uma criança no colo. Outros afirmavam que a deusa era a imagem de uma mulher nua, de pé, segurando uma espécie de cajado.

O barão Siegmund Herberstein, gravador e cartógrafo medieval, fez um desenho de lumala na carta que publicou em 1551. Ele viajara para Moscou em 1549 e ali soubera que a estátua era oca com outra estátua igual, menor, no seu interior, e ainda outra, menor, dentro da segunda. As três estátuas representavam a filha, a mãe e a avó, na seita do estranho culto ugriano. Segundo a lenda contada a Herberstein, o vento assobiava quando passava pelo corpo oco das estátuas, e todo ugriano que ouvia esse ruído deveria depositar no solo uma oferenda para a deusa.

Todos os dias os guardiães da deusa, vestidos de vermelho, percorriam a floresta, recolhiam as oferendas e as levavam para o altar. E quando já tinham recolhido bastante ouro, fundiam uma nova estátua sobre a anterior. Assim, a cada ano, lumala ficava maior e mais rica.

Os pesquisadores mais recentes, como o russo Teplov, acreditam realmente nessa lenda, e também que o ouro para a estátua original veio de Roma: diversas descrições do culto de lumala incluem em seus tesouros taças de cobre, metal comum na Roma antiga mas absolutamente desconhecido nos pântanos de Ugra. Em 1584 o explorador inglês Giles Fletcher chegou a Moscou na pista de lumala. Enviou aos Urais uma expedição chefiada por um tal Bogdan, mas a deusa douradanão pode ser encontrada. Fletcher relata esse fato no seu livro Of the Russa Commonwealth.
Segundo Herberstein apenas quatro estranhos chegaram a ver lumala. Um deles foi o conquistador cossaco Briazza que anexou oficialmente a Sibéria à Rússia na campanha de Ata Ermak. Em 1582 Briazza irrompeu nos pântanos siberianos à frente de seus cossacos e as tribos locais refugiaram se na pequena cidade fortificada de Nimiar, levando a estátua consigo. Um espião de Briazza introduziu se na cidade, onde assistiu a uma cerimônia do culto. Mas durante o ataque lumala foi secretamente retirada e escondida na floresta. Briazza morreu em combate e sua armadura, presente do czar, foi depositada aos pés da deusa. Naquela época ainda lhe eram oferecidos sacrifícios humanos. Os sacerdotes atingiam o prisioneiro com flechas ocas, por onde o sangue escorria. A morte lenta fazia parte do ritual. Mais tarde passaram a sacrificar animais em vez de homens.

As notícias seguintes sobre lumala datam de meados do século 18, quando o coronel russo Grigori Novitski foi punido por ter participado de um complô político na Ucrânia. Foi expulso de Kiev e enviado para uma distante guarnição de Tobolski, próximo do local onde os ugrianos escondiam a deusa dourada. Sabendo desse fato o coronel iniciou uma busca rigorosa procurando o santuário secreto de lumala. Suas descobertas foram relatadas numa espécie de diário, que enviou a Moscou, e que confirma em muitos pontos os escritos antigos de Herberstein.

Constantin Nossilov, um viajante russo que explorou a região de Konda em 1904, soube, por um velho aldeão, que a estátua da deusa tinha novamente cruzado os Urais.

Anton Kaduline, um velho caçador que vive até hoje numa pequena fazenda perto de Tiumen, foi talvez o explorador contemporâneo que chegou mais perto do santuário oculto. Um pescador contou lhe que o culto a lumala ainda persistia, em segredo, nos pântanos da região. Curioso, Kadulme começou a procurar e descobriu um pequeno altar com alguns tesouros e a estátua de bronze de um deus de aparência pouco humana. Mas não viu lumala, que tinha sido levada dali pouco antes.

Lev Teplov viajou por toda a região, conversou com centenas de pessoas, explorou as florestas e não descobriu nada. O próprio Anton Kadulme não pôde ou não quis ajudá lo. Mas voltou convencido de que o culto a lumala ainda persiste numa das ilhas dos pântanos gelados do curso inferior do rio Ob. Acredita que se a deusa for encontrada, estarão entre seus tesouros taças de cobre de Roma antiga e a rica armadura do conquistador Briazza.'


http://www.imagick.org.br/zbolemail/Bol06x09/BE09x8.html

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A CIVILIZAÇÃO FICOU CEGA FRENTE À NATUREZA

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Os recentes terremotos no Haiti e no Chile trouxeram mais uma vez ao noticiário global perguntas perplexas sobre o que estaria acontecendo com a natureza. Desde o final do século XX, sentimentos catastrofistas tornaram-se mercadoria comum nos meios de comunicação e na indústria de entretenimento, especialmente no cinema. Mas estará, de fato, ocorrendo algo incomum? Na avaliação do geólogo Rualdo Menegat, professor do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o único fenômeno novo que esses terremotos estão mostrando é a progressiva cegueira da civilização humana contemporânea em relação à natureza. Ele alerta que a humanidade está bordejando todos os limites perigosos do planeta Terra e se aproxima cada vez mais de áreas de riscos, como bordas de vulcões e regiões altamente sísmicas. “Estamos ocupando locais que, há 50 anos atrás, não ocupávamos. Como as nossas cidades estão ficando gigantes e cegas, elas não enxergam o tamanho do precipício, a proporção do perigo desses locais que elas ocupam”.

Em entrevista à Adverso, Menegat relata sua vivência de um terremoto no Peru e critica as sociedades contemporâneas que não conseguem manter memórias dos fenômenos naturais, como mantinham os povos míticos, que eram capazes disso, justamente por causa do mito. “O nosso sistema cultural, por dar as costas tão violentamente à natureza, está sofrendo enormemente. Essa civilização excessivamente urbana que esquece do meio ambiente está sofrendo e tem gente que chama isso de “vingança da natureza”. Mas o universo não é um ser animado que se vinga. O que ocorre é uma falência cultural da civilização que, por ser muito grande, tornou-se autônoma em relação à natureza, ou melhor, tornou-se cega à ela”. E a mídia, adverte o geólogo, contribui enormemente para isso, ao espetacularizar essas tragédias naturais.



......................................Prof Rualdo Menegat

Adverso- Qual sua avaliação sobre a percepção que a população tem hoje de fenômenos como os terremotos do Haiti e do Chile a partir da cobertura que os meios de comunicação fazem sobre esses acontecimentos?

Rualdo Menegat - Há três coisas aí que precisamos reconhecer. A primeira é que a vida urbana contemporânea está tão absorvente - faz com que as pessoas fiquem tão ligadas em suas rotinas - que parece que nada pode atrapalhar esse modo de existência. Mas, felizmente, ainda temos natureza. Há um universo aí fora, que requer atenção humana, pois é em relação a ele que podemos ou não construir o processo civilizatório. Quem determina essas possibilidades civilizatórias ainda são os processos dinâmicos da Terra. Vivendo em um mundo absorvido pela máquina urbana, nós pensamos que somos absolutamente autônomos em relação à natureza. Não somos.

A segunda questão diz respeito ao trabalho da imprensa, que torna os fenômenos naturais que afligem a humanidade em espetáculos. Ela espetaculariza essas tragédias de uma maneira que não ajuda as pessoas entenderem que há uma manifestação das forças naturais aí e que nós precisamos saber nos precaver. Isso é o que chamamos de civilização: a forma de ocupar uma determinada região da Terra de modo que seja possível garantir proteção, alimentos, segurança e longevidade a um grupo humano. A maneira como a grande imprensa trata estes acontecimentos (como vulcões, terremotos e enchentes), ao invés de provocar uma reflexão sobre o nosso lugar na natureza, traz apenas as imagens de algo que veio interromper o que não poderia ser interrompido, a saber, a nossa rotina urbana. Essa percepção de que nosso dia a dia não pode ser interrompido pelas manifestação das forças naturais está ligada à ideia de que somos sobrenaturais, de que estamos para além da natureza.

A terceira e importante questão é que, de fato, estamos diante de uma humanidade gigantesca. Isso é algo muito difícil para nossa percepção cotidiana. Estamos falando de 6 bilhões e 700 milhões de habitantes, dos quais mais da metade, cerca de 3,7 bilhões, vive em cidades. Essas urbes que nos capturam e nos deixam absorvidos por seus afazeres e rotinas. Uma população com tais dimensões, espalhada sobre a superfície do globo, leva a uma situação inédita em termos humanos: para cada movimento da dinâmica natural do planeta temos um impacto em termos de vidas e de recursos materiais e também uma informação imediata.

