imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

BLOG COM MEUS POEMAS:

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/



domingo, 31 de janeiro de 2010

AVATAR E O SAGRADO FEMININO

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Eu fui ver o Avatar e fiquei doente…toda aquela violência fez-me mal, PORQUE ela não é ficção não, não é nenhum efeito especial: ela estava ali toda, estava ali tão bem expressa, contra a fauna e a flora e o seu povo azul… essa violência contra a Terra Mãe e a DEUSA, contra as suas árvores sagradas, os seus templos feitos de raízes…

Essa violência brutal doeu-me tanto na alma que o meu corpo ficou doente e eu agoniada e sem forças…

Quando saí do cinema eu vomitava esta Raça de predadores…

Eu vivi na minha pele toda aquela violência como real porque ela é completamente actual, eu sei que ela é REAL e o meu corpo sabe, as minhas células sabem, reconhecem o facínora do general americano e os seus autómatos mercenários, na sua mentalidade de escravos, robots do Império do medo, os mesmos de todas as guerras, manipulados pelos mesmos grandes banqueiros deste ocidente putrefacto e das grandes famílias que detêm todo poder na Terra, dos Mercados das Economias, que dominam e controlam os Media e as Farmacêuticas e que só vêem dinheiro e poder, esses Hitleres invisíveis que matam sem escrúpulos e destroem povos e terras…por PODER, por ouro, pedras ou petróleo, essa é a nossa historia AGORA!

Essa é a nossa História a do Sec. XXI e que apenas começou…

PODE O ACORDAR DA TERRA, DA MÃE E DA MULHER mudar a face do Mundo?

http://rosaleonor.blogspot.com/2010/01/em-que-mundo-vivemos.html



...Sem falar da belíssima fotografia do filme e de seu ritmo perfeito , me sensibilizou profundamente a valorização do Sagrado Feminino e a condenação de um patriarcado desumano e hostil.

Quando assisti ao diretor James Cameron receber o Globo de Ouro por melhor filme dizer que Avatar mostrava que tudo está ligado, eu fiquei ligada. “Opa, este filme parece ter algo importante a acrescentar”, pensei eu. E realmente, me deslumbrei com a força do Sagrado Feminino no filme. Fiquei feliz de ver que os corações estão se abrindo e podemos enxergar mais a fundo. Primeiro foi O Código Da Vinci , agora é Avatar. Mesmo sem citar nominalmente o Sagrado Feminino, como faz O Código Da Vinci, Avatar demonstra o que a Deusa é, a Sua essência, o Seu significado.

Pandora( a lua dos seres azuis) representa o Sagrado Feminino. O respeito e a veneração da Natureza, o respeito à vida e o entendimento da morte, a comunhão entre todos, o ser natural(e selvagem quer dizer isto), a cura pela Natureza, a valorização de todas as formas de vida, o entendimento a cerca da rede de energia, tudo isto é o povo dos seres azuis, tudo isto é o Sagrado Feminino, tudo isto é a Deusa.

Do outro lado, do lado vilão, encontramos o capitão e seus soldados, representantes do patriarcado que se baseia no ego, na disputa, na satisfação única e pessoal, na violência, no desrespeito, na ganância, na crueldade. E como eu me revoltava ao ver tanta maldade, tanto egocentrismo e tanta doença, doença da alma, a alma partida e dividida! Aqui não encontramos o polo oposto e complementar do Sagrado Feminino, pois sua polaridade complementar é o Sagrado Masculino, tão bem representado pelo herói do filme.

O patriarcado, é bom lembrar e até mesmo avisar, não é dos homens enquanto o Sagrado Feminino é apenas das mulheres. Ele é um modelo cultural e social, que infelizmente ainda domina o nosso mundo atual, mesmo que muitas vezes disfarçado, deturpando e usurpando a sacralidade também do masculino.

Achei muito interessante no filme o fato de suas mulheres”civilizadas” mesmo fazendo parte do esquema patriarcal, conseguirem acordar para a força de seu próprio Sagrado Feminino. Enquanto que o herói do filme uma vez tocado pelo Sagrado Feminino consegue despertar o seu Sagrado Masculino.

O Sagrado Feminino faz parte de homens e mulheres que estejam prontos para senti-lo em si próprios, no outro e no mundo. Pois a força da Deusa, da essência feminina, permeia tudo! É uma rede que dá sentido a tudo. É a Natureza, sou eu, sou você. Não é simplesmente um sistema político e social, como o patriarcado. O Sagrado Feminino é uma força da vida, da existência, que sim, foi reprimida e ocultada pelo patriarcado, mas que nunca deixou de existir. É deste Sagrado Feminino que precisamos com urgência no mundo atual, para nos equlibrarmos, equilibrarmos nossas vidas, equilibrarmos o mundo!

http://www.annaleao.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=62

Imagem:Dipski,do site deviantArt

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CHUANG TZU

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"O fácil é certo. Comece certo e tudo será fácil. Continue no fácil, e você estará certo. O modo certo de estar no fácil é esquecer o caminho certo. E esquecer que o fluxo é fácil", Chuang Tsu

O construtor da Natureza (Deus) não é sádico, não se diverte nos dando problemas complicados para resolver. Sabendo disso, Chuang Tsu nos exorta para sermos natural. Tudo que não seja natural deve ser evitado. Nada faça que não seja natural. A natureza é o suficiente e não podemos melhorá-la.

Mas o nosso ego diz: não, podemos melhorar a natureza, e é porisso que existe a cultura. Qualquer tentativa de melhorar a natureza é cultura, e toda cultura é como uma doença: quanto mais culto for um homem, mais perigoso será. Chuang Tsu não é adepto da cultura. Ele afirma que a natureza é o valor supremo, e a essa natureza suprema ele dá o nome de Tao. Tao significa que a natureza é o que há de supremo e não pode ser aperfeiçoada. Quando se tenta aperfeiçoá-la, ela é mutilada.

É assim que mutilamos nossas crianças. Toda criança nasce no Tao, e então a mutilamos com a sociedade, a civilização, a cultura, a moral, a religião... tratamos de mutilá-la de todos os jeitos. E ela vive, mas não está viva.

Quanto mais culto e civilizado, mais morto. Se quiser ver homens perfeitamente mortos, apesar de vivos, vá visitar os monges nos mosteiros, procure os padres nas igrejas, vá ao encontro do papa no Vaticano. Eles não estão vivos: têm tanto medo da vida, tanto medo da Natureza que trataram de suprimi-las com regras. Já estão no túmulo. Podemos pintar o túmulo, podemos até fazer um túmulo de mármore, muito caro, mas o sujeito lá dentro está morto.

A cultura nos mata, é uma assassina, um veneno que age lentamente: é o suicídio. Chuang Tzu e seu velho mestre, Lao Tzu, são contra a cultura. São a favor da Natureza, da natureza pura. As árvores estão em melhor situação que você, até os pássaros, os peixes do rio estão em melhor situação, pois têm mais vida, dançam mais ao ritmo da natureza.

Você nasceu: que esforço você fez para nascer? Você cresce: que esforço terá feito para crescer? Você respira: que esforço faz para respirar? Tudo se move por conta própria, por que então preocupar-se? Deixe a vida fluir por si mesma, e você estará indo junto. Não lute nem tente ir contra a corrente. Seja uma nuvem branca movendo-se no céu: nenhum objetivo, indo para lugar nenhum, simplesmente flutuando. Esse flutuar é o supremo desabrochar. Idéias do revolucionário Chuang Tzu...

Você esqueceu completamente o que é a natureza. Condenou-a radicalmente. E se quiser condenar a natureza você tem de começar condenando o sexo, pois é dele que emana toda a natureza. A natureza inteira é um transbordamento de energia sexual, de amor. Os pássaros cantam, as árvores florescem: tudo isso é energia sexual explodindo. As flores são símbolos sexuais, o canto dos pássaros é sexual, todo o Tao não passa de energia sexual: a natureza inteira se propaga, se ama, orienta-se para êxtases mais profundos de amor e vida. Portanto, se você quiser destruir a natureza, condene o sexo, condene o amor, erija conceitos morais em torno da vida. Esses conceitos morais, por mais belos que pareçam, serão como túmulos de mármore, e você estará em seu interior. Sua moralidade é uma espécie de morte: antes de ser morto pela morte, você é morto pela sociedade moralista.


Porisso é que a mensagem de Chuang Tzu é uma das mais perigosas, das mais revolucionárias, das mais rebeldes, pois ele afirma: "Deixe a natureza ser! E não lhe atribua meta alguma. Quem é você para criar metas e objetivos? Você é apenas uma partícula minúscula, uma célula atômica. Quem é você para obrigar o Todo a se mover de acordo com a sua vontade?". Esse perigo é maior para as pessoas religiosas, para os puritanos moralistas. Esta mensagem é muito perigosa. Significa romper todas as barreiras, permitir que a natureza se manifeste sem nenhum controle - é mesmo muito perigoso.

Os padres têm medo da saúde porque, para eles, ela é imoral. Você talvez tenha ouvido falar de um pensador alemão do Século XX, muito famoso em sua época - o conde Keyserling. Ele era considerado um grande filósofo religioso, e escreveu em seu diário: a saúde é a coisa mais imoral que existe. Pois saúde é energia, e energia é prazer, contentamento, energia é amor, é sexo, tudo que é natural. Destruir a energia, torná-la fraca e vacilante. Donde tanto jejum - simplesmente para destruir a energia, impedir que se manifeste tanta energia, que comece a transbordar. As pessoas religiosas sempre acharam que a saúde é perigosa. Deixar de ser saudável torna-se, portanto, uma meta espiritual.

Chuang Tzu é muito rebelde. Diz ele: "A natureza, a energia e o êxtase que vêm com o transbordamento, assim como o equilíbrio que se manifesta espontaneamente, são o suficiente". Não é preciso nenhum esforço para isso. Existe tanta beleza acontecendo na natureza sem nenhum esforço: uma rosa é bela sem nenhum esforço, o cuco canta sem nenhum esforço...

Veja a natureza: tudo é tão perfeito. Será possível aperfeiçoar uma rosa? Será possível aperfeiçoar a natureza de alguma forma? Só o homem deu errado em algum momento. Se a rosa é bela sem fazer esforço, por que não o homem? O que há de errado com o homem? Se as estrelas continuam belas sem nenhum esforço, sem posições de ioga, por que não o homem? O homem faz parte da natureza, assim como as estrelas. De modo que Chuang Tzu diz: "Seja natural, e você florescerá". Se se compenetrar desse entendimento cada vez mais profundamente, todo esforço haverá de perder o sentido. Você deixará de estar o tempo todo providenciando coisas para o futuro, passará a viver no aqui e agora, o momento presente será tudo, este momento é a eternidade. E o estado búdico já é uma realidade, você já é um buda. A única coisa que falta é que você ainda não permitiu o seu desabrochar, tão ocupado está em seus projetos.

A flor floresce sem nenhum esforço porque a energia não é dissipada em projetos; a flor não planeja para o futuro, a flor é, aqui e agora. Seja como uma flor, seja como um pássaro, seja como uma árvore, um rio ou o oceano - mas não seja como um homem. Pois o homem, de alguma forma, deu errado.

A natureza é ser natural - natural sem esforço, espontaneamente natural -, eis a essência dos ensinamentos que nos deixou Chuang Tzu. Chuang Tzu é muito especial. Sua singularidade é que ele fala através de absurdos. E é muito significativo o motivo pelo qual ele escolhe o absurdo como forma de expressão: a mente precisa ser calada. Com as coisas racionais, ela não pára de funcionar; ela está sempre indo adiante. Em qualquer coisa lógica que se manifeste, a mente encontra o seu alimento. Só o absurdo é capaz de chocar repentinamente a mente - pois isto está fora do seu alcance.

As histórias, os poemas e as declarações de Chuang Tzu eram tão absurdos que as pessoas costumavam simplesmente deixá-lo, pensando que ele era maluco... Os que eram suficientemente corajosos para permanecer a seu lado, constatavam que não era necessária nenhuma outra meditação. Pelo simples fato de ouvir suas afirmações absurdas, a mente pára de funcionar. E é esse o significado principal da meditação. Chuang Tzu fala por absurdos, e a mente não consegue lidar com eles. A mente precisa de coisas razoáveis, racionais, lógicas; esse é o seu território. O absurdo está além do seu alcance.

Os ensinamentos de Chuang Tzu eram muito simples, e todos aqueles que ficaram a seu lado tornaram-se iluminados. Isto é um fenômeno raro. Neste quesito, ele derrotou até mesmo o seu próprio mestre Lao Tzu: algumas pessoas se tornaram iluminadas, mas a maioria dos discípulos de Lao Tzu permaneceu na antiga ignorância. Ele derrotou também Gautama Buda: alguns poucos de seus discípulos tornaram-se iluminados, mas numa proporção muito pequena, pois ele tinha milhares de discípulos, e não mais que uma dúzia deles se tornou iluminada. Todos os discípulos de Chuang Tzu tornaram-se iluminados... ele não os abandonava enquanto não se tivessem iluminado! Ele tanto ficava em cima que as pessoas acabavam decidindo que era melhor tornar-se iluminado. Diariamente, uma nova tortura... a única maneira de escapar disso era tornar-se iluminado.

Fonte:http://holosgaia.blogspot.com/2010/01/venda-de-medo-e-preocupacao.html

Imagem:Google

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A VENDA DO MEDO

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A sociedade humana vive vendendo aos seus membros (e nós acabamos comprando...) medo, problemas e preocupações. Podemos observar isso em todos os meios de comunicação, com notícias sobre o aquecimento global, pagamento de impostos, vestibular para faculdades, guerras, assassinatos, poluição, enchentes, terremotos, tsunamis, fim do mundo em 2.012, aumento de problemas de saúde (câncer, problemas cardíacos e circulatórios, etc), colapso econômico e financeiro mundial, desemprego em alta, queda de aviões, invernos nunca vistos, corrupção dos governantes, illuminati, extraterrestres maldosos invadindo a Terra, aposentadorias em perigo, água pública contaminada, céu envenenado por chemtrails, terra contaminada por agrotóxicos, pessoas morrendo, etc etc. Por que isso é feito pelos controladores do mundo? Porque, se comprarmos essas idéias como verdadeiras e inevitáveis, iremos abrir mão de nosso poder (de nossa soberania pessoal) e continuaremos escravos desses agentes do mal. Para que não sobre tempo para nós pensarmos em coisas relevantes, além dessas más noticías somos atraídos para uma enorme quantidade de diversões (distrações), como assistir televisão, ficar apaixonado por algum esporte, por campeonatos mundiais de todos os esportes, por olimpíadas, por circo, por parque de diversões, por cinema, por teatro, etc. (para ficarmos na posição de observadores preguiçosos/passivos e, não, de participantes ativos)


No entanto, não devemos ter medo de nada, pois somos todos seres imortais! Um ser imortal, por hipótese, não tem medo da morte e de nenhuma circunstância que pode levar à morte, como aquelas que nos são vendidas para nos causar medo, como as citadas acima. O oposto do medo é o amor! Portanto, os manipuladores sociais querem nos incutir medo para nos evitar de amar. Quem realmente ama não tem medo. O amor é a cola do Universo, o elemento agregador de todas as partes do Cosmos. Quando você ama alguém, deseja que essa pessoa esteja sempre próxima de você. Dá vontade de ficar "colada" com essa pessoa, inclusive sexualmente.


Uma das raízes do medo é a noção usual (errada) de que somos uma individualidade separada do resto do Universo, da Natureza, do Todo. Isso nos enfraquece e nos gera medo, pois devemos lutar contra tudo e contra todos para nos manter vivos: "A vida é uma luta!". Partimos, então, para a competição ao invés de irmos na direção da colaboração. Um antigo sábio chinês (Chuang Tzu) dizia: "O simples é o certo". É muito mais simples cooperar do que competir. Portanto, cooperar é o certo e competir é o errado. Para nos incutir medo, nos mostram todos os dias que pessoas morrem e são enterradas nos cemitérios. Mas, nenhuma pessoa morre (pois são todas imortais), apenas perdem seu corpo físico por usarem mal o seu livre-arbítrio. Deus não é sádico e, portanto, não cria os seres humanos para os colocar no "corredor da morte", aguardando execução e enterro no cemitério. Cemitério é local de suicidas. Os suicídios (conscientes e inconscientes) ocorrem por falta de amor por si mesmo e pelo resto da criação divina. Só podemos dar o que temos, inclusive o amor. A prática contínua do amor elimina radicalmente todos os sete pecados capitais/mortais (que nos levam para o cemitério), gerando as sete virtudes capitais...


Na prática, corpo físico e mente não são separáveis. Daí o ditado "mente sã em corpo são". Logo, temos dois tipos de alimentação que afetam nosso corpo físico: a alimentação bucal e a alimentação mental. A alimentação bucal correta nós já sabemos qual é: é o alimento preparado por Deus, sem interferência humana, para os seus filhos (nós!) que é, basicamente, frutas cruas. A alimentação mental venenosa, e portanto prejudicial ao nosso corpo, são todos os pensamentos negativos induzidos pelas más notícias que recebemos diariamente. Essas notícias negativas são o resultado da falta de amor e nos induzem para o mesmo caminho da falta de amor.


Todo o Mal progride (didaticamente) até certo ponto, mas quem tem a palavra final é o Bem. Existem equipes de seres inteligentes e bondosos que supervisionam todo o funcionamento do Universo, inclusive existe uma Equipe de Supervisão individual que acompanha cada um de nós, tentando nos induzir ao bem, mas respeitando nosso livre-arbítrio. Um dos membros de nossa equipe individual de supervisão é conhecido como "Anjo da Guarda"...

Fonte:http://holosgaia.blogspot.com/2010/01/venda-de-medo-e-preocupacao.html

Imagem:John Jude Palencar

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

PODER FEMININO

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Assim como a Lua, os ciclos femininos são de todos, os maiores mistérios da humanidade.
A soberania do poder feminino nos ciclos mediterrânicos, e alguns traços semelhantes em algumas culturas matriarcais do Oriente, se faz presente nos sacrifícios de sangue do guerreiro.
Lutar pela Virgem, num quadro telúrico da guerra (não só isso, mas nos ritos orgiáticos), faz manifestar esta força tão poderosa, tão formidável que o masculino se dissolve ou transmuta-se em feminino. As Virgens das batalhas e das tempestades, as Valquírias nórdicas, as Fravashi iranianas, as centenas de virgens dos islamitas que os esperam depois de mortos, lembram-nos Kali, Ártemis Orthia, Ishtar e todos os sacrifícios de sangue.
Que força poderosa é essa?
A mulher urbana tem consciência do poder feminino?


A natureza, como diz o poeta, apesar de todo o discurso e de toda a porrada, continua fêmea e indomada."
(autoria desconhecida)

Fonte:http://femininoessencial.blogspot.com/2009/06/virgem-e-o-sacrificio-de-sangue-do.html

sábado, 23 de janeiro de 2010

BÊNÇÃO DA MENSTRUAÇÃO

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Nenhuma mulher contemporânea poderá ser realmente plena, feliz e saudável se não aprender a desenvolver uma relação de auto-amor e consciência com o próprio corpo e seus ciclos femininos.


O lindo texto abaixo é uma Benção Pagã do Circle Round. Meu intuito ao divulgar esta benção da primeira menstruação é poder disseminar um pouco mais de "consciência mente-corpo-espírito" a todas as garotas que estão se transformando em mulheres com a chegada da primeira menstruação.


Percebam que menstruação é saúde, é poder, é feminilidade, é magia do sagrado feminino, é empoderar-se, é um tempo para cuidar de si mesma, enfim é um momento especial e sagrado, para ser aproveitado ao máximo com honra e respeito por si mesma.


Então se você é uma garota que está começando a vivenciar os ciclos menstruais, ou ainda, se você conhece alguém que está vivenciando esta fase do ciclo feminino, leia esta benção, medite sobre esta benção, divulgue, conscientize-se, abençõe cada menstruação sua, empodere-se e deixe de ser apenas mais uma na multidão da tpm, é lindo menstruar, é muito bom ser mulher!

Benção da 1ª Menstruação



"Que tu sejas livre, sejas bela, sejas tu mesma, sejas afortunada, tenhas orgulho de ser uma mulher, sejas amante e sejas amada.
Que teu corpo sempre seja uma benção para ti, um templo de amor e prazer. Que a tua matriz traga o fruto que tu desejares.

