imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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domingo, 12 de abril de 2009

O ELO PERDIDO DA MEDICINA

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Você que é homem não sabe o que é extirpar um útero e aproveitar e arrancar os ovários considerados, neste caso, sem mais função alguma. Você talvez nem sinta na pele o que é extirpar os próprios testículos, porque não acredita que a sua próstata irá adquirir um tumor maligno. Mas você que é mulher sente o corpo arrepiar só de ouvir isso – embora talvez nunca se tenha perguntado – o porquê de a ginecologia, por exemplo, ser uma especialidade dominada pelos homens. Da mesma forma, você é orientada a submeter os seus seios, além do desconforto e dor, ao bombardeio de raios X, periodicamente, sem questionar se há outro método de vigiar a saúde de suas mamas. Ou, ainda, basta uma consulta médica, com ou sem sintoma algum aparente, e crianças, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos são encaminhados cada vez mais para laboratórios e clínicas de exames radiológicos e eletroeletrônicos que demandam contrastes de substâncias químicas, algumas tóxicas, circulando no nosso organismo. Sem falar do custo em dinheiro.

Porque o médico, como mediador entre a natureza e o organismo, perdeu o lugar para a medicina como ordem médica. A medicina perdeu para os equipamentos e laboratórios, estes, para a tecnologia, e esta, para a indústria e o capital. Quão distantes da natureza nos tornamos.

Não há dúvida, algo está errado neste cenário. Mas onde isso tudo começou, onde foi que erramos? Quando perdemos esse elo com a natureza? Perguntas sugestivas numa época (século XXI) em que constatamos quão adoecido está o ambiente total, o planeta.

Na base da medicina chinesa estão as categorias de percepção do tempo, do ambiente, das influências externas sobre o organismo humano. Um sistema de pensamento que concebe o cosmo, a totalidade e as diferentes expressões dessa totalidade. O Tão que se expressa em todas as coisas.
No pensamento indiano tem-se a consciência superior, ou consciência cósmica, que estaria na origem de todas as coisas.

Na tradição mais próxima de nós, a grega, sobretudo na tradição da medicina hipocrática, que é dita matriz da medicina ocidental, a noção de natureza é aprendida através do conceito de physis. Uma noção grega em que se concebiam as coisas pelo movimento, pela sua dinâmica, pela dinamis. Os gregos diziam que a “qualidade” das coisas seria mais bem percebida no processo, na dinamis, no movimento. Não prestavam atenção à matéria, mas sim aos movimentos dela e em torno dela. O médico hipocrático, na sua arte, deveria ser um especialista em identificar o que no adoecimento era dinâmico da physis, dinâmica que levaria ao estado de equilíbrio, o movimento próprio do organismo no sentido da cura. Ou o que era a dinamis contra natural, ou dinamis pathos, dinâmica da influência antinatural.

O médico buscava inibir os processos do movimento antinatural e estimular os movimentos da physis curativa (natureza medicatrix). Esse conceito ganha força na época da medicina galênica, do mundo romano, em que se vai centrar quase todo o foco de entendimento médico em torno da natureza medicatrix, ou seja, a noção de dinamis, o movimento de cura, ou de regulação própria do organismo.

Esse deveria ser o grande foco de atuação do médico, fortalecer, respeitar, entender, monitorar a dinamis da natureza medicatrix, também conhecida como vis medicatrix naturae.

E essa noção de medicina foi tão forte que determinou a nomenclatura do praticante da arte médica. Em inglês o médico é o physician, seguidor da physis. De outra maneira, em latim, médico vem de mediar, medicare (trazer para o meio, para o equilíbrio). Em ambas o médico era o artista, o portador da arte de intermediação entre a natureza e o indivíduo, o ser vivo adoecido.

Sempre uma noção de um agente de intermediação, de interlocução, de mediação. Essa noção domina por cerca de 20 séculos a chamada medicina ocidental, que nasce com Hipócrates e segue com os 17 séculos de galenismo.

(...)É claro que esse caminho nunca foi retilíneo. Ele oscilava de acordo com as influências sociais, da cultura e os avanços no conhecimento. O que é bem nítido é uma oscilação entre a vertente racionalista e uma tendência empírica, que valorizava a observação e experiências médicas.

Mas era claramente hegemônica a noção vinculada à tradição hipocrática e galênica. A exploração médica do campo da physis ou da natureza era fortemente marcada pelo saber de base empírica, pela experiência, pelos sentidos, pela percepção. Isso dava à medicina um caráter de arte, ars médica. Fruto do acúmulo de conhecimento, da observação, do uso da sensibilidade, de definição de indícios, do processo do adoecimento.

Por outro lado, o pensamento racionalista tendia a minimizar a observação individual, seguia a máxima de Galileu, individuum est inefabile, sobre o indivíduo não se pode falar, isto é, a ciência se baseia na repetição para estabelecer as suas leis. Isso realçou a falha do observador, as falhas das avaliações de caráter empírico. Crescia a preferência pelas teses apriorísticas e quase sempre reducionistas.

Façamos o mesmo jogo, isto é, observemos as falhas desta nova medicina sem elos com a natureza que começou a surgir: não é um incrível e perigoso atalho a ingestão de uma droga sintética de supressão de um pseudo-sintoma de adoecimento, de uma dor, de um mal-estar? A submissão a exames por máquinas não é, no mínimo, uma ação tempestiva que fazemos em nosso organismo?

(...)Na Renascença, houve o grande movimento de resgate da tradição hipocrática, a volta à natureza. Era um movimento de valorização da vertente observacional. Da vertente focada na experiência, na observação da dinamis do organismo.

Hoje em dia, destaca-se Paracelso, um médico criativo que rompeu radicalmente com as teorias médicas de então. Ele pode ser considerado o principal precursor da medicina energética, das forças sutis do organismo, na concepção da tendência vitalista, cujo principal expoente foi Hahnemann. Mas devido à sua forte crítica contra o establishment médico foi perseguido, odiado, e tido como irresponsável e sofreu toda forma de depreciação do seu trabalho visionário. A partir do século XX, vem sendo recuperado através de diversas obras. Vários médicos de hoje são admiradores e seguidores de Paracelso. Várias clínicas da Europa, de medicina natural, integral e biológica recebem o nome de Paracelsus Clinic, na Alemanha, Áustria, Suíça, de tal forma que Paracelso hoje está completamente reabilitado.


(...) O “semelhante cura o semelhante” (similia similibus curantur). A utilização de medicamentos que produzem sintomas da doença em pessoas saudáveis é a base da filosofia da homeopatia. Trata-se da “lei dos semelhantes” que foi introduzida pelo médico alemão Samuel Hahnemann (1755-1843) em 1796. Homeopatia vem do grego “homoios” que significa semelhante e “pathos” que significa doença. Há referência a essa lei em escritos de Hipócrates e Paracelso e o conceito foi utilizado por várias culturas: chineses, gregos, índios norte-americanos, maias e indianos.

A propósito, com relação à Renascença e à lembrança histórico-cultural, a medicina não era considerada uma área das ciências, e muitas das suas maiores descobertas não foram feitas por médicos, mas por artistas, tais como Leonardo da Vinci e Michelangelo.

Cabe aos médicos desatarem o nó gordiano em que estamos amarrados, desastrosamente longe da natureza em todos os sentidos. Mas é preciso ter coragem e amor à arte.

Dr. Eduardo Almeida & Luís Peazê

http://pistasdocaminho.blogspot.com/2009/04/o-elo-perdido-da-ciencia-e-quase-deuses.html

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