imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

KRISHNAMURTI



Não sei quem sou. A água não sabe o que a água é.”

Krishnamurti em conversa com Mary Lutyens
in The Open Door.

Em março de 1983, o descobridor da vacina contra a pólio, Dr. Jonas Salk, visitou Jiddu Krishnamurti em Ojai, na Califórnia, para gravar com ele uma entrevista em vídeo. "Ouvi o sr. dizer uma vez", disse o Dr. Salk "que há pessoas capazes de ajudar as outras com suas qualidades excepcionais". Krishnamurti respondeu: "Ninguém pode guiar ninguém, nem dizer-lhe o que deve fazer, e nada disso faz sentido. Mas como o sol, algumas pessoas podem trazer luz e calor. E quem quiser ficar ao sol, que fique. Os que preferirem a sombra, que permaneçam nela".

- Esse é o tipo de iluminação de que falava?, pergunta Salk.

- Essa é a única iluminação que existe, responde Krishnamurti.

...Antes de morrer, quis gravar uma mensagem em resposta à consulta de uma amiga sobre o que aconteceria, após sua morte, àquela força que ele foi durante tanto tempo e com tanta intensidade. Quando o corpo se extinguisse, respondeu Krishnamurti na gravação, ficariam os ensinamentos, aquele seu modo peculiar de "conhecer o que é pelo conhecimento do que não é". Uma vez mais ele se negava a dar um depoimento pessoal sobre o sentido da sua existência e o significado de tantos anos de palestras, livros, entrevistas, diálogos, encontros. Com ele conversaram longamente, em alguns casos voltando a encontrar-se, Aldous Huxley, David Bohn, Sir Cedric Hardwike, Fritjof Capra, o Dalai-Lama, Mircea Eliade, Indira Gandhi, Yehudi Menuhin e muitos outros....

...Nascido de uma família pobre de Madras, na Índia, foi "descoberto" por C.W. Leadbeater e educado pela Dra. Annie Besant, da Sociedade Teosófica. Leadbeater e Besant, os primeiros europeus com quem o menino falou, diziam ter informações sobre vidas anteriores de Krishnaji (diminutivo carinhoso adotado pelos teosofistas). Um "mestre de sabedoria", Koot Hoomi, recomendava que o menino e seu irmão fossem preservados do meio em que viviam, aprendendo princípios de higiene e saúde mental...

...Krishnaji e seu irmão Nytia passaram a estudar em Londres, e nas férias visitavam Paris. A Sociedade Teosófica tinha grandes planos para eles, mas Nytia sofria então de uma tuberculose que logo se tornou crônica. A partir de 1922, Krislinamurti começou a mostrar-se crítico daquela preparação. Nas cartas que manda a Annie Besant, abria seu coração e mostrava muitas dúvidas. Na metade dos anos 20, os irmãos procuraram uma casa em clima ameno, aconselhável, para a doença de Nytia, e se instalaram em Ojai, nas montanhas da Califórnia.

Num domingo de agosto de 1920, Krishnaji viveu uma experiência psíquica que ele descreveu algo superficialmente à sua protetora. A partir daí, já não será o mesmo e as interpretações teosóficas não o satisfazem. Mrs. Besant diz que as dores de cabeça e o desejo de isolamento do jovem são natural do “desenvolvimento do kundalini, um preparo para a adaptação do corpo ao "Grande Ocupante”. Krishnaji permanece em silêncio, já não escreve mais; nem sequer fala com os que o cercam.

Na reunião de Ommen de. 1929, na Holanda, Krishnamurti faz um discurso sereno mas terrível para os teosofistas, dissolvendo a Ordem da Estrela e dizendo-se desvinculado de toda e qualquer organização. "Afirmo que a verdade é uma terra sem caminhos", disse ele nesse dia, "e ninguém pode chegar a ela através de uma religião,uma seita ou de uma organização."A verdade não pode ser trazida para o vale, por maior que seja o esforço. Imagino que vocês formarão outras ordens como essa que estou dissolvendo hoje. Isso será, uma mais uma espécie de servidão, de armadilha que vai prendê-los ao medo. (...),Não quero seguidores,-porque quem segue alguma coisa ou alguém,está longe da verdade ( ... ) Precisamos ficar livres de todos os temores, do medo da religião, da salvação, da chamada espiritualidade, do medo de amar, do temor da morte, do pavor da própria vida.