Isso aumenta a percepção da tragédia como algo assustador. A humanidade gigantesca já está bordejando todos os limites perigosos do planeta Terra. Estamos na borda dos grandes vulcões, na borda das placas tectônicas. Estamos ocupando locais que, há 50 anos atrás, não ocupávamos. Como as nossas cidades estão ficando muito gigantes e as pessoas estão cegas, elas não se dão conta do tamanho do precipício e do tamanho do perigo desses locais onde estão instaladas. Isso faz também com que tenhamos uma visão dessas catástrofes como algo surpreendente. Então, um terremoto no Haiti é recebido como um imprevisto quando todos nós sabemos, pelos estudos geológicos e pelos mapas que já estão prontos, que se trata de uma zona de alto risco sísmico.

Temos vários exemplos disso. A missão do Exército brasileiro no Haiti e uma missão da ONU deram sinais de que não sabiam desse risco. Um soldado relatou que ao mesmo tempo em que fotografava uma igreja que caía por causa do tremor, não sabia o que estava acontecendo. Isso indica que a missão da ONU não tinha conhecimento do terreno, do caráter físico do local para onde foi enviada. E mostra o quão pouco a humanidade está se importando com as questões da natureza. E, neste contexto, o terremoto, a catástrofe, acaba sendo uma surpresa. Bem, o Haiti era a crônica de uma morte anunciada. E, lamentavelmente, uma tragédia deste tipo afeta com muito mais gravidade os pobres. Então, toda essa cegueira humana perante a natureza e a dinâmica da Terra tem uma consequência muito mais grave, pois implica que nem todos sofram da mesma maneira.

Os pobres são os maiores afetados pela cegueira urbana. Isso precisa ser visto em várias medidas. Tivemos uma dimensão sem precedentes como a do Haiti, com mais de 230 mil mortos, quase todos pobres, e uma situação como a de Niterói, no Rio de Janeiro. Nas catástrofes brasileiras quem padece também são os menos privilegiados. As classes média e alta estão, em geral, melhor posicionadas no terreno desta mega-cidade global. Se olharmos um mapa do globo feito com a ajuda de satélites, só pelas luzes das cidades temos um mapeamento das bordas dos continentes, que são bordas de placas tectônicas. Vemos o quanto a humanidade está alastrada até os limites máximos dos grandes perigos da dinâmica terrestre.

Adverso- De um modo metafórico, poderíamos lembrar daquela imagem que os antigos tinham de uma Terra plana e cujos mares acabariam em um abismo. Havia uma noção de limite nesta idéia, que a humanidade parece ter perdido...

Rualdo Menegat - Sim. Embora a imagem estivesse errada na sua forma, ela estava correta no seu conteúdo. Nós temos limites evidentes de ocupação no planeta Terra. Não podemos ocupar o fundo dos mares, não podemos ocupar arcos vulcânicos, não podemos ocupar de forma intensiva bordas de placas tectônicas ativas, como o Japão, o Chile, toda borda andina, a borda do oeste americano, como Anatólia, na Turquia...

Adverso- A impressão que se tem é que o ser humano, na verdade, não quer enxergar...

Rualdo Menegat - Estamos vivendo um processo perigoso de cegueira cultural urbana no mundo contemporâneo. Neste contexto, a catástrofe aparece como espetáculo, como surpresa, e nós, cidadãos, ficamos reféns deste jogo que a grande mídia nos oferece. Ao fazer isso, ela se recusa a ser um instrumento de culturalização, que ajude a sociedade a entender e se preparar para enfrentar esses fenômenos.

Eu tive uma rica vivência neste sentido na belíssima cidade peruana de Arequipa, uma cidade organizada toda em xadrez, com edificações históricas feitas em blocos de rocha vulcânica branca. Devido ao centro de Arequipa ser tão bonito, a cidade foi crescendo olhando para esse centro. E esse crescimento se deu da região central para trás, para as bordas do local. Nos últimos 40 anos, ela cresceu tanto que foi empurrada para a saia do vulcão que emoldura sua paisagem. Arequipa tem hoje 800 mil habitantes e foi empurrada para a saia de um vulcão!

