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A SENHORA DA LUZ CELESTIAL
“O brilho da Deusa do Sol preencheu o Universo
e todas as divindades festejaram alegremente.”
(Pergaminho japonês do séc VIII)
Na maioria das culturas e línguas modernas (com exceção do alemão), o Sol é considerado um arquétipo masculino.
No entanto, nem sempre foi assim. As religiões antigas de várias partes do mundo reverenciavam o Sol como uma Deusa doadora da vida.
Com o passar do tempo, a perseguição dos arquétipos divinos femininos e o predomínio das religiões e valores patriarcais trouxe uma nova hierarquia cósmica.
O Sol passou a ser adorado como o Pai Celeste, enquanto a Terra era a Mãe, fertilizada pelos seus raios e calor.
Somente os japoneses, escandinavos e alguns povos nativos (norte-americanos, esquimós e australianos) preservaram a memória ancestral dos poderes geradores e mantenedores da vida dos raios solares, como sendo atributos de uma deusa, e não de um deus.
Entre as deusas solares, sobressai-se Amaterasu, considerada a progenitora da família real japonesa e o símbolo da unidade cultural do povo.
As escrituras xintoístas dos primeiros séculos descrevem Amaterasu como a ancestral divina primordial, a senhora do brilho celeste e do calor solar, padroeira da agricultura e da tecelagem.
Às margens do rio Ise Wan, encontra-se um templo simples, de madeira, sem imagens, que guarda o sagrado espelho com oito braços da deusa e para onde milhares de peregrinos levam suas orações e oferendas.
Considerada a responsável pelo cultivo dos campos de arroz, pelos canais de irrigação, artes têxteis e preparo da comida, Amaterasu é reverenciada até hoje no nascer e no pôr-do-sol, nos altares dos templos e das casas, principalmente pelas mulheres mais idosas.
Em seu mito, Amaterasu é descrita como uma deusa radiante e bondosa, invejada pelo seu irmão Susanowo, o Deus do Tufão, que passou a desrespeitá-la e a destruir suas criações. Após agüentar a destruição das lavouras de arroz e a dessacralização dos seus templos, Amaterasu ficou tão magoada com a morte de algumas mulheres, violentadas pelo seu irmão, que se enclausurou em uma gruta, recusando-se a sair. Alarmados com o fenecimento da vegetação e o frio e a escuridão que se espalharam sobre a Terra, as outras divindades tentaram encontrar um meio para trazer a Deusa de volta. Oito mil deuses reuniram-se na frente da gruta fazendo muito barulho, enquanto Uzume, a deusa xamânica da alegria, fazia todos rirem com suas brincadeiras e os movimentos lascivos dos seu volumoso ventre nu.
Curiosa com o motivo da algazarra e das risadas, Amaterasu abriu os véus que cobriam a entrada da gruta e sua figura refletiu-se em um enorme espelho de cobre, ali colocado pelas divindades. Ao se deparar com a linda imagem no espelho, Amaterasu sentiu-se enfeitiçada pela sua própria beleza e permaneceu estática, em contemplação. Rapidamente, o Deus da Montanha fechou com rochas a entrada da gruta, enquanto deuses e mortais cantavam louvores ao esplendor de Amaterasu. Comovida, ela cedeu aos pedidos e deixou-se conduzir de volta ao seu palácio dourado. De lá, Amaterasu continua vigiando a Terra e suas lavouras e atende aos pedidos e orações, principalmente das mulheres que sofreram alguma violência da parte dos homens.
Refletindo sobre o significado oculto deste mito, podemos perceber o antagonismo entre as polaridades representadas por Amaterasu (ordem, dignidade, bondade) e Susanowo (rebelião, maldade, violência). O conflito entre o invejoso Deus do Tufão e a ordem celeste, pertencente à sua irmã, seria uma metáfora para o confronto entre duas tradições religiosas ou a descrição dos poderes destruidores da tempestade, prejudicando a abundância das colheitas.
Na visão feminista, as atitudes de desacato de Susanowo são vistas como demonstrações do ressentimento masculino que não aceita nem respeita a ordem e autoridade feminina, seja divina ou humana.
O afastamento da deusa e a decorrente aridez e escuridão sobre a Terra demonstram a importância vital do princípio feminino, que deve ser reconhecido, respeitado e honrado.
O mito de Amaterasu alerta os homens para nem ofender nem prejudicar as mulheres, enquanto que para elas o incentivo é para estabelecer e defender seus limites, evitando assim abusos e violências.
Para restabelecer a ordem natural e social, é vital que cesse a destruição da Natureza e a violência masculina contra as mulheres.
Conscientes do seu valor e da sua força, mulheres de todos os lugares e crenças deverão sair dos seus esconderijos e projetar sua luz e seu amor para apaziguar e iluminar a Terra.
http://www.imagick.org.br/apres/ArtigoTextos/TesourosMitologicos/Amaterasue.html
Um comentário:
Sinceramente, dá no saco essa dicotomia fantasiosa que vocês feministas dão à oposição masculino-feminino. A relação aí é de complementaridade, não de rivalidade. De onde tiraram que essa ilusória 'opressão cristã sobre a psiqué' foi imposta por valores masculinos? Não existem valores masculinos, existe uma vivência dos dois sexos, de forma e grau diferente, em todo credo religioso.
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