Vocês estão acostumados à obediência, à aceitação sem discernimento, e essa é uma forma de corrupção do espírito. Minha decisão não é um impulso, é definitiva. Vocês podem fundar, como disse, outras organizações, e esperar delas alguma coisa. Quanto a mim, estou desligado de tudo isso porque não quero criar outras prisões, nem uma nova decoração para as antigas. Meu único interesse agora é a absoluta e incondicional liberdade do homem".

Nos setenta anos que se seguiram, sob os auspícios de várias fundações Krishnamurti na índia, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá, foram criadas escolas e grupos de encontros, mas em nenhuma dessas instituições foram apontados caminhos para o comportamento humano, fosse ele religioso, social ou político...

...O ensino fundamental de Krishnamurti pode ser resumido em poucas frases: o homem é condiciona­do pelo desejo e pelo medo; o pensamento é limita­do e resulta de habilidades inatas e adquiridas; to­das as idéias e opiniões são formas cristalizadas e fortalecem um centro psicológico que retoca a reali­dade constantemente; o presente é única coisa con­creta, sendo o passado apenas memória usada afetivamente e o futuro projeto de ação para preservar o conhecido; nenhum livro ou autoridade pode ajudar o homem a encontrar a verdade,e todos os gurus e líderes são condicionadores da mente humana, sendo por sua vez condicionados;a curiosidade e a paixão da verdade são necessárias para uma busca que recomeça sempre do zero, a cada momento e sempre no aqui e no agora. Esses são os principais pontos dos ensinamentos de Krishnamurti, e segundo ele a ninguém caberá interpretá-los para outras pessoas, devendo servir-se deles para uso estritamente pessoal.

As especulações sobre o sentido da pregação e a própria vida de Krishnamurti nunca cessaram completamente. Ao longo de suas viagens
pelo mundo — primeiro na Holanda, depois na Suíça, em Londres, Paris e nos EUA, na Escola Inglesa de Brockwood ou em Ojai, na Califórnia — voltava sempre a pergunta sobre as razões da sua pregação, os motivos do seu ensinamento, e vinham as inevitáveis comparações com os "homens santos" de todas as religiões. A essas questões Krishnamurti respondia invariavelmente que somente o que ele dizia tinha importância, não ele próprio. Investigar a vida de alguém, conhecer sua intimidade, compará-lo com outros homens vivos ou mortos, era pura distração ou um modo de não cuidar do essencial e urgente que era a realidade de cada indivíduo. Disso, a mensagem cuidava, uma vez que ela propunha o auto-conhecimento como único caminho.

"Tudo o que interessa ao homem está nele próprio,não fora dele, e é disso que ele tem de tratar, conhecendo-se em cada movimento, em cada pensamento, em cada inibição, sem esforço nem tensão, sem buscar um resultado imediato, mas com certa paixão."

Nos seus noventa anos, Krishnamurti recebeu alguns velhos amigos em Ojai. Ali estavam Mary Zimbalist, companheira de seus últimos anos de vida, assim como Pupul Jayakar, responsável pela Fundação na Índia e biógrafa de Krishnamurti. Nessa noite, Pupul lembrou à mesa a revelação do sábio indiano Jagannath Upadhyaya sobre a hipótese de Maitréia ter tomado o corpo de Krishnaji, evocando uma carta do irmão Nytia para Annie Besant (encontrada nos arquivos de Adyar, Índia), falando sobre o "processo" vivido pelo pensador em 1922, ali mesmo em Ojai.

Na época, havia corrido a informação de que Krishnamurti tinha pedido aos que o acompanhavam que não falassem mais no assunto, uma vez que isso não era para ser conhecido. Presente a essa evocação feita por Pupul, Krishnamurti entendeu imediatemente que ela queria sua opinião a respeito, na noite em que completava noventa anos. Disse então, que não era aconselhável ir fundo nessas questões esotéricas, "porque se você abre essa porta, você não pode conter o que está por trás dela."

O sentido de dissociação de Krishnamurti com seu corpo foi para Mary Lutyens, autora de livros sobre ele, um desafio que ficou além de qualquer compreensão. Havia "um outro" que habitava aquele corpo do qual ele cuidava com tanto zelo? Pouco antes de morrer, Krishnamurti falou sobre a energia que passava através dele e iluminava seu espírito. Sua morte, no final de Fevereiro de 1986 em Ojai, foi serena e sua lucidez foi mantida até o último instante. Naquele ano e no anterior,ele deu atenção especial às questões relacionadas com a morte e o medo que ela suscita.