Possas tu sempre recordar-te que teu poder criador reside no teu corpo, mas não está unido a ele.
Possas tu trazer todas as espécies de frutos diferentes.
Honra o sangue que cresce e decresce com a lua, porque é a presença viva da Deusa.
Possa o teu sangue correr devagar, sem dor, recordando-te que em tí encontra-se o círculo da vida; nascimento, crescimento, da morte e do renascimento.

A ti pertence o poder de abrir ou fechar as portas da vida e cabe-te a responsabilidade de ser uma ama conscienciosa.
Abraça o amor quando assim o tiveres escolhido e quando não o poderes escolher, possas tu ser inviolável.
Cuida de teu corpo como cuidarias de um espaço sagrado e cuida daqueles que tu amas.

Possa a tua vida ser rica das mil formas de amor: paixão, afeição, devoção, compaixão, humor e diversão, aventuras selvagens e um lar seguro para onde sempre possas retornar.
Possas tu encontrar amantes, parceiros, amigos e companheiros, aqueles que de tí cuidarão e aqueles de quem tu cuidarás. Saibas que és única e preciosa e que ninguém pode tomar o teu lugar.

Sejas sempre Abençoada! Assim seja, assim é!"


e tem mais...

O ciclo menstrual é aliado, e não inimigo,
do equilíbrio feminino

Por Dr. Eliezer Berenstein


Nos últimos anos, um modismo passou a ser rotina dos tratamentos ginecológicos brasileiros — a supressão da menstruação. Mas, seria ela realmente uma sangria inútil? No livro A INTELIGÊNCIA HORMONAL DA MULHER, o Dr. Eliezer Berenstein afirma que o ciclo menstrual é o aliado número um da mulher, uma prova de que o organismo feminino está em sintonia com a natureza e fundamental para o seu equilíbrio físico e psicológico.
Na obra, Dr. Eliezer explica que o cérebro feminino é inundado de hormônios ao longo do mês. Por isso, ao se interromper a menstruação, a harmonia do ciclo hormonal estará comprometida. O autor assinala, ainda, o risco das doses extras de testosterona — método para a interrupção do sangramento — aplicadas nas pacientes que desejam encerrar o ciclo menstrual: "elas podem ficar masculinizadas".


O Dr. Berenstein lembra que a mulher é um ser essencialmente hormonal. Da espécie humana que vivia nas cavernas à mulher moderna, toda a evolução do físico feminino foi impulsionada graças às ações dos hormônios. Substâncias que transformaram o corpo da fêmea em um verdadeiro caldeirão em ebulição. Os hormônios influenciam desde a aparência da pele até as respostas cardíacas. Do temperamento às doenças psíquicas, como a depressão. Da T.P.M à libido. São tão fundamentais que o Dr. Berenstein sugere uma nova classificação de inteligência: a Inteligência Hormonal (QH).
Conhecer os hormônios e como eles agem no organismo é a chave, segundo o médico, para se tirar proveito dos benefícios que essas substâncias podem proporcionar. E, assim, melhorar o QH. O livro traz uma tabela que auxilia a mulher na identificação dos hormônios em destaque ao longo do ciclo. Na primeira fase do ciclo, por exemplo, predomina o estrogênio. Nesses dias, a mulher está pronta para o jogo da sedução e para a competição. Com a QH como aliada, as mulheres ganham qualidade de vida, passam a enfrentar melhor o cotidiano, o trabalho e as relações pessoais. Por isso, argumenta Berenstein, a menstruação é primordial ao corpo feminino


Fonte:http://femininoessencial.blogspot.com/2009/08/bencao-da-1-menstruacao-e-livro.html

Imagem:
* Zeng Chuanxing
* Google

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MITO DE EROS E PSIQUÊ E LIÇÕES DO FEMININO

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(...) “E Afrodite manda que Psiquê encha uma taça de cristal com água do Estige, um rio que nasce no alto de uma montanha, desaparece sob a terra e retorna à montanha. É um rio circular que depois de passar pelas regiões abissais do inferno, sempre retorna às suas origens. Por ser guardado por monstros perigosos, não há como aproximar-se dele o suficiente para recolher uma taça de água. Fiel à sua forma de reagir, Psiquê de novo se desestrutura, mas desta vez fica entorpecida pela certeza da derrota, a tal ponto que nem chorar ela consegue. È então que aparece a ÁGUIA de Zeus. O deus pede à águia que vá ao encontro de Psique. Ao chegar perto da jovem aflita, a águia pega a taça de cristal, voa até o centro do rio perigoso e de lá traz o cálice cheio para Psiquê, que assim vê completada a sua tarefa.

Esse é o rio da vida, com seus altos e baixos, do alto da montanha, às profundezas da terra. A correnteza é veloz e traiçoeira; suas margens, escorregadias e íngremes. Quem se aproximar muito, facilmente poderá ser arrastado pra depois afogar-se ou ser esmagado contra as rochas que há no seu leito.

Esta tarefa nos mostra como a feminilidade deve relacionar-se com as infinitas possibilidades da vida. Psique só poderá encher uma taça de água de cada vez. A forma feminina de agir é fazer uma coisa por vez, e fazê-la mito bem feita. Não lhe é negada uma segunda, uma terceira, uma décima vez; mas é só uma taça por vez, com ordenação.

O aspecto feminino da psique humana tem sido descrito por alguns psicólogos, como percepção difusa. A natureza feminina é inundada pelas infinitas possibilidades que a vida proporciona. E vê-se atirada a todas elas quase que de pronto.

E a grande dificuldade é que ninguém pode ser tudo, ao mesmo tempo e imediatamente. Parte das possibilidades que nos são dadas, contrapõem-se, portanto temos de escolher. Como a Águia, que tem visão panorâmica, temos de focalizar um ponto no rio, mergulhar, e trazer uma, só uma, taça de água.

Existe um conceito popular afirmando que se pouco já é bom, mais é melhor. A propaganda, por outro lado, nos diz para agarrar todo o sabor que se possa arrancar da vida. Isso não funciona. Significa que nunca se está satisfeito, significa que mesmo que se esteja no auge de uma experiência muito boa, já se está de olho em outras possibilidades. Que nunca se está contente, por estar sempre atrás de algo maior, ou melhor.

Por outro lado, o mito nos mostra que já um pouco de algo bom, desde que sentido com real consciência, nos será suficiente. É possível ver o mundo num grão de areia. Poderemos concentrar-nos em um aspecto da vida, ou em uma experiência, absorvê-la e esgotá-la. Só aí é que poderemos partir, com ordenação, em direção a qualquer outra experiência que possa aparecer.

A taça de cristal é o que contém a água; e cristal, como se sabe, é muito delicado e muito frágil. O ego humano pode ser comparado à taça de cristal. É o continente para parte da imensidão do rio da vida. Se o “ego-continente”, tal como a taça, não se relacionar cuidadosamente com o belo, mas traiçoeiro rio, poderá se estilhaçar. É necessário uma “natureza-águia” para ver claramente o lugar onde mergulhar no rio. Talvez também o ego que esteja tentando trazer para a consciência uma parte das profundezas inconscientes, possa ser aconselhado a retirar somente um cálice por vez, para não se ver esmagado, pois como ego-continente, pode ser estilhaçado.

Um indivíduo despreparado que se aproxime do rio da vida por terra, de um dos pontos das vastíssimas margens, pode, pelo seu ponto de vista, olhar para a estonteante confusão e sentir que não há como escolher. Se chegar ao rio por outra margem, num outro ponto, poderá achar a água estagnada, aparentemente sem movimento ou vida e não ter expectativa de mudança. Quem se aproximar desse rio vindo de sua margem particular, de um ponto quase sem perspectiva, por vezes vai precisar do auxílio de sua natureza Águia para ter seu campo de visão ampliado e assim poder ver uma parte maior do rio, com seus meandros, suas curvas, suas mudanças de curso. Assim, de um ponto de vista diferente, poderá vislumbrar outras possibilidades. Precisamos de nossa “natureza-águia” principalmente quando parece estarmos presas numa curva sinistra do rio.

O conselho dado por essa passagem do mito nos é particularmente útil nos dias atuais. Quase todas as mulheres que conheço, atiraram-se ao rio com sofreguidão, e se sentiram oprimidas. Quase todas as mulheres que conheço estão sempre muito ocupadas, fazendo isto ou aquilo, estudando, comprometidas com várias coisas, trabalhando exaustivamente em algum projeto, correndo de um lado para outro até ficarem em pedaços.

É preciso acalmar-se, saber lidar ordenadamente com as infinitas possibilidades que a vida proporciona.”

Fazer uma coisa: pegar uma taça de cristal por vez, concentrar-se nela e faze-la bem feita. Aí, então, poderá dar um novo passo, no sentido de realizar outras coisas."

Johnson, Robert. SHE. Editora Mercuryo

Fonte:http://femininoessencial.blogspot.com/2009/11/mitos-de-eros-e-psique-e-licoes-do.html

Imagem:Elisabetta Trevisan

sábado, 16 de janeiro de 2010

URGENTE!!!PRECISAMOS DESPERTAR!!!

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Precisamos despertar.
Exatamente agora,vivemos em um mundo em que a consciência humana é básicamente função daquilo que chamamos "mentalidade da massa", a qual é controlada e manipulada por toda gama de instituições que são fatores-chave da vida moderna, como governos e grande mídia,que liberam contínuamente informações de natureza negativa, fazendo com que a mente das pessoas - a massa - viceje na energia negativa.

Essa energia negativa tem o apoio institucional, e o resultado disso é que a humanidade como um todo se encontra nas garras de um tipo muito ruim de hipnose cultural ou transe civilizacional.

Criamos tamanho desequilíbrio pela farra tecnológica, pelo esgotamento de recursos e pela poluição do planeta, que precisamos despertar se quizermos continuar a aproveitar a vida no planeta.

O despertar significará que realmente vemos que a tecnologia não pode nos ajudar e que teremos de ir além dela.Se não o fizermos, o planeta naturalmente se autodestruirá,porque já saiu muito de seu equilíbrio.

Estamos precisamente naquele ponto do tempo em que a diferença entre o número considerável de seres despertos e no comando e os não despertos constituirá a diferença entre o planeta se autodestruir ou prosseguir em seu caminho evolutivo.

