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“Sou mulher mas tenho certa dificuldade em entender essa prática recente de endeusar as mulheres. Mulheres, uni-vos? Por que não conclamar todos os seres humanos a unirem-se uns aos outros e esquecerem essa bobagem de ser homem, mulher, branco, índio, gordo, homossexual, trissexual? Porque os homens devem se unir com os homens, as mulheres com as mulheres, os ateus com os ateus, os esotéricos com os esotéricos? Não vejo sentido nisso!”(…)
UMA GRANDE ESCRITORA ESCREVEU:
"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." *
Isto...diz tudo sobre a mulher que somos e não somos e agora a questão que nos resta é perguntar-se porquê?
Porque não sabe de si a mulher, nem dizer-se?
Se se aprofundar a questão, pois trata-se de aprofundar a questão do SER MULHER EM SI precisamente e não do ser HOMEM, porque à partida são naturezas diferentes, que se manifestam mais especificamente por emoção e intuição e razão acção respectivamente e independentemente de cada um destes aspectos se completarem, dentro e fora, vemos que há uma supremacia de um dos lados. Há o domínio histórico e social de uma parte da Humanidade e uma anulação e sujeição da outra parte. Ambos estão em conflito há muito e nada mudou em profundidade, mesmo que na superfície da vida moderna que vive de aparências e de estereotipas fabricados e fictícios, se pense que sim...
A Mulher continua a não saber de si e não sabe de si como a um certo nível o homem também não sabe, dir-me-ão…falando do plano metafísico, mas é aí precisamente que a questão se levanta. Talvez a Mulher e o Homem não saibam de si ontologicamente porque a Mulher se perdeu na História do Homem. A mulher foi aglutinada, foi reduzida a um simulacro de mulher, foi abduzida, desventrada, transformada num objecto de uso e consumo comercial…
“A mulher não está sabendo, mas ela está cumprindo uma coragem. A coragem da mulher é a de não se conhecendo, no entanto prosseguir, e agir sem se conhecer exige coragem”. *
Basta olhar o que se passa à nossa volta…ou ver os filmes e as telenovelas; aí pode-se ver como as mulheres e os homens estão em conflito permanente. E SOBRETUDO VEMOS AS MULHERES UMAS CONTRA AS OUTRAS A LUTAREM PELO AMOR DOS HOMENS...e aqui tem de se olhar e ver com olhos de ver... não se pode falar pelo homem e pôr-se a mulher na sua pele, mas falar de si mesma e sentir-se na pele de mulher. NÃO PELO QUE SENTE PELO HOMEM mas pelo que ela é enquanto mulher...
Esse é o erro comum das mulheres em geral: amam os homens ou projectam-se no ideal do homem porque NÃO SÃO NADA EM SI...SÃO O QUE O HOMEM QUIS QUE ELAS FOSSEM E ISTO EM TODOS OS DOMÍNIOS...e infelizmente elas pensam que são apenas isso e tratam de viver a “sua” vida só em função dos homens e para lhes agradar! Sacrificam tudo em função do Homem que as preencherá…que lhes colmatará os sonhos, pensam…os homens que lhes darão filhos, riqueza, sucesso, dinheiro…Os homens que darão sentido à sua vida porque a sua vida em si não tem nenhum sentido!
OLHEMOS BEM À NOSSA VOLTA E VEJAMOS SE NOS DAMOS MAIS IMPORTÂNCIA A NÓS MESMAS OU AO HOMEM QUE SE PROCURA PARA NOS "COMPLETAR"? Vão me dizer que é o espírito abnegado da mulher…ou é antes a forma como foi forçada a anular-se? O que nos mostram os filmes, os romances e as telenovelas senão a subjugação da mulher ao homem em nome de qualquer coisa como a família e o “amor”… ou hoje em dia que se chama paixão, desejo…tesão…
Olhar e ver a realidade sem medo não significa defender as mulheres ou acabar com os homens! Trata-se só de ver o que é que acontece quando a mulher não sabe dizer o que é porque se desconhece profundamente...porque não só foi anulada nessa sua natureza profunda, alienada de si mesma, como permanece dividida, fragmentada...a “mulher” comum é mais como um homem “de saias” como se diz ou pró-homem do que Mulher-mulher ela mesma.
Sim, a mulher em geral não se ama a si mesma...não se conhece na sua intimidade que não seja a sexual justamente em função do homem e mesmo assim mal…ou fala da sua maternidade forçada…Não sabe da sua Natureza integral e é por isso que a Deusa é a parte da mulher esquecida, a sua natureza intuitiva, selvagem, ligada aos ciclos da Terra e aos mistérios...
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”*
Depois, Só depois, de se conhecer a fundo, de conhecer o seu mistério e de se afirmar por si, a Mulher será verdadeiramente humana ou verdadeiramente livre; para isso ela tem de, através de um processo de consciencialização dessa sua divisão interior, iniciar uma caminhada para dentro de si e redescobri essa natureza intrínseca. Esse processo é necessário uma vez que a mulher foi desapossada do seu dom e subordinada, anulada da sua essência em quase todo o mundo patriarcal. Só depois, quando a mulher em for respeitada como a mãe e a amante, sem divisões sociais nem dentro de si...seremos todos humanos, brancos, pretos e amarelos, vermelhos...
O reflexo de tudo isto nos nossos dias é o que vemos na nossa “cultura” e por todo o lado…Olhemos com olhos de ver e vejamos o quão lamentável é as mulheres odiarem-se umas às outras – elas detestam-se, confrontam-se, irritam-se, invejam-se e lutam desesperadamente umas contra as outras...porque amam só os homens, os amantes, os maridos, os filhos...e todas as mulheres as outras são potenciais rivais. Foram assim treinadas como animais de estimação...farejam o dono e adoram-no...só falam de homens e esquecem-se de si mesmas, perdidas do seu ser essencial...
Claro, acham que eu sou uma radical…uma fanática da Mulher…
Sou o que quiserem, mas ninguém me tira a lucidez que me fere os olhos (e o coração) diante desta realidade do Ser Feminino traído e reduzido a uma imagem de plástico…
Rosaleonorpedro
* Citações de Clarice Lispector
Encontrado no Facebook no grupo aberto "Mulheres Fenomenais" http://http://www.facebook.com/home.php?#!/home.php?sk=group_131618376892771&ap=1
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