imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

BLOG COM MEUS POEMAS:

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/



quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A MÃE REAL




Seja ela chamada de Maria, Ísis ou Cibele, seja ela mitológica ou real, seja ela física ou abstrata, a Mãe Real se manifesta em cada fêmea com sua cria, em cada educadora, em cada mãe adotiva, em cada momento que um indivíduo – independentemente de seu sexo ou opção sexual – cria, gera, nutre, educa.

É dessa Mãe que mais precisamos hoje: de nada adiantam mulheres no governo se, como mostram as experiências recentes, elas agem ou são levadas a agir como homens – do que realmente precisamos é de uma abordagem maternal do que seja governar: nutrir um povo, educá-lo, curá-lo, assisti-lo, sem “paternalismo” (o nome já diz tudo…), mas com educação de fato, transmissão de valores – tudo aquilo que falamos no início acerca da mãe arquetípica.

Da mesma forma, os valores maternais podem ser encontrados na forma afetiva com que um pai (só para não atrelarmos a “Mãe Real” somente à imagem da mulher) ensina algo a seu filho, ou que um chefe se preocupa com o bem estar de seu funcionário – qualquer relação em que a abordagem seja humana, ética, coerente e flexível – como as mães costumam ser.

Não esqueçamos, porém, de que o próprio Erich Neumann fala do outro aspecto, menos divulgado posto que menos agradável – da “Mãe Terrível” – aquela que pune o mau filho, o mau funcionário, o mau cidadão – como a ave que, pelo bem de um filhote saudável, alimenta-o com o segundo a romper o ovo. Tirânico a nossos olhos, sábio aos da Natureza.

Pois falar de Mãe sem mencionar a “Mãe Natureza” seria, no mínimo, incoerente. É dela, dessa Mãe Primordial, que tiramos praticamente todos os mais profundos conceitos do que é uma Mãe: qualquer agricultor ou criador de animais sabe que a Natureza gera, nutre, educa, fortalece, pune quando necessário, premia quando merecido, ceifa, recicla, restaura.

Num nível coletivo, a moderna sociedade ocidental não tem tratado mito bem de sua Mãe. O preço a pagar é conhecido e esperado: poluição, devastação e superpopulação trazem esgotamento de reservas, fome, aquecimento global, perda da qualidade de vida.

Micro-Mãe, Macro-Mãe

Durante todo o artigo, pus-me a falar de diferentes fontes que abordam a questão do Feminino em geral e da Mãe em particular: disciplinas como psicologia, antropologia, mitologia, religião e espiritualidade – todos se somam e se retro-alimentam num processo contínuo que, quando vislumbrado, permitem a cada um de nós perceber que não importa quem seja ou tenha sido minha mãe física: a ela e devo “pelo menos” o fato de existir, de estar vivo – gostando disso ou não. Conhecer suas motivações, sua história, seu passado, é conhecer nossa história, nosso passado individual. E “só sabe para onde vai quem sabe de onde vem”, como sempre digo em meus cursos… Pois então que sejamos capazes de redescobrir as múltiplas facetas de nossas mães pessoais, biológica ou de criação, conhecida ou não, afetiva ou não. Essa é a “micro-mãe”, a mãe individual de cada um.

Da mesma forma, nossa sociedade moderna como um todo precisa redescobrir sua Mãe, aquela que gerou a todos nós, que nos permite viver, que nos orienta (ainda que nem sempre lhe demos ouvidos…): nossa Macro-Mãe: nossa Mãe Terra. Ela tem tentado nos dar sinais, e bons filhos atendem aos sinais de suas mães. Os maus filhos costumam por ela ser punidos…

Consciência Filial

O universo se assemelha a uma daquelas tradicionais bonequinhas russas: sempre que compreendemos um nível, descobrimos que há algo mais profundo e sutil por trás dele. A compreensão da “Mãe Real”, em sua faceta mais profunda e universal no mundo em que vivemos auxilia-nos a viver melhor como cidadãos, como membros de uma coletividade. Da mesma forma, o entendimento do que seja essa “Mãe Real” em nossa individualidade – independentemente de sexo ou opção sexual – ajuda-nos a ser melhores filhos, melhores criadores, melhores educadores, melhores governantes – seja de nossa famílias, seja de nossas sociedades, seja de nossas vidas individuais.
Bons filhos e filhas tendem a ser bons pais e mães. O futuro – individual e coletivo – depende desses valores.

Claudio Quintino (Crow) é escritor, autor de “A Religião da Grande Deusa” e “O Livro da Mitologia Celta”, instrutor de druidismo e representante no Brasil da Druid Network.

Nenhum comentário: