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"O corpo feminino é um coletivo.
Multiplamente enredado em histórias, memórias, nuâncias, sombras e luzes, contornos e vãos.
O corpo de gerações de avós-mães e filhas.
Material e imaterial.
Húmido e flexível.
Misterioso para quem não o percebe.
Revelador pra quem aprofunda, mesmo que na tangência de suas superfícies.
O corpo da terra-mãe, o corpo da aldeia, da ciclicidade das luas e fluxos dos rios, de sangue e leite.
O Corpo que contempla o do outro.
Corpo-matriz do mundo.
Esta é a mulher, ao menos uma parte dela.
A semelhança que une, que ultrapassa eras e séculos, gerações e culturas.
Um algo que permanece sendo: vulva, vagina, útero, óvulos, seios, leite, clitóris, sangue, placenta (...).
O corpo-mulher compartilhado, reflexo de paradigmas mutáveis, porém perpetuados, o do patriarcado: da repressão, castração e contenção, controlado, cerceado, lapidado, modelado, escravizado, agredido nos mais diversos níveis de existência.
O corpo que muitas não desejam mais vestir.
E também daquelas que assim o permitem.
E sua outra parte, que mora nas diferenças, nas origens das descendências étnicas, culturais e sócio-econômicas.
Na reatividade emocional, na complexidade do ser único e infinito de possibilidades, na religiosidade e experiências vividas e aprendidas.
Nos pares que fazem e dos quais derivam.
Esta é a mulher: corpo-memorial, corpo-reflexo, corpo-resistência, corpo-político e espiritual.
Ainda nutriz, ainda mutável e flexível.
De formas que se arredondam e cedem a gravidade.
Que morre e renasce por meses e meses, em anos e anos.
Linhagem umbilical da continuidade das espécies.
Um corpo onde...
uma mulher são muitas e muitas mulheres são uma."
Fonte:http://shaktilalla.blogspot.com/
Imagem:obra do artista Renso Castaneda
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