A seu pedido, seu corpo foi cremado em Ventura, California, mas não foi visto por ninguém após a morte. Mary Zimbalist descreveu esses instantes: " As horas que antecederam oito da manhã, quando os encarregados do funeral chagariam, permitiram um espaço abençoado de tempo, que aproveitei sentada em silêncio perto de Krishnaji, olhando seu rosto e sua infinita beleza. Quando o tempo acabou, abracei seus pés, seus pés de criança, delicados e flexíveis."

Fonte: Jornal da Tarde

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Na manhã do dia 7 (Fevereiro de 1986), Mary Zimbalist perguntou a K se podia responder a uma pergunta que Mary Cadogan tinha escrito para ele. Ele pe­diu para Mary lê-la. Era o seguinte: 'Quando Krishnaji morrer, o que realmente acontecerá com esse extraordinário foco de compreensão e ener­gia que é K?'

K respondeu imediatamente e Mary anotou: 'Terá partido. Se alguém penetrar totalmente nos ensinamentos, talvez possa tocá-lo; mas so­mente tentar tocá-lo não resolve'. E, após um momento, acrescentou: 'Se vocês apenas soubessem o que perderam — aquele vasto vazio'.

A pergunta de Mary Cadogan provavelmente ainda estava na cabeça de K quando, no meio da manhã, ele chamou Scott e pediu-lhe que gravasse algo que queria dizer. 'A voz dele estava fraca', observou Mary, mas falou com grande ênfase'. As palavras estavam entrecortadas por pausas como se fosse um esforço pronunciá-las:

"Eu estava dizendo esta manhã que, por setenta anos, esta superenergia — es­ta imensa energia, imensa inteligência — tem usado este corpo. Não creio que as pessoas compreendam a tremenda energia e inteligência que fluíam através deste corpo — é uma máquina de doze cilindros. E durante setenta anos — um longo tempo — e agora o corpo não agüenta mais. Ninguém, a menos que o corpo tenha sido preparado, muito cuidadosamente, protegido e assim por diante — ninguém pode compreender o que acontecia com o cor­po. Ninguém. Não pretendam compreender. Ninguém. Repito isso: ninguém entre nós ou o público sabe o que aconteceu. Eu sei que não sabem. E agora, depois de setenta anos, isso chegou ao fim. Não aquela inteligência e ener­gia, ela está aqui, todos os dias, e especialmente à noite.

E, após setenta anos, o corpo não pode mais suportar — não suporta mais. Não pode. Os indianos têm muitas superstições idiotas sobre isso — que o corpo obedece à nossa vontade e todos os tipos de tolices. Vocês não encontrarão outro corpo como esse, ou aquela suprema inteligência operando em um corpo, por muitas cen­tenas de anos. Vocês não verão isso outra vez. Quando ele partir, partiu. Não há consciência alguma deixada para trás daquela consciência, daquele esta­do. Todos pretenderão ou tentarão imaginar que poderão entrar em contato com aquilo. Talvez possam de algum modo se viverem os ensinamentos. Mas ninguém tem feito isso. Ninguém. E então este é o fato."

Quando Scott pediu para ele esclarecer o que dissera pois temia que pudesse ser mal interpretado, K ficou `muito aborrecido' com ele e disse: 'Você não tem direito de interferir nisso'. Ao dizer para Scott não interferir, parece evidente que K queria que essa declaração fosse conheci­da por todos os interessados.

K viveu apenas nove dias mais. Ele desejava morrer e queria saber o que aconteceria se o tubo fosse removido. Disseram-lhe que ficaria rapidamente desidratado. Ele sabia que tinha o direito legal de tirar o tubo, mas não queria causar possíveis problemas a Mary ou ao médico; além dis­so, 'o corpo' ainda estava sob sua responsabilidade; portanto, até o fim, ele continuou cuidando dele.


Fonte: VIDA E MORTE DE KRISHNAMURTI, de Mary Lutyens, Editora Teosófica

http://holosgaia.blogspot.com/2009/01/vida-e-ultima-mensagem-de-krishnamurti

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