(No Colo da Mãe Divina - Matriz dos Sóis e dos Seres)
No meio da madrugada, Ela aparece dançando na minha frente.
Essa Menina-Mulher de pele morena, risonha e leve, como a brisa noturna.
Ela olha-me nos olhos, e eu sinto que Ela sabe tudo de mim, de todas as vidas.
Eu estou nu diante d'Ela, sem barreiras psíquicas, em espírito e verdade.
Como uma Mãe, Ela apenas me olha, sem julgar nada; há somente compreensão...
E eu lembro-me de Paramahamsa Ramakrishna falando da Mãe Divina e cantando.
Lembro-me dele pulando, igual criança, logo após voltar de um samadhi.
Ele ria tanto... E batia palmas, e me dizia: "Cante aí, garoto. Celebre o Toque da Mãe!"
E agora, Ela está aqui, e eu não sei cantar mais... Só sei senti-la em meu coração.
Só sei sentir um vento de amor soprando do Eterno e varrendo a poeira do meu ego.
E eu, novamente, lembro-me dele, e penso: "Cara, como é que você aguentava tanto amor?"
Ah, Ramakrishna, ninguém sabia o que se passava dentro do seu coração, só Ela.
Somente alguém simples, igual criança, é que poderia compreender o Infinito...
Alguém igual a você, de coração limpo, que me dizia: "A Mãe Divina é o seu escudo!"
Sim, eu me lembro, e hoje o compreendo melhor. E sei os motivos d'Ela estar aqui hoje.
Ela veio falar-me do amor que move o espírito, mesmo entranhado na carne transitória.
Veio dizer-me das almas perdidas, que estão embaladas em seu ventre, berço de sóis.
Que o choro delas será transformado em vida, pela ação d'Ela, no meio das estrelas.
E tudo isso sem dizer palavra alguma, somente no olhar silencioso, que diz tudo ao coração.
Então, eu compreendo que Ela me interligou à passagem de muitas almas perdidas.
Que elas estão passando por mim, como um portal interplanos, pela ação d'Ela.
Ah, Ramakrishna, você sabia disso, quando ria e me dizia: "A Mãe gosta de você!"
E agora, quando essas almas sofridas entram no ventre d'Ela, eu vejo miríades de sóis ali.
O regaço d'Ela é um berço de estrelas, e elas estão indo para lá... Onde nasce a Luz.
Elas estão voltando para casa! Estão seguindo para a forja estelar, enquanto Ela dança...
E eu gostaria de cantar algo para elas, mas não tenho mais aquela voz de outrora.
Quieto, eu percebo que isso não é necessário, pois elas estão passando pelo meu coração...
E sentem um Grande Amor guiando-as ali, o d'Ela, em mim. Admirado, eu só olho...
Ah, Ramakrishna, agora eu compreendo o seu olhar e o que você ensinava, dizendo-me:
"Os avatares são como locomotivas carregando os vagões cheios de almas para o Divino."
E você era um deles, um desses caras geniais, que vem do Céu e ninguém entende.
Mas eu não sou nem vagão, quanto mais locomotiva; e a Mãe está aqui, no meu coração.
E as almas estão viajando por aqui, porque Ela quer assim; porque você me ensinou o que sei.
No meio da noite, eu viro "rio das almas", na assistência extrafísica, silenciosa e magnânima.
Ela me olha, elas passam, e eu me admiro. Ela ri, elas melhoram, e eu me sinto tão pequeno...
Ela acolhe-as, sem julgá-las; elas entram na luz; e eu fico igual criança diante do infinito...
Ela dança, Elas sobem para a Luz, e eu me pego chorando pela redenção delas.
Choro a dor de um parto espiritual, por elas e por mim. E as lágrimas são de luz serena.
Ah, Ramakrishna, agora eu sei por que você chorava quietinho, e eu, ignorante, não entendia.
Só você e a Mãe é que sabiam do abraço silencioso que regenera as almas perdidas.
Eu queria ficar em samadhi, e você não deixava. Ah, você me deu muitas broncas por isso.
E, agora, o meu coração se derrete no rio das almas e tudo vira luz, no ventre d'Ela.
Tudo fica branco brilhante, e eu mergulho na forja estelar, cheia de vida, pela ação d'Ela.
Dissolvo-me na luz, sentindo a imensidão em mim... Cada estrela é minha irmã.
Cada sol é um pensamento d'Ela; e todos os seres são modos dos Seus pensamentos...
E o meu pequeno eu se dilui no grande Eu d'Ela... Onde tudo é UM!
E, no centro da vida, novamente eu vejo o olhar silencioso d'Ela, que me diz:
"Meu filho, ande entre os homens, de igual para igual, sendo amigo de todos. Continue levando espiritualidade e música para eles. Dance com a vida, sempre na luz. Viva com simplicidade e contentamento. Compreenda e ame. Aprenda e cresça. Mexa-se!"
Então, abro os olhos e estou no aqui e agora de sempre, como se nunca tivesse saído.
Choro novamente, pois não tenho como aguentar tanto amor descendo aqui.
Ah, Ramakrishna, você sabia disso, não é mesmo? Eu me lembro do que você me disse:
"Samadhi, não. Deixe de ser egoísta! É hora de trabalhar. É hora de chorar com as almas."
Meu amigo, agora eu sei; e agradeço a você pela paciência de tantos anos.
E, nessa noite tão especial para mim, eu continuo lembrando-me de suas risadas de criança.
E os meus olhos brilham como dois sóis, acesos no fogo do Eterno, no ventre da Mãe Divina.
Eu ajudei no parto das almas, mas, quem renasceu na luz fui eu mesmo!
P.S.:
O meu samadhi é ser igual a todo mundo, e continuar levando espiritualidade por aí...
E quem sabe de minha jornada e de meus motivos, é só a Mãe Divina.
E Ramakrishna me ensinou bem: Ela é o meu escudo!
Por obra e graça d'Ela, minha noite virou sol.
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