Usando a imagem da Terra como uma espaçonave, embora possamos esgotar as reservas de energia, ainda teremos a força central, o Sol, e nossa própria instrumentação biopsíquica muito sofisticada, nosso ser, nosso corpo.

Em termos da espaçonave Terra, a tripulação errada está no comando e chegou a hora de um motim.

José Arguelles,Ph. D.,"O Fator Maia",trecho do livro "O Mistério 2012",Geração Editorial

Eu me pergunto:
Vamos continuar de braços cruzados e cabeça baixa esperando o que?
Que a humanidade se autodestrua e destrua consigo toda a vida sobre o belo planeta em que vivemos?

E nós, como mulheres, vamos deixar os acontecimentos seguirem seu curso sem nem ao menos tentar uma mudança?

Está mais do que na hora de retomarmos "a Barca",as vestes de sacerdotisas e conduzirmos a humanidade para o despertar de um novo mundo!!!


Para concluir,sito as palavras da Graça Azevedo, Senhora Telucama -(Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama):

É chegado o momento de nós, mulheres, nos colocarmos em ação, para a era da corrente das ações do coração e da alma. Devemos assumir a responsabilidade da união pelas coisas da Deusa, do respeito humano e dos caminhos de cada um. É chegado o momento do despertar da nossa totalidade e plenitude, com clareza para nos abrirmos para o desconhecido que está por vir nestes novos tempos...

Imagens:
*Alberto Pancorbo
*Google

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O MARTELO DAS FEITIÇEIRAS

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(Por Rose Marie Muraro)

Para compreendermos a importância do Malleus é preciso termos uma visão ao menos mínima da história da mulher no interior da história humana em geral.

Segundo a maioria dos antropólogos, o ser humano habita esse planeta há mais de dois milhões de anos. Mais de três quartos deste tempo a nossa espécie passou nas culturas de coleta e caça aos pequenos animais. Nessas sociedades não havia necessidade de força física para a sobrevivência, e nelas as mulheres possuíam um lugar central.

Em nosso tempo ainda existem remanescentes dessas culturas, tais como os grupos mahoris (Indonésia), pigmeus e bosquímanos (África Central). Estes são os grupos mais primitivos que existem e ainda sobrevivem da coleta de frutos da terra e da pequena caça ou pesca. Nesses grupos a mulher ainda é considerada um ser sagrado, porque pode dar a vida e, portanto, ajudar a fertilidade da terra e dos animais. Nesses grupos, o princípio masculino e o feminino governam o mundo juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos, mas não havia desigualdade. A vida corria mansa e paradisíaca.

Nas sociedades de caça aos grandes animais, que sucedem a essas mais primitivas, em que a força física essencial, é que se inicia a supremacia masculina. Mas nem nas sociedades de coleta nem nas de caça se conhecia função masculina na procriação. Também nas sociedades de caça a mulher era considerada um ser sagrado, que possuía o privilégio dado pelos deuses de reproduzir a espécie. Os homens se sentiam marginalizados nesse processo e invejavam as mulheres. Essa primitiva “inveja do útero” é antepassada da moderna “inveja do pênis” que sentem as mulheres nas culturas patriarcais mais recentes.

A inveja do útero dava origem a dois ritos universalmente encontrados nas sociedades de caça pelos antropólogos e observados em partes opostas do mundo, como Brasil e Oceania. O primeiro é o fenômenos da couvade, em que a mulher começa a trabalhar dois dias depois de parir e o homem fica de resguardo com o recém nascido, recebendo visitas e presentes... o segundo é a iniciação dos homens. Na adolescência, a mulher tem sinais exteriores que marcam o limiar da sua entrada no mundo adulto. A menstruação a torna apta à maternidade e representa um novo patamar em sua vida. Mas os adolescentes homens não possuem esse sinal tão óbvio. Por isso, na puberdade eles são arrancados pelos homens às suas mães, para serem iniciados na “casa dos homens”. Em quase todas as iniciações, o ritual é semelhante: é a imitação cerimonial do parto com objetos de madeira e instrumentos musicais. E nenhuma mulher ou criança pode se aproximar da casa dos homens, sob pena de morte. Desse dia em diante o homem pode “partir” ritualmente e, portanto, tomar seu lugar na cadeia das gerações...

Ao contrário da mulher, que possuía o “poder biológico”, o homem foi desenvolvendo o “poder cultural” à medida que a tecnologia foi avançando. Enquanto as sociedades eram de coleta, as mulheres mantinham uma espécie de poder, mas diferente das culturas patriarcais. Essas culturas primitivas tinham de ser cooperativas, para poder sobreviver em condições hostis, e portanto não havia coerção ou centralização, mas rodízio de lideranças, e as relações entre homens e mulheres eram mais fluidas do que viriam a ser nas futuras sociedades patriarcais.

Nos grupos matricêntricos, as formas de associação entre homens e mulheres não incluíam nem a transmissão do poder nem a da herança, por isso a liberdade em termos sexuais era maior. Por outro lado, quase não existia guerra, pois não havia pressão populacional pela conquista de novos territórios.

É só nas regiões em que a coleta é escassa, ou onde vão se esgotando os recursos naturais vegetais e os pequenos animais, que se inicia a caça sistemática aos grandes animais. E aí começam a se instalar a supremacia masculina e a competitividade entre os grupos na busca de novos territórios. Agora, para sobreviver, as sociedades têm de competir entre si por ma alimento escasso. As guerras se tornam constantes e passam a ser mitificadas. Os homens mais valorizados são os heróis guerreiros. Começa a se romper a harmonia que ligava a espécie humana à natureza. Mas ainda não se instala definitivamente lei do mais forte. O homem ainda não conhece com precisão a sua função reprodutora e crê que a mulher fica grávida dos deuses. Por isso ela ainda conserva poder de decisão. Nas culturas quye vivem da caça, já existe estratificação social e sexual, mas não é completa como nas sociedades que lhes seguem.

É no decorrer do neolítico que, em algum momento, o homem começa a dominar sua função biológica reprodutora, e, podendo controlá-la, pode também controlar a sexualidade feminina. Aparece então o casamento como conhecemos hoje, em que a mulher é propriedade do homem e a herança se transmite através da descendência masculina. Já acontece assim, por exemplo, nas sociedades pastoris descritas na bíblia. Nessa época, o homem já tinha aprendido a fundir metais. Essa descoberta acontece por volta de 10000 ou 8000 a.C. e, à medida que essa tecnologia se aperfeiçoa, começam a ser fabricadas não só armas mais sofisticadas como também instrumentos que permitem cultivar melhor a terra (o arado, por ex.).

Hoje há consenso entre os antropólogos de que os primeiros humanos a a descobrir os ciclos na natureza foram as mulheres, porque podiam compará-los com o ciclo do próprio corpo. Mulheres também devem ter sido as primeiras plantadoras e as primeiras ceramistas, mas foram os homens que, a partir da invenção do arado, sistematizaram as atividades agrícolas, iniciando uma nova era, a era agrária, e com ela a história que vivemos hoje.

Para poder arar a terra, os agrupamentos humanos deixam de ser nômades. São obrigados a se tornar sedentários. Dividem a terra e formam as primeiras plantações. Começam a se estabelecer as primeiras aldeias, depois as cidades, as cidades-estado, os primeiros estados e os impérios, no sentido antigo do termo. As sociedades, então, se tornam patriarcais, isto é, os portadores dos valores e da sua transmissão são os homens. Já não são mais os princípios feminino e masculino que governam juntos o mundo, mas, sim, a lei do mais forte. A comida era primeiro para o dono da terra, sua família, seus escravos e seus soldados. Até ser escravo era privilégio. Só os párias nômades, os sem-terra é que pereciam no primeiro inverno ou na primeira escassez.

Nesse contexto, quanto mais filhos, mais soldados e mais mão-de-obra barata para arar a terra. As mulheres tinham a sua sexualidade rigidamente controlada pelos homens. O casamento era monogâmico e a mulher era obrigada a sair virgem das mãos do pai para as mãos do marido. Qualquer ruptura desta norma podia significar a morte. Assim também o adultério: um filho de outro homem viria ameaçar a transmissão da herança que se fazia através da descendência da mulher. A mulher fica, então, reduzida ao âmbito doméstico. Perde qualquer capacidade de decisão no domínio público, que fica inteiramente reservado ao homem. A dicotomia entre o privado e o público torna-se, então, a origem da dependência econômica da mulher, e esta dependência, por sua vez, gera, no decorrer das gerações, uma submissão psicológica que dura até hoje.

É nesse contexto que transcorre todo o período histórico até ao dias de hoje. De matricêntrica, a cultura humana passa a patriarcal.

E o verbo veio depois

No princípio era a Mãe, e o verbo veio depois.” É assim que Marilyn French, uma das maiores pensadoras feministas americanas, começa o seu livro Beyond power (summit Books, Nova York, 1985). E não é razão, pois podemos retraçar os caminhos da espécie através da sucessão dos seus mitos. Um mitólogo americano em seu livro The Masks of God : Occidental Mythology (Nova York, 1970), citado por French, divide em quatro grupos todos os mitos conhecidos da criação. E, surpreendentemente, esses grupos correspondem às etapas cronológicas da história humana.

Na primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe sem auxílio de ninguém. Na segunda, ele é criado por um deus andrógino ou um casal criador. Na terceira, um deus macho ou toma o poder da deusa ou cria o mundo sobre o corpo da deusa primordial. Finalmente, na quarta etapa, um deus macho cria o mundo sozinho.

Essas quatro etapas que se sucedem também cronologicamente são testemunhas eternas da transição da etapa matricêntrica da humanidade para sua fase patriarcal, e é esta sucessão que dá veracidade à frase já citada de Marilyn French.

Alguns exemplos nos farão entender as diversas etapas e a frase de French. O primeiro e mais importante exemplo da primeira etapa em que a Grande Mãe cria o universo sozinha é o próprio mito grego. Nele a criadora primária é Géia, a Mãe Terra. Dela nascem todos os protodeuses: Urano, os Titãs e as protodeusas, entre as quais Réia, que virá a ser a mãe do futuro dominador do Olimpo, Zeus. Há também o caso do mito Nagô, que vem dar origem ao candomblé. Neste mito africano, é Nanã Buruquê que dá à luz todos os orixás, sem auxílio de ninguém.

