A psiquê de uma mulher pode ter chegado ao deserto em virtude da Ressonância, devido a crueldades passadas ou por não lhe ter sido permitida uma vida mais ampla a céu aberto.
Por isso, muitas vezes uma mulher tem a sensação de estar vivendo num vazio, onde talvez haja apenas um cacto com uma flor de um vermelho vivo, e em todas as direções, 500 quilômetros de nada.
No entanto, para aquela que se dispuser a andar 501 quilômetros, existe mais alguma coisa.
Uma casa pequena e admirável.
Uma velha.
Ela está à sua espera.
...
Algumas mulheres não querem estar no deserto psíquico.
Elas detestam a fragilidade, a escassez.
Não param de tentar fazer com que um carro enferrujado funcione para que possam descer aos solavancos pela estrada na direção de uma refulgente cidade que fantasiam na psiquê.
Decepcionam-se, porém, pois a exuberância e a vida selvagem não se encontram ali.
Elas estão no mundo do espírito, no mundo entre os mundos, Rio Abajo Rio, no rio por baixo do rio.
Não seja tola.
Não seja tola.
Volte, pare debaixo daquela única flor vermelha e siga em frente percorrendo aquele último e árduo quilómetro. Aproxime-se e bata à porta castigada pelas intempéries.
Suba até a caverna.
Atravesse engatinhando a janela de um sonho.
Peneire o deserto e veja o que encontra.
Peneire o deserto e veja o que encontra.
Essa é a única tarefa que temos de cumprir.
Está querendo ajuda psicanalítica?
Vá recolher ossos.
in Mulheres que Correm com os Lobos
clarissa pinkola estés
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