imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

A ALIENAÇÃO DO FEMININO

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Passaram tantos séculos de obscurantismo religioso, de interdições e perseguições que nem mesmo os tempos modernos, aparentemente livres e de informação a mais variada, no Ocidente, claro, conseguiram apagar essas marcas nem desfazer os medos arraigados no mais fundo do coração das mulheres.

AS mulheres continuam alienadas da sua verdadeira natureza, não só dependentes como identificadas com o homem em todos os aspectos das suas vivências e dificilmente se apercebem da sua verdadeira natureza, ou têm vida própria ou consciência da sua verdadeira interioridade. Elas fazem tudo para reconstruir um mundo supostamente feminino para lá do casamento e da maternidade – cinema, moda, cosméticos, operações plásticas, dietas, psiquiatras, massagens etc. - e mesmo depois das feministas, que durante décadas lutaram por uma igualdade nunca atingida na “pele”, apesar de alguns progressos aparentes e maior liberdade social e económica, a verdade é que as mulheres nunca conseguiram encontrar o caminho sagrado do seu verdadeiro ser nem da sua essência, o caminho de retorno para a Mãe Natureza e a Deusa, de acordo com o poder do útero, apelando para a força do seus ovários... Pelo contrário: ao longo dos anos e com o “avanço da ciência”, tudo lhes é tirado pelos médicos…narizes, mamas, ovários e Útero…e por fim agora, querem “libertar” a mulher do sangue menstrual…e tudo para as tornar mais objectos de prazer ao sabor do mercado, ao serviço do macho e depois acrescentam-lhes o medo do cancro, a vacina do cancro do útero para as infertilizar, tudo para controlar: as pílulas e os anticoncepcionais que as obrigaram a tomar toda a vida para não engravidar, e desde meninas envenenadas, contaminadas, para que elas, iludidas pela sua “liberdade”, continuassem a servir sexualmente e controlar a natalidade, sem que os homens sofram nada…

Há quem pense que a espiritualidade pode trazer à mulher a libertação, mas quanto a mim isso não acontecerá se a mulher não se encontrar primeiro a ela mesma, e esse ela mesma não se refere ao mesmo propósito do homem quando procura ele também a sua essência, e isso confunde ambos. O que acontece é que a mulher viveu um apagão histórico, cultural e anímico e até físico, enquanto o homem sempre conviveu naturalmente com o seu potencial embora afastado do seu lado feminino por não ter na mulher o seu espelho. Obviamente saiu prejudicado, mas não foi amputado do seu masculino como a mulher foi do seu feminino. Muita gente confunde esta questão e pretende partir de um pé de igualdade entre a mulher e homem quando assim não acontece. É como se numa corrida o homem corresse com as suas duas pernas e a mulher só uma…ela nunca ganharia a corrida nem a perna…É assim que eu vejo a mulher dentro da espiritualidade. Amputada da sua verdadeira identidade, a identificar-se com os processos do homem!

A razão é óbvia: elas foram de tal modo esvaziadas do seu ser em todos os sentidos durante milénios de história e religião que agora não conseguem olhar para o que foi a sua perda, a perda da sua identidade profunda lá nos confins dessa história em que ela deixou de existir e que foi apagada ou simplesmente adulterada a sua missão de iniciadora do amor, quando deixou de ser sacerdotisa e livre e de amante passou a ser escrava. O Sistema explora ainda essa condição em que escravizou a mulher ao seu belo prazer e a mulher real morreu, esqueceu-se de quem era…Mal nasce, a mulher é anulada na sua individualidade para servir o homem e a sociedade…Talvez nas últimas décadas essa mentalidade se tenha atenuado, mas o Sistema encontrou logo maneiras de a reprimir e impedir de adquirir uma verdadeira consciência de si mesma. Os filmes e a televisão, a publicidade encarregaram-se de a continuar a alienar propagando o ódio e a violência contra as mulheres. Não é por acaso que elas são violadas e perseguidas ou afrontadas hoje até nas universidades, num país tão livre como o Brasil…ou queimadas na Índia e lapidadas no Iraque e no Irã.

Por tudo isso elas não conseguem olhar para a sua perda porque julgam que se encontraram na imagem estereotipada que os homens mais uma vez construíram para si na imagem da mulher moderna que conseguiu chegar a chefias, a ministras e a intelectuais de primeira linha…elas não percebem porém que essa mulher ainda nada tem a ver com a mulher essência que ficou presa nos grilhões da história nem da mulher instintiva que se contenta com a liberdade sexual e em competir com o homem na ostentação da sua permissividade. De esposa e prostituta passou a ser independente, acompanhante, mulher livre ou intelectual, artista e escritora ou médica e policia, política e cientista…ela conseguiu atingir o pódio no desporto e em algumas carreiras, mas ela não conseguiu ir dentro de si mesma e olhar sem medo a sua verdadeira natureza de mulher, mãe e amante. Ela não sabe qual o seu poder interior…ela não percebeu a dimensão da sua alma…ela julga que é capaz de tudo e tão inteligente como o homem, é certo, mas há mais muito mais de que ela não é capaz de se lembrar…é aí, no fundo de si mesma, no seu abismo, na suas entranhas que a mulher de hoje se desconhece e por isso obedece ao homem em primeiro lugar, mesmo que julgue que não, mas continua a obedecer aos padrões masculinos e ao serviço das suas instituições, tantas vezes contra si mesma e contra as outras mulheres. Ela não quer nem consegue ver o mundo com os seus olhos…Ela não acredita nela porque ela morreu, a Mãe morreu e morreu a filha, morreu a amante do início, a musa dos poetas e dos trovadores, a companheira do homem que busca a sua alma acima de tudo…