Exemplos do segundo caso são o deus andrógino que gera todos os deuses, no hinduísmo, e o yin e o yang, o princípio feminino e o masculino que governam juntos na mitologia chinesa.

Exemplos do terceiro caso são as mitologias nas quais reinam em primeiro lugar deusas mulheres, que são, depois, destronadas por deuses masculinos. Entre essas mitologias está a sumeriana, em que primitivamente a deusa Siduri reinava num jardim de delícias e cujo poder foi usurpado por um deus solar. Mais tarde, na epopéia de Gilgamesh, ela é descrita como simples serva. Ainda, os mitos primitivos dos astecas falam de um mundo perdido, de um jardim paradisíaco governada por Xoxiquetzl, a Mãe Terra. Dela nasceram os Huitzuhuahua, que são os Titãs e os Quatrocentos Habitantes do Sul (as estrelas). Mais tarde, seus filhos se revoltam contra ela e ela dá à luz e o deus que iria governar a todos, Huitzilopochtli.

A partir do segundo milênio a.C., contudo, raramente se registram mitos em que a divindade primária seja mulher. Em muitos deles, estão as substituídas por um deus macho que cria um mundo a partir de si mesmos, tais como os mitos persa, meda e, principalmente e acima de todos, o nosso mito cristão, que é o que será enfocado aqui.

Javé é deus único todo-poderoso, onipresente, e controla todos os seres humanos em todos os momentos da sua vida. Cria sozinho no mundo em sete dias e, no final, cria o homem. E só depois cria a mulher, assim mesmo a partir do homem. E coloca ambos no Jardim das delícias onde o alimento é abundante e colhido sem trabalho. Mas graças à sedução da mulher, o homem cede à tentação da serpente e o casal é expulso do paraíso.

Antes de prosseguir, procuremos analisar o que já se tem até aqui em relação à mulher. Em primeiro lugar, ao contrário das culturas primitivas, Javé é deus único, centralizador, dita rígidas regras de comportamento cuja transgressão é sempre punida. Nas primitivas mitologias, ao contrário, a Grande Mãe é permissiva, amorosa e não-coerciva. E como todos os mitos fundantes das grandes culturas tendem a sacralizar aos seus principais valores, Javé representa bem a transformação do matricentismo em patriarcado.

O Jardim das Delícias é a lembrança arquetípica da antiga harmonia entre o ser humano e a natureza. Nas culturas de coleta não se trabalhava sistematicamente. Por isso os controles eram frouxos e podia se viver mais prazerosamente. Quando o homem começa a dominar a natureza, ele começa a se separar dessa mesma natureza em que até então vivia imerso.

Como o trabalho é penoso, necessita agora de poder central que imponha controles mais rígidos e punição para a transgressão. É preciso usar a coerção e a violência para que os homens sejam obrigados a trabalhar, e essa coerção é localizada no corpo, na repressão da sexualidade e do prazer. Por isso o pecado original, a culpa máxima, na Bíblia é colocado no ato sexual (é assim que, desde milênios, popularmente se interpreta a transgressão dos primeiros humanos).

É por isso que a árvore do conhecimento é também a árvore do bem e do mal. O progresso do conhecimento gera o trabalho e por isso o corpo tem de ser amaldiçoado, porque o trabalho é bom. Mas é interessante notar que o homem só consegue conhecimento do bem e do mal transgredindo a lei do Pai. O sexo (o prazer) doravante é mau e, portanto proibido. Praticá-lo é transgredir a lei. Ele é, portanto, limitado apenas às funções procriativas, e mesmo assim é uma culpa.

Daí a divisão entre sexo e afeto, entre corpo e alma, apanágio das civilizações agrárias e fonte de todas as divisões e fragmentações do homem e da mulher, da razão e da emoção, das classes...

Tomam aí sentido as punições de Javé. Uma vez adquirido o conhecimento, o homem tem que sofrer. O trabalho escraviza. E por isso o homem escraviza a mulher. A relação homem-mulher-natureza não é mais de integração e, sim, de dominação. O desejo dominante agora é do homem. O desejo da mulher será sempre carência, e é esta paixão que será seu castigo. Daí em diante, ela será definida por sua sexualidade, e o homem, pelo seu trabalho.

Mas o interessante é que os primeiros capítulos do Gênesis podem ser mais bem entendidos à luz das modernas teorias psicológicas, especialmente a psicanálise. Em cada menino nascido no sistema patriarcal repete-se, em nível simbólico, a tragédia primordial. Nos primeiros tempos de sua vida, eles estão imersos no Jardim das Delícias, em que todos os seus desejos são satisfeitos. E isto lhes faz buscar o prazer que lhes dá o contato com a mãe, a única mulher a que têm acesso. Mas a lei do pai proíbe ao menino a posse da mãe. E o menino é expulso do mundo do amor, para assumir a sua autonomia e, com ela a sua maturidade. Principalmente, a sua nudez, a sua fraqueza, os seus limites. É à medida que o homem se cinde do jardim das Delícias proporcionadas pela mulher-mãe que ele assume a sua condição masculina.

E para que possa se tornar homem em termos simbólicos, ele precisa passar pela punição maior que é a ameaça de morte pelo pai. Como Adão, o menino quer matar o pai e este o pune, deixando-o só.

Assim, aquilo que se verifica no decorrer dos séculos, isto é, a transição das culturas de coleta para a civilização agrária mais avançada, é relembrado simbolicamente na vida de cada um dos homens do mundo de hoje. Mas duas observações devem ser feitas. A primeira é que o pivô das duas tragédias, a individual e a coletiva, é a mulher; e a segunda, que o conhecimento condenado não é o conhecimento dissociado e abstrato que daí por diante será o conhecimento dominante, mas sim o conhecimento do bem e do mal, que vem da experiência concreta do prazer e da sexualidade, o conhecimento totalizante que integra inteligência e emoção, corpo e alma, enfim, aquele conhecimento que é, especificamente na cultura patriarcal, o conhecimento feminino por excelência.

Freud dizia que a natureza tinha sido madrasta para a mulher porque ela não era capaz de simbolizar tão perfeitamente como o homem. De fato, para podermos entender a misoginia que daí por diante caracterizará a cultura patriarcal, é preciso analisar a maneira como as ciências psicológicas mais atuais apontem para uma estrutura psíquica feminina bem diferente da masculina.

À mesma idade em que o menino conhece a tragédia da castração imaginária, a menina resolve de outra maneira o conflito que a conduzirá à maturidade. Porque já vem castrada, isto é, porque não tem pênis (o símbolo do poder e do prazer, no patriarcado), quando seu desejo a leva para o pai ela não entra em conflito com a mãe de maneira tão trágica e aguda como o menino entra com o pai por causa da mãe. Porque já vem castrada, não tem nada a perder. E a sua identificação com a mãe se resolve sem grandes traumas. Ela não se desliga inteiramente das fontes arcaicas do prazer (o corpo da mãe). Por isso, também, não se divide de si mesma como se divide o homem, nem de suas emoções. Para o resto da sua vida, conhecimento e prazer, emoção e inteligência são mais integrados na mulher do que no homem e, por isso, são perigosos e desestabilizadores de um sistema que repousa inteiramente no controle, no poder e , portanto, no conhecimento dissociado da emoção e, por isso mesmo, abstrato.

De agora em diante, poder, competitividade, conhecimento, controle, manipulação, abstração e violência vêm juntos. O amor, a integração com o meio ambiente e com as próprias emoções são os elementos mais desestabilizadores da ordem vigente. Por isso é preciso precaver-se de todas as maneiras contra a mulher, impedi-la de interferir nos processos decisórios, fazer com que ela introjete uma ideologia que a convença de sua própria inferioridade em relação ao homem.

E não se espanta que na própria Bíblia encontremos o primeiro indício desta desigualdade entre homens e mulheres. Quando Deus cria o homem, Ele o cria e só apenas depois tira a companheira da costela deste. Em outras palavras: o primeiro homem dá à luz (pare) a primeira mulher. Esse fenômeno psicológico de deslocamento é um mecanismo de defesa conhecido por todos aqueles que lidam com a psique humana e serve para revelar escondendo. Tirar da costela é menos violento do que tirar do próprio ventre, mas, em outras palavras, aponta para a mesma direção. Agora, parir é ato que não está mais ligado ao sagrado e é, antes, uma vulnerabilidade do que uma força. A mulher se inferioriza pelo próprio fato de parir, que outrora lhe assegurava a grandeza. A grandeza agora pertence ao homem, que trabalha e domina a natureza.

Já não é mais o homem que inveja a mulher. Agora é a mulher que inveja o homem e é dependente dele. Carente, vulnerável, seu desejo é o centro da sua punição. Ela passa a se ver com os olhos do homem, isto é, sua identidade não está mais dela mesma e sim em outro. O homem é autônomo e a mulher é reflexa. Daqui em diante, como o pobre se vê com os olhos do rico, a mulher se vê pelo homem.

Da época em que foi escrito o Gênesis até nossos dias, isto é, de alguns milênios para cá, essa narrativa básica da nossa cultura patriarcal tem servido ininterruptamente para manter a mulher em seu devido lugar. E aliás, com muita eficiência. A partir desse texto, a mulher é vista como a tentadora do homem, aquela que perturba a sua relação com a transcendência e também aquela que conflitua as relações entre os homens. Ela é ligada à natureza, à carne, ao sexo e ao prazer, domínios que têm de ser rigorosamente normatizados: a serpente, que nas eras matricêntricas era o símbolo da fertilidade e tida na mais alta estima como símbolo máximo da sabedoria, se transforma no demônio, no tentador, na fonte de todo o pecado. E ao demônio é alocado o pecado por excelência, o pecado da carne. Coloca-se no sexo o pecado supremo e, assim, o poder fica imune à crítica. Apenas nos tempos modernos está se tentando deslocar o pecado da sexualidade para o poder. Isto é, até hoje não só o homem como as classes dominantes tiveram seu status sacralizado porque a mulher e a sexualidade foram penalizadas como causa máxima da degradação humana.

