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Adoção de animais
Há milhares de bichinhos precisando de cuidado, carinho... e um lar
Nascido em Bagdá, há pouco mais de um ano, Ratchet era apenas um filhotinho vira-lata, preto e de olhos tristes, que catava lixo e vivia em meio aos mortos da Guerra do Iraque. Numa de suas andanças nas áreas de conflito, em busca de comida, viu-se preso entre labaredas de fogo que cercava a pilha de dejetos que fuçava. Assustado e confuso, Ratchet estava prestes a testemunhar, pela primeira vez, um gesto de amor vindo, justamente, das frontes inimigas. A militar norte-americana Gwen Beberg, que passava pelo local, avistou o filhote lutando para se salvar do incêndio e resolveu ajudar o cãozinho. O que Ratchet não sabia era que Gwen não só o resgatava do fogo, mas de toda miséria que conheceu até então. Entre os dois, um laço forte de amizade foi criado durante o ano que passaram juntos na guerra e o que aconteceria depois seria a luta vitoriosa de Gwen contra as leis das Forças Armadas Americanas para levar Ratchet, o cãozinho iraquiano, para seu lar em Minnesota.
Os dez mandamentos da adoção de cães e gatos
Nem todas as histórias de adoção são tão notórias quanto a de Ratchet, que recentemente ganhou páginas de jornais no mundo inteiro. No entanto, o que todas têm em comum é a compaixão e respeito pelos animais por parte de quem adota. A maioria de cães e gatos sem lar é de vira-latas. São animais que precisam ser vermifugados, vacinados e tratados para curar doenças adquiridas nas ruas ou em abrigos superpovoados.
De acordo com a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), muitos animais são comprados por impulso e depois abandonados ou deixados no abrigo por motivos como mudança de endereço, gravidez das responsáveis por eles, crias indesejadas, orientação médica, separação de casal ou mesmo desemprego. De acordo com os funcionários do local, no entanto, alguns donos simplesmente se cansam e levam seus cães para o abrigo dizendo ter acabado de salvar os animais das ruas. Assim que deixam o lugar, os bichinhos uivam e choram pela volta daquele que acreditavam ser seu dono. Alguns deles, segundo a Suipa, deixam de comer e morrem de tristeza.
Fundada em 1943, no Rio de Janeiro, a entidade abriga hoje cerca de nove mil cães e 700 felinos, que são postos para adoção, depois de serem tratados e esterilizados, quando atingem idade adulta. E foi na Suipa que Lua, uma gatinha vira-lata tigrada, conheceu seus donos antes mesmo de dar entrada no abrigo, com um mês de idade. "Minha filha, que tinha 14 anos na época, foi com o pai dela até o local", relata a jornalista Mônica Crespo, de 51 anos. "Nem cogitamos a idéia de comprar um bichinho, até porque eu havia concordado, depois de muita insistência, que ela poderia ter um. Isso foi em 96 e lembro muito bem de não ter gostado muito da idéia de ter um gato em casa", confessa.
Lua faleceu há um ano, vítima de insuficiência renal aos nove anos, após uma vida alegre, tranqüila e cercada de amor. "Até minha avó, que não gostava de gatos, se rendeu aos encantos da Lua", lembra Mônica. "Ela (a gatinha) tinha uma personalidade muito forte, era muito arisca, vingativa, mas era linda, e todo mundo gostava dela mesmo assim. Comigo e com minha filha, ela vinha pedir carinho toda noite e fazia questão de comer ao nosso lado, com muito afago". Apesar de sofrer com a morte da gatinha, Mônica adotou recentemente Brie. Apesar de ser o oposto da outra, também tem seu charme. "Ela depende muito de mim, pede carinho várias vezes e me recebe todos os dias na porta, quando chego do trabalho", revela. "Mas nada vai mudar a memória da Lua".
Acredito que temos uma responsabilidade com os animais e apesar de muita gente ser contra castração, acho que é uma maneira de resolver problemas de abandono
Tal como Mônica, o colega de trabalho dela, Paulo Braga, de 38 anos, também adotou um gato. Folgado, gaiato e cheio de charme, Preto é um gatinho vira-lata de pêlos negros e olhos amarelos, que chegou à casa do jornalista, em São Paulo, com aquela animação e energia próprias de todo filhotinho. Ele foi recolhido no Parque da Água Branca, em São Paulo, junto de seus três irmãozinhos, por um amigo de Braga que realiza esse trabalho no local. "Já tinha uma gatinha, mais velha, que no início não gostou muito da idéia de dividir o território dela, mas com o tempo ela foi aceitando o jeito dele (Preto)", lembra.
A vida do bichano mudou radicalmente. Foi castrado, bem cuidado, bem amado e até foi viver no exterior. "Fui morar em Buenos Aires, em 2002, e resolvi levá-lo comigo. A burocracia foi imensa, mas ele foi", conta. "Acredito que temos uma responsabilidade com os animais e apesar de muita gente ser contra castração, acho que é uma maneira de resolver problemas de abandono".
De fato, a superpopulação preocupa algumas autoridades municipais, como o Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ). Uma única cadela e seus descendentes podem gerar 64.000 novos animais em seis anos. Uma gata, 420.000 gatinhos, em sete anos. Somente na capital paulista, existem cerca de 1,5 milhão de cães - um cão para cada sete habitantes - e 230 mil gatos - 1 para cada 46 pessoas, segundo o CCZ. Do total, estima-se que apenas 20% sejam domiciliados: dos 24 mil animais que chegam até o órgão anualmente, apenas 1,5 mil são adotados, e acredita-se que 19 mil sejam sacrificados por ano, por diversos motivos.
A todo vapor
Se a sorte de alguns animais não é nada bela, a de outros é afortunada. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet), os brasileiros consumiram cerca de US$ 546 milhões, em serviços como banho e tosa, e US$ 272 milhões em produtos veterinários, de higiene e embelezamento. Apesar dos alimentos responderem por 75% do faturamento do setor, totalizando um valor aproximado de US$ 3 bilhões, o potencial do mercado brasileiro para consumo de produtos para animais domésticos é ainda maior: há 31 milhões de cães e 15 milhões de gatos, um consumo potencial de 3,96 milhões de toneladas/ano. De 1,8 milhão produzido no país em 2007, a região sudeste responde por 52,64% do mercado, seguida pela sul (40,42%), centro-oeste (4,45%), nordeste (1,94%), norte (0,55%). Esses percentuais colocam o Brasil como o segundo maior mercado do mundo, em número de animais e volume de produção.
Ainda que o setor seja promissor, os alimentos industrializados são oferecidos a apenas 45,32% dos animais de companhia, sendo os outros 54,68% são alimentados com sobras de mesa. "São aproximadamente dois milhões de toneladas de arroz, carnes, leite e outros alimentos utilizados para alimentar nossos animais de companhia, conseqüentemente desviados da alimentação humana", afirma José Maria Parra, presidente da Anfal Pet.
Pilar Magnavita
http://msn.bolsademulher.com/mundomelhor/materia/adocao_de_animais/52122/1
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