Eu vivi uma experiência de terremoto em Arequipa, onde estava fazendo a pesquisa de meu doutorado, um terremoto de 6,8 pontos na escala Richter e que abalou a cidade. Como um dos poucos geólogos na cidade, fui convocado pelas autoridades para participar do Comitê de Defesa Civil que agiu após o tremor. Pude constatar diretamente a consequência do nosso despreparo cultural para enfrentar esse tipo de problema. A Defesa Civil era desorganizada e parecia não esperar nunca um terremoto. A população também não contava que a Defesa Civil fosse a campo e não respondeu a esse trabalho. Ir a campo, neste caso, significa vistoriar as habitações e edificações. Nós fomos realizar este serviço e encontramos as portas todas as trancadas, com as pessoas com medo de ter que abandonar suas casas e pertences. Isso, é claro, aumenta as chances da tragédia crescer. Nós temíamos novos abalos, o que, de fato, aconteceu. Felizmente foram de magnitudes menores e não causaram grandes danos.

Isso é a cegueira urbana. Todas as cidades contemporâneas estão na mesma situação. Se os cidadãos de Arequipa quisessem falar de Porto Alegre poderiam dizer que nós, portoalegrenses, também temos a mesma cegueira. Nós conseguimos infestar um importante corpo de água que é o Guaíba. Emporcalhamos a água que usamos para beber. Isso não é cegueira? Que ser vivo no planeta polui a própria água que bebe? E podemos falar a mesma coisa de cidades como São Paulo, Paris, Londres e tantas outras.

Adverso- Na sua opinião, existe alguma possibilidade da humanidade resgatar a consciência necessária para se viver em paz com a natureza?

Rualdo Menegat - Claro, para isso é preciso educação, é preciso uma culturalização nesse sentido. Precisamos tornar a natureza algo presente na vida humana. Temos como cultura sempre o dogma tecnológico, acreditando que a tecnologia nos salvará. Algumas pessoas poderiam perguntar: mas nós não temos tecnologia para prever esses terremotos? Não, não temos. Não temos tecnologia para tudo. Além disso, conhecer a Terra e a natureza não é uma prioridade cultural. A prioridade tem sido gastar milhões de dólares acelerando uma partícula subatômica em Genebra. Essa é, no momento, a prioridade cultural da nossa civilização. Faltarão milhões de dólares para fazer as pesquisas sobre terremotos. É uma civilização que não aposta no conhecimento da Terra, de sua paisagem, de sua região. Nós, portoalegrenses, não estamos interessados em conhecer o local onde vivemos. E isso não é um traço terceiromundista. Se vamos para Nova York é a mesma coisa.


http://www.adufrgs.org.br/conteudo/sec.asp?id=cont_adverso.asp&InCdMateria=1463

Imagem:Intano

O SEGREDO

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Atenção, meu amor, que vou contar-te um segredo
Tão antigo quanto a Terra em que pisamos e que floresce.
E floresce em segredo, escondida na mesma Terra
Em que pisamos.

Presta atenção, meu amor, ao segredo
Da chuva que se forma nos céus, e cai sobre a Terra
E a fertiliza.

A Terra é o útero da vida, meu amor
Onde o Deus Sol esconde a semente de vida das plantas.
Estás escutando, meu amor? É segredo.
Há quem contamine a Terra para que não floresça
E que contamine os céus para que não envie a chuva.
Por isto é segredo, meu amor, a ser sussurrado
A ser guardado, a ser passado de ouvido a ouvido
De coração a coração, para que não pereça
Não esmoreça sobre a Terra Mãe que protegemos
Sobre a qual gememos em temor que se revele
O segredo tão antigo quanto ela, onde pisamos.
É segredo, meu amor. Segredo como a planta nasce
Da semente escondida sob a Terra.

Segredo do homem
Que se forma de maneira incompreensível, indiscernível
Dentro do ventre materno, escondido, secreto.
Segredo é a formação do fogo. A constituição da água.
A fórmula que faz com que o ouro seja mais brilhante
Do que o carvão da Terra, de onde ambos saem
Assim como as plantas, o ferro, os rubis, a prata.
Tudo isto é segredo, meu amor. Não contes.
Mas o mundo gira, meu amor. O mundo roda em espiral
E de repente o homem crescendo no ventre materno
E a semente crescendo no ventre da Terra Mãe
Deixaram de ser segredo.