O Malleus como Continuação do Gênesis

Enquanto se escrevia o Gênesis no Oriente Médio, as grandes culturas patriarcais iam se sucedendo. Na Grécia, o status da mulher foi extremamente degradado. O homossexualismo era prática comum entre os homens e as mulheres ficavam exclusivamente reduzidas às suas funções de mãe, prostituta ou cortesã. Em Roma, embora durante certo período tivessem bastante liberdade sexual, jamais chegaram a ter poder de decisão no Império. Quando o Cristianismo se torna a religião oficial dos romanos no século IV, tem início a Idade Média. Algo novo acontece. E aqui nos deteremos porque é o período que mais nos interessa.

Do terceiro ao décimo séculos, alonga-se um período em que o Cristianismo se sedimenta entre as tribos bárbaras da Europa. Nesse período de conflito de valores, é muito confusa a situação da mulher. Contudo, ela tende a ocupar lugar de destaque no mundo das decisões, porque os homens se ausentavam muito e morriam nos períodos da guerra. Em poucas palavras: as mulheres eram jogadas para o domínio público quando havia escassez de homens e voltavam para o domínio privado quando os homens reassumiam o seu lugar na cultura.

Na alta Idade Média, a condição das mulheres floresce. Elas têm acesso às artes, às ciências, à literatura. Uma monja, por exemplo, Hros vitha de Gandersheim, foi o único poeta da Europa durante cinco séculos. Isso acontece durante as cruzadas, período em que não só a igreja alcança seu maior poder temporal como, também, o mundo se prepara para as grandes transformações que viriam séculos mais tarde, com a Renascença.

E é logo depois dessa época, no período que vai do fim do século XIV até meados do século XVIII que aconteceu o fenômeno generalizado em toda a Europa: a repressão sistemática do feminino. Estamos nos referindo aos quatro séculos de “caça às bruxas”.



Deirdre English e Barbara Ehrenreich, em seu livro Witches, Nurses and Midwives (The Feminist Press, 1973), nos dão estatísticas aterradoras do que foi a queima de mulheres feiticeiras em fogueiras durante esses quatro séculos. “A extensão da caça às bruxas é espantosa. No fim do século XV e no começo do século XVI, houve milhares e milhares de execuções – usualmente eram queimadas vivas na fogueira – na Alemanha, na Itália e em outros países. A partir de meados do século XVI, o terror se espalhou por toda a Europa, começando pela França e pela Inglaterra. Um escritor estimou o número de execuções em seiscentas por ano para certas cidades, uma média de duas por dia, ‘exceto aos domingos’. Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas foram assassinadas num único dia; no arcebispado de Trier, em 1585, duas aldeias foram deixadas apenas com duas mulheres moradoras cada uma. Muitos escritores estimaram que o número total de mulheres executadas subia à casa dos milhões, e as mulheres constituíam 85% de todos os bruxos e bruxas que foram executados.”

Outros cálculos levantados por Marilyn French, em seu já citado livro, mostram que o número mínimo de mulheres queimadas vivas é de cem mil.

E Por Que Tudo Isso?

Desde a mais remota antiguidade, as mulheres eram as curadoras populares as parteiras, enfim, detinham saber próprio, que lhes era transmitido de geração em geração. Em muitas tribos primitivas eram elas as xamãs. Na Idade Média, seu saber se intensifica e aprofunda. As mulheres camponesas pobres não tinham como cuidar da saúde, a não ser com outras mulheres tão camponesas e tão pobres quanto elas. Elas (as curadoras) eram as cultivadoras ancestrais das ervas que devolviam a saúde, e eram também as melhores anatomistas do seu tempo. Eram as parteiras que viajavam de casa em casa, de aldeia em aldeia, e as médicas populares para todas as doenças.

Mais tarde elas vieram a representar uma ameaça. Em primeiro lugar, ao poder médico, que vinha tomando corpo através das universidades no interior do sistema feudal. Em segundo, porque formavam organizações pontuais (comunidades) que, ao se juntarem, formavam vastas confrarias, as quais trocavam entre si os segredos da cura do corpo e muitas vezes da alma. Mais tarde, ainda, essas mulheres vieram a participar das revoltas camponesas que procederam a centralização dos feudos, os quais, posteriormente, dariam origem às futuras nações.


O poder disperso e frouxo do sistema feudal para sobreviver é obrigado, a partir do fim do século XIII, a centralizar, a hierarquizar e a se organizar com métodos políticos e ideológicos mais modernos. A noção de pátria aparece, mesmo nessa época (Klausevitz).

A religião católica e, mais tarde, a protestante contribuem de maneira decisiva para essa centralização do poder. E o fizeram através dos tribunais da Inquisição que varreram a Europa de norte a sul, leste e oeste, torturando e assassinando em massa aqueles que eram julgados heréticos ou bruxos.

Este “expurgo” visava recolocar dentro de regras de comportamento dominante as massas camponesas submetidas muitas vezes aos mais ferozes excessos dos seus senhores, expostas à fome, à peste e à guerra e que se rebelavam. E principalmente as mulheres.

Era essencial para o sistema capitalista que estava sendo forjado no seio mesmo do feudalismo um controle estrito sobre o corpo e a sexualidade, conforme constata a obra de Michel Foucault, História da Sexualidade. Começa a se construir ali o corpo dócil do futuro trabalhador que vai ser alienado do seu trabalho e não se rebelará. A partir do século XVII, os controles atingem profundidade e obsessividade tais que os menores, os mínimos detalhes e gestos são normatizados. Todos os homens e mulheres, passam a ser, então, os próprios controladores de sis mesmos a partir do mais íntimo de suas mentes. É assim que se instala o puritanismo, do qual se origina, segundo Tawnwy e Max Weber, o capitalismo avançado anglo-saxão. Mas até chegar a esse ponto foi preciso usar de muita violência. Até meados da Idade Média, as regras morais do Cristianismo ainda não tinham penetrado a fundo nas massas populares. Ainda existiam muitos núcleos de “paganismo” e, mesmo entre os cristãos, os controles eram frouxos.

As regras convencionais só eram válidas para as mulheres e homens das classes dominantes através dos quais se transmitiam o poder e a herança. Assim, os quatro séculos de perseguição às bruxas e aos heréticos nada tinham de histeria coletiva, mas, ao contrário, foram uma perseguição muito bem calculada e planejada pelas classes dominantes, para chegar a maior centralização do poder.

Num mundo teocrático, a transgressão da fé era também transgressão política. Mais ainda, a transgressão sexual que grassava solta entre as massas populares. Assim, os inquisidores tiveram a sabedoria de ligar a transgressão sexual à transgressão da fé. E punir as mulheres por tudo isso. As grandes teses que permitiriam esse expurgo do feminino e que são as teses centrais do Malleus Maleficarum são as seguintes:

1) O demônio, com a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens a fim de apropriar-se do maior número possível de almas.

2) E este mal é feito prioritariamente através do corpo, único “lugar” onde o demônio pode entrar, pois o “espírito [do homem] é governado por Deus, a vontade por um anjo e o corpo pelas estrelas” (Parte I, Questão I). E porque as estrelas são inferiores aos espíritos e o demônio é um espírito superior, só lhe resta o corpo para dominar.

3) E este domínio lhe vem através do controle e da manipulação dos atos sexuais. Pela sexualidade o demônio pode apropriar-se do corpo e da alma dos homens. Foi pela sexualidade que o primeiro homem pecou e, portanto, a sexualidade é o ponto mais vulnerável de todos os homens.

4) E como as mulheres estão essencialmente ligadas à sexualidade, elas se tornam as agentes por excelência do demônio (as feiticeiras). E as mulheres têm mais conivência com o demônio “porque Eva nasceu de uma costela torta de Adão, portanto nenhuma mulher pode ser reta” (1,6).

5) A primeira e maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras, é copular com o demônio. Satã é, portanto, o senhor do prazer.

6) Uma vez obtida a intimidade com o demônio, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males, especialmente a impotência masculina, a impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, abortos, oferendas de crianças a Satanás, estrago das colheitas, doenças nos animais, etc.

7) E esses pecados eram mais hediondos do que os próprios pecados de Lúcifer quando da rebelião dos anjos e dos primeiros pais por ocasião da queda, porque agora as bruxas pecam contra Deus e o Redentor (Cristo), e portanto este crime é imperdoável e por isso só pode ser resgatado com a tortura e a morte.

Vemos assim que na mesma época em que o mundo está entrando na Renascença, que virá a dar na Idade das Luzes, processa-se a mais delirante perseguição às mulheres e ao prazer. Tudo aquilo que já estava em embrião no segundo capítulo do Gênesis torna-se agora sinistramente concreto. Se nas culturas de coleta as mulheres eram quase sagradas por poderem ser férteis e, portanto, eram as grandes estimuladoras da fecundidade da natureza, agora elas são, por sua capacidade orgástica, as causadoras de todos os flagelos a essa mesma natureza. Sim, porque as feiticeiras se encontram apenas entre as mulheres orgásticas e ambiciosas (1,6), isto é, aquelas que não tinham a sexualidade ainda normatizada e procuravam impor-se no domínio público, exclusivo dos homens.

Assim, o Malleus Maleficarum, por ser a continuação popular do Segundo Capítulo do Gênesis, torna-se a testemunha mais importante da estrutura do patriarcado e de como esta estrutura funciona concretamente sobre a repressão da mulher e do prazer.

De doadora da vida, símbolo da fertilidade para as colheitas e os animais, agora a situação se inverte: a mulher é a primeira e a maior pecadora, a origem de todas as ações nocivas ao homem, à natureza e aos animais.

Durante três séculos o Malleus foi a bíblia dos Inquisidores e esteve na banca de todos os julgamentos. Quando cessou a caça às bruxas, no século XVIII, houve grande transformação na condição feminina. A sexualidade se normatiza e as mulheres se tornam frígidas, pois orgasmo era coisa do diabo e, portanto, passível de punição. Reduzem-se exclusivamente ao âmbito doméstico, pois sua ambição também era passível de castigo. O saber feminino popular cai na clandestinidade, quando não é assimilado como próprio pelo poder médico masculino já solidificado. As mulheres não têm mais acesso ao estudo como na Idade Média e passam a transmitir voluntariamente a seus filhos valores patriarcais já então totalmente introjetados por elas.

É com a caça às bruxas que se normatiza o comportamento de homens e mulheres europeus, tanto na área pública como no domínio do privado.

E assim se passam os séculos.

A sociedade de classes que já está construída nos fins do século XVIII é composta de trabalhadores dóceis que não questionam o sistema.

As Bruxas do Século XX

Agora, mais de dois séculos após o término da caça às bruxas, é que podemos ter uma noção das suas dimensões. Neste final de século e de milênio, o que se nos apresenta como avaliação da sociedade industrial? Dois terços da humanidade passam fome para o terço restante superalimentar-se; além disto há a possibilidade concreta da destruição instantânea do planeta pelo arsenal nuclear já colocado e, principalmente, a destruição lenta mas contínua do meio ambiente, já chegando ao ponto do não-retorno. A aceleração tecnológica mostra-se, portanto, muito mais louca do que o mais louco dos inquisidores.

Ainda neste fim de século outro fenômeno está acontecendo: na mesma jovem rompem-se dois tabus que causaram a morte das feiticeiras: a inserção no mundo público e a procura do prazer sem repressão. A mulher jovem hoje liberta-se porque o controle da sexualidade e a reclusão ao domínio privado formam também os dois pilares da opressão feminina.

Assim, hoje as bruxas são legião no século XX. E são bruxas que não podem ser queimadas vivas, pois são elas que estão trazendo pela primeira vez na história do patriarcado, para o mundo masculino, os valores femininos. Esta reinserção do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a não-competição, a união com a natureza, talvez seja a única chance que a nossa espécie tenha de continuar viva.



http://sarcedotisa.blogspot.com/2009/05/o-martelo-das-feiticeiras.html

Imagens:
*John Jude Palencar
*Anthony Ackrill
*Dubinin

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

DIFERENÇAS ENTRE A BRUXARIA TRADICIONAL E A WICCA

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UM PEQUENO ALERTA:

Em geral, bruxos tradicionais tendem a desprezar a Wicca e,conseqüentemente, são um tanto agressivos ao falar da bruxaria moderna, conforme estabelecida por Gardner, em 1949.
Este artigo de Robin Artisson segue essa tendência e, portanto, pode ofender alguns wiccanos que forem lê-lo. Porém, deixando de lado algumas das agressões do autor,
é possível se aproveitar muito do texto, que explica com maestria quais são as diferenças básicas entre a Bruxaria Tradicional e a Wicca...


HISTÓRIA


A Bruxaria Neopagã, ou "Wicca", teve o seu início nos anos 40 e 50 com os escritos de Gerald B. Gardner. Apesar de afirmar que era membro de um coven "tradicional" que ele encontrou no sul da Inglaterra, faltam evidências da veracidade desta história. E se o "coven" que ele menciona era autêntico, então pela sua própria descrição eles parecem ter sido um grupo eclético de maçons, hermetistas, rosacruzes e ocultistas, não verdadeiras bruxas "tradicionais". Os seus próprios registros das atividades e crenças/práticas do grupo testemunham isso. Não há dúvidas de que esta organização tinha tendências e ambições de "reviver" a Antiga Arte, mas isto os coloca na categoria de "pagãos reconstrucionistas" e não de "Bruxas Tradicionais".

Wicca, no seu credo moderno e na sua estrutura ritual, lembra muito fortemente uma versão descristianizada da Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn), com muitas adições thelêmicas e teosóficas, assim como materiais obviamente emprestados de Aleister Crowley e da OTO. Todas essas fontes, e as personalidades envolvidas, floresceram na revivificação do ocultismo da primeira metade do século vinte e é do meio do século vinte que a Wicca data. A Wicca reivindica "descender espiritualmente" das antigas religiões pagãs, mas o fato é o de que a sua estrutura ritual e a sua teologia não sustentam quase nenhuma semelhança com nenhuma cultura nativa pagã autêntica da Europa.



A Bruxaria Tradicional, por outro lado, refere-se às crenças e práticas de famílias e organizações secretas da Arte que antecedem o século vinte. Normalmente, apesar de a doutrina e as práticas da Bruxaria Tradicional terem raízes em tempos muito antigos, o tempo mais longínquo que a maior parte das organizações tradicionais podem se datar com alguma exatidão é o século 17. Entretanto, o folclore e a história do século 11 em diante testemunham práticas similares àquelas transmitidas hoje pelas bruxas tradicionais.



FORMALIDADE

A Wicca tem uma estrutura muito formal, baseada no modelo de "três graus" de iniciação, um empréstimo óbvio da Maçonaria. A religião wiccana é muito hierárquica, com deslumbrantes títulos de "Alto Sacerdote, Alta Sacerdotisa" e semelhantes e é normalmente orientado para o lado Feminino. Há apenas duas
"tradições" reais de Wicca... A Gardneriana (a original) e a Alexandrina... Mas desde a explosão do interesse pelo oculto nos dois lados do Atlântico, muitas tradições "ecléticas" surgiram, representando quase todo tipo de distorção cultural e metafísica que você pode imaginar (Wicca Celta, Faery Wicca, Wicca Saxônia, Wicca Diânica etc. etc.)


Na Bruxaria Tradicional, normalmente, não há uma "estrutura" de grupo claramente definida. Se há, é apenas limitada a uma região, e normalmente não é rígida como a Wicca. Título não são tão utilizados, e quando o são, eles ainda são informais, se comparados à ênfase da Wicca em títulos. Os grupos tradicionais da Arte podem ter uma liderança, mas esta pode tanto ser masculina quanto feminina, e o seu poder como "cabeça" de um grupo não é o poder exercido pela "Alta Sacerdotisa" e pelo "Alto Sacerdote" da Wicca. Conhecimento, experiência e a disposição de servir são fatores decisivos para a maior parte dos líderes de grupos tradicionais e não a egolatria, a coleção de títulos e a fome de poder.

Os rituais e ritos da Wicca também tendem a ser muito formais e escritos previamente à mão... enquanto que na Bruxaria Tradicional, a maioria dos rituais são espontâneos e muito menos estruturados do que na Wicca. Há formas rituais, é claro, algumas formas até muito antigas, mas elas são muito parciais, muito abertas e simples. O "nível interno" do ritual tem mais ênfase do que o externo no trabalho tradicional. A idéia é a de que não é como você faz algo, mas sim, porque você o faz.

Na Bruxaria Tradicional, o progresso de uma pessoa é MUITO mais lento do que na Wicca, na qual uma pessoa pode ser "um Alto Sacerdote de terceiro grau" no espaço que varia de alguns poucos meses a um ano ou dois, ou mesmo mais rápido se ele tem em mãos um livro publicado pela Lewellyn, que produz "bruxas instantâneas". Viver a vida, aprendizado e experiência são cruciais para um "progresso" genuíno e "iniciações" de verdade são geralmente experiências que acontecem a um nível pessoal, dadas por poderes do outro mundo, através do tempo. A Bruxaria Tradicional aceita isso.



TEOLOGIA NEW AGE

A Wicca tem muitos conceitos "new age" no seu cânon que simplesmente não encontram lugar no contexto histórico ou cultural da Antiga Bruxaria Européia. Alguns destes conceitos estão listado abaixo:



KARMA: este conceito hindu/buddhista foi levado para a Wicca por Gardner, provavelmente de uma fonte teosófica.
Na Bruxaria Tradicional, "Destino" é um conceito importante... mas "karma" nem é citado. Não há a crença na Arte Tradicional de "débitos kármicos" ou de "karma carrega pela pessoa" devido às suas ações. A verdadeira crença da Arte Tradicional a respeito desses assuntos eram e são muito diferentes dos conceitos orientais de "karma."



A LEI TRÍPLICE: Esta estranha noção não tem base na história ou na realidade. Enquanto que muitos povos em muitas épocas e lugares têm ameaçado poeticamente as pessoas com a idéia de que as suas ações retornarão a elas "multiplicadas muitas vezes", a Wicca aceita isso como uma lei física e imutável. A verdade é que enquanto muitos wiccans abriram mão da crença no "fogo do inferno e danação eterna" como uma barreira para as suas ações negativas, eles a substituíram para "lei tríplice", que ameaça com uma retribuição tripla pela negatividade dos outros.
Não existe nenhum traço de uma crença como essa na Bruxaria Tradicional ou em algum sistema de crenças nativo-europeu sobrevivente.




........................DUOTEÍSMO:



A crença wiccan determina que há apenas dois seres divinos, um "deus" e uma "deusa". Os diferentes deuses e deusas cultuados pelos nossos ancestrais europeus, ou por qualquer pessoa na Terra, são considerados como "aspectos" ou "manifestações" destes dois seres. Assim, "Todos os Deuses são um Deus e todas as Deusas são uma Deusa." Este reducionismo divino é chamado de "duoteísmo" e não tem precedentes nem na antiga Europa, nem nas crenças das bruxas tradicionais.
É, de fato, uma crença moderna. Além do mais, muitos wiccanos acreditam que este "Deus" e esta "Deusa" são eles mesmo aspectos de uma unidade divina incogniscível, ou um incrível ser chamado às vezes de "O Uno"... nos levando direto a uma versão new-age do Monoteísmo, muito bem adaptado a facilitar as consciências dos usualmente ex-cristãos convertidos à Wicca.

Nossos ancestrais europeus eram politeístas. Eles acreditavam em muitos Deuses ou em Deuses locais. Isto é verdade para muitas Bruxas Tradicionais. Há algumas crenças agora (assim como nos tempos antigos) de algumas divindades sendo "maiores" do que outras... quase ao ponto filosófico de transcendência e poder universal. Isto às vezes aparece também na Bruxaria Tradicional, mas na forma de mistérios
e não na devoção diárias ou no monoteísmo new-age.



LIVRO DE SOMBRAS: Lixo. Na Wicca talvez o "LDS" seja algo real,
mas nos Antigos Dias, entre os praticantes tradicionais da Arte Secreta, ter evidências escritas do que você fazia era uma sentença de morte se você fosse pego. Além disso, a maior parte das pessoas antigamente eram completamente iletradas. A Antiga Arte era principalmente passada adiante oralmente e, se fosse escrita, isso teria que ser feito de forma econômica.



ÉTICA

A religião Wicca tem uma "Rede" ou "regra de ouro" que forma a base da ética wiccana... ela dita o seguinte: "faça o que quiser, desde que não prejudique a nada nem ninguém." Esta é uma boa sugestão e é basicamente uma reformulação da "regra de ouro" judaico-cristã.
Entretanto, a Arte Tradicional não tem tal regra. A ética na Antiga Arte é completamente ambígua e regida pelas circunstâncias.

