
Meu Rei, houve um tempo em que eu não estava pronto para Ti.
Todavia, sem que eu pedisse,
entraste em meu coração como um desconhecido qualquer,
e marcaste os momentos fugazes da minha vida com Teu selo de eternidade.
Hoje, quando me deparo ao acaso com esses momentos
e neles vejo a Tua marca,
percebo que eles ficaram espalhados no pó,
misturados com a lembrança de alegrias
e tristezas dos meus dias esquecidos.
Tu não desprezava os meus brinquedos de criança pelo chão, e os passos que eu ouvia em meu quarto de brincar
são os mesmos que agora ecoam de estrela em estrela.
* * *
No dia em que a flor de lótus desabrochou,
a minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia, e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
de um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim,
que ela era minha, e que essa perfeita doçura tinha desabrochado no fundo do meu próprio coração.
- Rabindranath Tagore -
(Textos extraídos do livro "Gitanjali"; Edições Paulinas).
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