A fórmula de todas as coisas
É res dominium omni, e o segredo, meu amor,
Se foi com o vento que sopra agora sobre os edifícios
Sobre homens e plantas produzidos em laboratórios
Sobre ovelhas clonadas, perfeitos golems científicos.
O segredo, meu amor, da Terra Mãe e do Deus Sol
Das lágrimas da chuva alimentando vida e morte
Não mais existe para que o guardemos, e o sussurremos
E dancemos em círculos em seu louvor.
Mas não importa. Fecha os olhos e vem, meu amor,
Que vou contar-te o verdadeiro segredo.
É mais antigo do que os edifícios que nos cercam
E do que os homens e as plantas produzidos em laboratórios
E do que as ovelhas clonadas como golems científicos.
Vou contar-te o segredo de como o amor nasce
E nasce escondido na Terra fértil do coração dos homens
Incompreensível, incomensurável, secreto.
Estás escutando, meu amor? É segredo.
Há quem contamine os corações, para que não floresçam
E que contamine os corpos, para que não estendam a mão.
Por isto é segredo, meu amor, a ser sussurrado
A ser guardado, a ser passado de ouvido a ouvido
De coração a coração, para que não pereça
Não esmoreça sobre a Terra Mãe que protegemos
Sobre a qual gememos em temor que se revele
O segredo tão antigo quanto ela, onde pisamos.
que gera a vida
Além de toda possibilidade de conhecimento
Além de toda razão especulada pelo homem
Além do poder de toda razão especulada pelo homem
Além do poder de toda sua mágica.

Esse é o segredo, meu amor.

A energia por detrás de tudo

A força dentro do teu peito

O gesto na palma de tua mão.

Venha, meu amor.

Vou ensinar-te

O segredo.


Dalva Agne Lynch

http://sacerdotisasdadeusa.blogspot.com/2010/03/alkimia.html

Imagem:Josephine Wall

domingo, 9 de maio de 2010

VIDA PÓS - MORTE NOS ANIMAIS

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Enquanto eu meditava, preparando-me espiritualmente para realizar uma aula para o grupo de estudos e assistência espiritual do IPPB, entrou no quarto um cachorro desencarnado, brincando, latindo e batendo o rabo alegremente.

Percebia o animal pelas vias da clarividência, de olhos fechados, diretamente na tela mental frontal interna (correspondente à área de ação do chacra frontal).


O cão era um vira-lata normal, adulto, de pelo castanho-claro (mais claro do que castanho), muito alegre e ativo.

Ele olhava para alguém à frente, que eu não via, com o qual ele brincava e corria em torno. Contudo, mesmo sem ver a entidade extrafísica no ambiente, eu sentia sua presença tranquila e amistosa.

Admirado com a alegria do animal, morto na Terra, mas vivo em espírito, cheio de animação, pensei: "Alguém deve estar chorando a perda desse animal. Do jeitinho alegre que ele é, deve estar fazendo muita falta para os seus donos e entes-queridos."

Então, o espírito em frente se comunicou telepaticamente comigo e me disse o seguinte: "O nome dele é Terry. E ele está muito bem tratado aqui!"

Nesse instante, o meu chacra frontal pulsou, cheio de luz branquinha fluorescente e eu o vi também.

Era um homem alto, de cabelos pretos muito grandes, à moda indígena da América do Norte. Estava vestido de calça lisa marrom-claro, com uma camisa esporte, tipo pólo (por dentro da calça). O cinto era preto. Seus olhos eram bem pretos, brilhantes, e a pele bem moreno-avermelhada. No conjunto, ele mais parecia um mestiço de branco com índio americano, moderno no jeito, mas com uma certa atmosfera ancestral xamânica.

Ele me olhou e riu e, na sequência, pegou o cão no colo.
O animal se mexia feliz junto dele, tentando lambê-lo todo tempo. Em torno dele havia uma aura amarelo-suave, que irradiava uma atmosfera de segurança e tranquilidade à sua volta.

Enquanto acariciava o animal em seu colo, ele me olhou firmemente e com simpatia e me disse: "Já que você fala das coisas do espírito para os homens encarnados na Terra, então diga-lhes que até mesmo os animais têm assistência espiritual após o desenlace da matéria. Eles são cuidados e afagados com muito carinho. Há grupos de auxiliares astrais que cuidam especificamente deles em seus períodos extrafísicos. São espíritos dedicados ao bem-estar desses nossos irmãos menores na Natureza.

E mais: peça aqueles que gostam dos animais, que orem na sintonia desses benfeitores invisíveis; para que eles se associem sutilmente com eles, em espírito, na mesma bondade e amor por esses serzinhos tão queridos.

Nenhuma criatura é abandonada pelo Grande Espírito.
O Seu Amor é para todos!
A Sua Luz anima todas as luzes e seres.
Para Ele, todos são iguais na Natureza.
Homens e animais, vegetais e minerais, todos são Seus filhos.


Que aqueles que sofrem com a perda temporária de seu bichinho amado, seja ele qual for, rezem ao Grande Espírito, para confortar seus corações. Mas, que saibam, também, que há outros seres que amam os seus bichinhos, e que seguirão cuidando deles nesse imenso universo do Grande Espírito, cheio de vida, em todos os planos.

O meu recado é só esse.
Que Manitu abençoe a sua jornada!'

http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=09830

sábado, 8 de maio de 2010

DOCE AMPARO

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Minha homenagem à todas as Mães,e a minha doce mãe que sempre me amparou e continua amparando, mesmo estando do outro lado...
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Quando eu cheguei
Ela me deu um colinho DOCE e um chazinho de ERVA-DOCE
Quando eu era menininha e brincávamos de PUXA-PUXA,QUEBRA-QUEIXO, e pintávamos o SETE BELO
Ela ficava de CUECA-VIRADA e RAPADURA e a gente pensava:aí vem BOLO!
Então ela nos sentava e fazia um discurso que mais parecia chá de Boldo com Pimenta e Giló
Mas depois ela ficava MARIA-MOLE e aí vinha o BOLO,BOLO de CHOCOLATE,PUDIM de LARANJA,QUINDIM...
Quando a gente se machucava ela dava um BEIJO de MOÇA e pronto!Passava...
Nos ensinou a esperar Papai-Noel com PÃO-de-MEL e BISCOITO de NATAL
E quando chovia,e a gente ficava triste,ela fazia BOLINHOS com muito AÇUCAR e CANELA
Depois eu cresci,mas ainda era o seu DOCE-de -CÔCO e quando a vida me dava um Limão,ela me pedia e fazia uma LIMONADA...
E me enchia de SONHO-de-VALSA dizendo:
A Vida é uma Festa,dança,saboreia bem os BEIJINHOS,come os BRIGADEIROS e os BRANQUINHOS mas com moderação,senão dá dor-de-barriga...
Então um dia ela foi convidada para uma Grande Festa,pra adoçar um pouco lá em cima
E subiu,envolta em ALGODÃO DOCE e PIPOCA...
Todas as vezes que vejo o Arco-Iris,sei que ela está lá,adoçando a Festa,distribuindo MAÇÃS-do-AMOR entre PÉS-de-MOLEQUE e PAPOS-de-ANJO...
Mas ela me deixou uma cesta de SONHOS,pra levar pela Vida,perfumados de ERVA-DOCE,AÇÚCAR e CANELA...
Hoje eu soltei muitos balões coloridos,recheados com AMOR-EM-PEDACINHOS
Pra levar até ela muitos beijos
Lambuzados de MERENGUE e CHOCOLATE...
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Anna Geralda Vervloet Paim
Porto Alegre, 12/11/2008

sexta-feira, 7 de maio de 2010

AMATERASU OMI KAMI

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A SENHORA DA LUZ CELESTIAL

“O brilho da Deusa do Sol preencheu o Universo
e todas as divindades festejaram alegremente.”

(Pergaminho japonês do séc VIII)

Na maioria das culturas e línguas modernas (com exceção do alemão), o Sol é considerado um arquétipo masculino.

No entanto, nem sempre foi assim. As religiões antigas de várias partes do mundo reverenciavam o Sol como uma Deusa doadora da vida.

Com o passar do tempo, a perseguição dos arquétipos divinos femininos e o predomínio das religiões e valores patriarcais trouxe uma nova hierarquia cósmica.

O Sol passou a ser adorado como o Pai Celeste, enquanto a Terra era a Mãe, fertilizada pelos seus raios e calor.

Somente os japoneses, escandinavos e alguns povos nativos (norte-americanos, esquimós e australianos) preservaram a memória ancestral dos poderes geradores e mantenedores da vida dos raios solares, como sendo atributos de uma deusa, e não de um deus.

Entre as deusas solares, sobressai-se Amaterasu, considerada a progenitora da família real japonesa e o símbolo da unidade cultural do povo.

As escrituras xintoístas dos primeiros séculos descrevem Amaterasu como a ancestral divina primordial, a senhora do brilho celeste e do calor solar, padroeira da agricultura e da tecelagem.

Às margens do rio Ise Wan, encontra-se um templo simples, de madeira, sem imagens, que guarda o sagrado espelho com oito braços da deusa e para onde milhares de peregrinos levam suas orações e oferendas.

Considerada a responsável pelo cultivo dos campos de arroz, pelos canais de irrigação, artes têxteis e preparo da comida, Amaterasu é reverenciada até hoje no nascer e no pôr-do-sol, nos altares dos templos e das casas, principalmente pelas mulheres mais idosas.

Em seu mito, Amaterasu é descrita como uma deusa radiante e bondosa, invejada pelo seu irmão Susanowo, o Deus do Tufão, que passou a desrespeitá-la e a destruir suas criações. Após agüentar a destruição das lavouras de arroz e a dessacralização dos seus templos, Amaterasu ficou tão magoada com a morte de algumas mulheres, violentadas pelo seu irmão, que se enclausurou em uma gruta, recusando-se a sair. Alarmados com o fenecimento da vegetação e o frio e a escuridão que se espalharam sobre a Terra, as outras divindades tentaram encontrar um meio para trazer a Deusa de volta. Oito mil deuses reuniram-se na frente da gruta fazendo muito barulho, enquanto Uzume, a deusa xamânica da alegria, fazia todos rirem com suas brincadeiras e os movimentos lascivos dos seu volumoso ventre nu.

Curiosa com o motivo da algazarra e das risadas, Amaterasu abriu os véus que cobriam a entrada da gruta e sua figura refletiu-se em um enorme espelho de cobre, ali colocado pelas divindades. Ao se deparar com a linda imagem no espelho, Amaterasu sentiu-se enfeitiçada pela sua própria beleza e permaneceu estática, em contemplação. Rapidamente, o Deus da Montanha fechou com rochas a entrada da gruta, enquanto deuses e mortais cantavam louvores ao esplendor de Amaterasu. Comovida, ela cedeu aos pedidos e deixou-se conduzir de volta ao seu palácio dourado. De lá, Amaterasu continua vigiando a Terra e suas lavouras e atende aos pedidos e orações, principalmente das mulheres que sofreram alguma violência da parte dos homens.

Refletindo sobre o significado oculto deste mito, podemos perceber o antagonismo entre as polaridades representadas por Amaterasu (ordem, dignidade, bondade) e Susanowo (rebelião, maldade, violência). O conflito entre o invejoso Deus do Tufão e a ordem celeste, pertencente à sua irmã, seria uma metáfora para o confronto entre duas tradições religiosas ou a descrição dos poderes destruidores da tempestade, prejudicando a abundância das colheitas.

Na visão feminista, as atitudes de desacato de Susanowo são vistas como demonstrações do ressentimento masculino que não aceita nem respeita a ordem e autoridade feminina, seja divina ou humana.

O afastamento da deusa e a decorrente aridez e escuridão sobre a Terra demonstram a importância vital do princípio feminino, que deve ser reconhecido, respeitado e honrado.

O mito de Amaterasu alerta os homens para nem ofender nem prejudicar as mulheres, enquanto que para elas o incentivo é para estabelecer e defender seus limites, evitando assim abusos e violências.

Para restabelecer a ordem natural e social, é vital que cesse a destruição da Natureza e a violência masculina contra as mulheres.


Conscientes do seu valor e da sua força, mulheres de todos os lugares e crenças deverão sair dos seus esconderijos e projetar sua luz e seu amor para apaziguar e iluminar a Terra.

http://www.imagick.org.br/apres/ArtigoTextos/TesourosMitologicos/Amaterasue.html