Os wiccanos tratam esta "Rede" como se fosse uma lei cósmica imutável, quando na realidade, "Rede" é uma palavra anglo-saxã para "conselho", e não para "lei". Mas para a religião wiccana é um dogma irremovível.

Este assunto todo acaba sendo uma outra negação wiccan das trevas inerentes à natureza, ... Danos e feridas, tudo isso existe na natureza... e nós, humanos, somos partes dela. Assim, danos e feridas fazem parte de nós. Nós matamos plantas e animais para comê-los. Matamos as bactérias da água para bebê-la. Vida alimenta a vida. A Bruxaria Tradicional é bastante orientada para a família e para a Fé. Se alguém ameaçar a família ou a Fé, então parar aquele que está causando a ameaça é a prioridade. Se isso significar prejudicar alguém, é o que as bruxas tradicionais farão e não nenhuma imposição ética contra isso. A Arte, e o poder que ela invoca, não é "boa" ou "má"... é ambas as coisas. Há um tempo e um espaço para cada uma das qualidades. Isso é difícil para new-agers entenderem, mas é simplesmente como as coisas são. Negar qualquer lado seu, ou da natureza, é afastar-se do mistério central: o da totalidade.



FESTIVAIS

O calendário wiccano é divido em oito sabás (festivais)... os quatro festivais celtas, os dois solstícios e os dois equinócios.

Entretanto, esta é uma invenção moderna.
Os celtas, por exemplo, não observavam os solstícios e os equinócios nos tempos pré-cristãos. Há evidências que sugerem que os bretões nativos (que precederam em muito os celtas na vinda para as Ilhas Britânicas) o faziam, mas os antigos celtas não tinham um calendário óctuplo. Eles não tinham nem ao menos quatro estações... apenas um verão e um inverno. Gerald Gardner, novamente, influenciado por outros ocultistas, em especial, neste caso, pelos druidas "revivalistas" românticos da Inglaterra, que trouxe este conceito inventado de "oito sabás" para a Wicca.

Na Bruxaria Tradicional, os Dias Sagrados celebrados são diferentes de região para região, de Tradição para Tradição e de pessoa para pessoa. Uma tradição agrícola irá seguir os fluxos de plantação e colheita e celebrar festivais de colheita, enquanto que outra tradição poderá celebrar os fluxos solares. Atente para isso, os dias sagrados são sempre regulados pelos fluxos da natureza e são diferentes dependendo de para onde você for. As quatro datas dos antigos celtas (Samhaim, Beltane etc.) podem ser ainda seguidos em alguns lugares, mas, se eles forem, os solstícios e os equinócios tendem a não ser.

É neste tópico que o assunto "seriedade e autenticidade" torna-se mais tenso.
É muito comum em círculos wiccanos se ouvir invocações de "Pan, Thor, Lillith e Freya" ou de qualquer outro conjunto de deuses e deusas que o coven se sinta à vontade para invocar. Com nenhum respeito à cultura ou herança familiar e com nenhuma autenticidade ou contexto histórico, a crença wiccana de que os deuses e as deusas são todos "um só" faz com que os wiccan achem que eles tem o direito de alegremente chamar qualquer combinação de deuses que eles queiram. Esta é um postura imperdoavelmente new-age e mostra uma total falta de seriedade e contexto cultural.

Algumas tradições da Wicca tentam unir-se a apenas uma cultura de deuses e um conceito religioso. Este é passo admirável rumo à realidade. Mas a maioria das tradições não o faz.

Na Bruxaria Tradicional, especialmente nas Ilhas Britânicas, a cultura dos povos da terra, e dos povos de algumas gerações atrás, determinam o contexto cultural da tradição. Isso porque a Bruxaria Tradicional é parte da terra, do seu povo e da sua história. Sendo uma invenção moderna e uma mescla de idéias ocultas orientais e ocidentais, falta à Wicca tal base.
Muitas tradições da Bruxaria Tradicional das Ilhas Britânicas têm um sentimento Anglo-Saxão ou Germânico/Nórdico e, por trás disso, uma memória familiar da cultura celta. Tradições escocesas e irlandesas tem a ser (obviamente) estritamente célticas.



BONDADE E LUZ

A Wicca, como uma realidade dos dias modernos, com o seu estilo moderno e seguidores quase sempre urbanos, perdeu muito da sua conexão com a Natureza e com a Terra. Wicca aparece como uma religião de "sinta-se bem" e "bondade e luz", normalmente venerando a sua Deusa da Natureza como uma figura maternal e muito amável e imaginando o mundo invisível como um lugar de poder positivo e repleto de espíritos prontamente dispostos a nos auxiliar. Esta visão completamente desbalanceada, com a sua fixação em como são "maravilhosos" e "lindos" a Natureza e os outros mundos, NÃO é absolutamente como os nossos ancestrais viam os deuses e o universos e NÃO é como as bruxas tradicionais vêem as coisas.

A Natureza é tanto benévola quanto cruel, dando e tirando. Há uma escuridão inerente à Natureza, assim como no mundo natural, na natureza pessoal dos espíritos e dos deuses e também dos seres humanos. Espíritos destrutivos e danosos são fatos da vida, tanto nos tempos antigos quanto agora, e o fato de que a "deusa" está tão propensa a devorar os seus filhos quanto a gerá-los, é também óbvio.

A Wicca tende a ignorar estas trevas, preferindo a visão de "a bondade e a luz." Isto faz sentido, psicologicamente, para cidadãos modernos dos centros urbanos que nunca vivenciaram as dificuldades de se viver realmente próximos à Natureza.



"INSTRUMENTOS" DE TRABALHO

É absolutamente adequado para um sistema mágico baseado na Golden Dawn como o que a Wicca sustenta, que os "instrumentos" usados pelos wiccans sejam a Taça, o Pentáculo, a Faca e o Bastão, representando os quatro elementos herméticos. O "círculo mágico" traçado é baseado nos círculos mágicos de conhecidos grimórios de Alta Magia, tais como As Clavículas de Salomão, também extensivamente usado pela Golden Dawn. As "invocações dos quadrantes" são baseadas na magia enochiana de John Dee, também ressuscitadas e usadas pela Golden Dawn.

Bruxas tradicionais tendem a não usar conjuntos formais de instrumentos, apesar de terem certos implementos, dependendo da tradição. O sistema de quatro elementos NÃO é comum, apesar de poder haver traços disso em alguns tradicionalistas influenciados pelo pensamento oriental ou hermético.

Geralmente, os instrumentos usados pelas bruxas tradicionais não lembram os "intrumentos de trabalho" da Wicca. Eles tendem a ser coisas como vassouras, caldeirões, cordas, crânios (humanos ou de animais), martelos, espelhos, pedras, chifres, conchas... algumas tradições também usam facas, mas sem nenhum simbolismo new-age. Algumas tradições também não usam qualquer tipo de instrumentos!

Os círculos não são traçados e usados largamente, pelo menos, não tão largamente quanto na Wicca... O termo tradicional para traçar o círculo é "girar o compasso" e freqüentemente há certos lugares da natureza que são suficientes para o trabalho mágico, sem a necessidade de traçar um "círculo". Quando círculos precisam ser traçados, eles são feitos através de cerimônias tradicionais, que não guardam quase nenhuma semelhança com os métodos da Wicca.

Os espíritos da Terra são invocados para sustentar o círculo e o fogo ritual é aceso... estes são os "elementos" necessários nos trabalhos mais tradicionais. Algumas vezes os espíritos dos quatro reinos ou "direções" são chamados, mas isso varia de lugar para lugar.

A idéia é a de que a Terra já é sagrada... você não precisa "consagrá-la." Você apenas a habita.




O TERMO "BRUXA"

Alguns wiccanos sensacionalistas nunca se cansam de chamar a si mesmo de "bruxos(as)", para o horror do público e o deleite da imprensa. Outros wiccanos acham que "bruxo(a)" é uma palavra pesada e dizem apenas "wiccano."

Não importa da onde você acredita que a raiz da palavra "bruxa" vem ou o que ela um dia significou, a igreja cristã, entre outras, manchou a palavra e a corrompeu para um termo de perversidade satânica.
Muitas bruxas tradicionais não usam a palavra "bruxa", preferindo chamar a si mesmas como "O Povo" ou então não tem nenhum nome especial com o qual se auto-denominar. Elas às vezes se dizem "da arte", "Pellars" ou usam algum outro termo, mas "bruxa" era e é uma palavra muito feita, destinada a ser um insulto e em tempos passados uma acusação criminal séria.

Nos dias modernos, alguns tradicionalistas começaram a usar a palavra "bruxa" para auxiliar a comunicação entre eles e o mundo new-age, para "falar a língua dos dias modernos." Mas se a palavra "bruxa" for usada é por uma escolha pessoal ou de um grupo.



O ALÉM-VIDA

A Wicca acredita firmemente no modelo oriental Hindu/Buddhita de "reencarnação" e de evolução espiritual. Obviamente, este é mais empréstimo teosófico trazido por Gardner ou outros escritores wiccans.

Na Bruxaria Tradicional, há alguma noção de que a alma ou espírito possa entrar em outra fase de existência após a morte e isto geralmente anuncia um retorno ao poder da terra, para viver com os ancestrais e tornar-se um espírito guardião ou talvez anuncie um retorno de fazer parte da dimensão espiritual da Natureza. Deste estado, um renascimento na sua família ou clã pode ser possível, mas é misterioso. Há uma noção bem definida, apesar de naturalista, de uma existência espiritual de todas as coisas, incluindo os seres humanos. O tempo se move em círculos e da mesma forma obviamente faz o poder da natureza e assim a vida e a morte são mistérios confundidos com este fluxo.

Como a natureza é viva, assim como nós, existe a imortalidade. Os espíritos da terra são também os espíritos dos mortos e então a Natureza é venerada em muitos níveis.

Através da aplicação de alguns ritos da Antiga Arte, uma alma pode atingir um nível mais elevado de existência e viver entre a "Companhia Oculta" após a sua morte, mas isto é também um mistério melhor conhecido pelas tradições que ensinam isso.


http://members.fortunecity.com/entremundos1/diferencas.htm
Imagens: Michele-lee Phelan