A Mãe e a Filha foram destronadas para reinar o Pai e o Filho


Não! A mulher verdadeira não existe, porque a mulher moderna não consegue, apesar da sua liberdade e da sua cultura, entrar em contacto com a mulher ancestral, com a mulher eterna. Demasiados preconceitos e medos a tolhem. Ela não quer agora perder o controlo que pensa que já conseguiu na sociedade; o emprego e a pequena autonomia do carro e das compras, as viagens, mas continua agarrada ao poder do pai, ao poder do marido, do filho ou do patrão…ela não quer perceber que teria de caminha por si só sem esse medo de desprotecção que homem lhe incutiu para melhor a dominar e manter servil…é subtil mas é isso que a mulher continua a fazer em todos os aspectos da sua vida. Mesmo mal na sua alma e ferida no seu corpo, ou independente economicamente ela não sai de casa do marido nem deixa o filho…e mesmo quando é espancada ou violentada na sua liberdade e integridade, ela fica presa à casa como se fosse incapaz de desfazer a teia com medo das consequências…e elas existem! A sociedade patriarcal e machista não perdoa…uma mulher separada ou divorciada é continuamente assolada pela matilha dos predadores, dos homens casados, dos patrões, dos amigos do marido inclusivo…”mulher que não pertence a um homem não é séria”… e pode usar-se e deitar fora, é só insistir porque mesmo que a mulher diga não, o homem não quer saber e continua o assédio…

E o que está a acontecer no mundo ocidental e civilizado no ataque às mulheres sós quando elas ousam usar a mini-saia ou o decote…são agredidas e chamadas de putas…como recentemente o caso de universidade brasileira e uma moça nos USA que foi violada por um grupo de rapazes… Sim, no Irã ou Iraque é “norma” onde, recentemente, as moças que foram violadas acabaram mortas pelos pais como culpadas de não serem recatadas o suficiente… mas na América e no Brasil? Sim a violência sobre as mulheres está a crescer e de acordo com a crueldade dos homens, continua o bode expiatório como foi sempre a mulher…



(...)“Pode a mulher cristã, muçulmana, judia incorporar a mulher verdadeira, uma vez que segue as religiões que tratam a mulher como apêndice do homem, como mero detalhe da criação do deus todo-poderoso, criador do céu e da terra e do filho único e profetas? A mulher que é nada mais do que uma serva e um útero para incubar mais filhos para o deus?

Podem essas mulheres se tornarem mulheres de verdade, ou por seguirem essas religiões estão sempre reenforçando a sua própria inferioridade?
Não vejo saída para mulheres cristãs, judias e muçulmanas, por mais liberais que possam ser as interpretações que alguns queiram dar aos seus livros sagrados. Uma vez que os homens ao crerem no deus único, estão crendo em última análise na sua superioridade, por serem os filhos e herdeiros do mundo, os preferidos do pai; as mulheres que abraçam essas religiões estão a todo momento e sempre reafirmando todas essas crenças para o homem e avalizando a sua própria inferioridade perante eles. E assim sendo, nenhuma delas estaria apta a deixar que a Mãe tomasse conta delas. As católicas ainda podem ser consolar com Maria, mas Maria é também submissa á vontade do deus e é esse modelo que as mulheres católicas vão seguir.

O único caminho onde a deusa pode se manifestar é no paganismo, mas esse vem tão entremeado de preconceitos, que todos os monoteístas, até mesmo os mais liberais o rejeitam, porque abraçar ou tolerar o paganismo, é o mesmo que rejeitar a ideia do deus único (rejeitar O deus único é rejeitar o homem em si) e isso não pode ser permitido pelos donos das religiões. Porque se permitirem isso, a Deusa terá que forçosamente tomar o seu lugar e o homem não poderá mais acreditar em sua superioridade, que mesmo para aqueles desprovidos de qualquer poder nesta terra, ainda é um consolo acreditarem-se superiores as mulheres e a todas as criaturas que vivem e ainda achar que compartilham da divindade do deus, somente por serem homens, enquanto nós mulheres temos que a conquistar a duras penas.”


Texto completo em
http://rosaleonor.blogspot.com/2009/11/alienacao-do-feminino.html

2 comentários:

Anna Leão disse...

Maravilhoso este texto, Anna!
Concordo plenamente com Rosa Leonor principalmente quando ela coloca as religiões patriarcais como um entrave para a verdadeira valorização da mulher. Parece que por mais que queiram ser "mulheres modernas", muitas não conseguem abrir mão da suposto superioridade masculina. E cá entre nós, não temos que ser "mulheres modernas" e sim antigas, ah ... muito antigas...muito, muito, muito antigas...
Beijos,
Anna

Anna Geralda Vervloet Paim disse...

Tb concordo em "gênero,número e grau"...
bjus